Todos sabemos que os paraenses vão ao Ceará para banhos de mar e para a compra de panos e artefatos conexos. Alguns vão também visitar parentes, já que, como também sabemos, as relações familiares entre estes dois estados são antigas e valiosas. Eu, por mim, vou porque tenho amigos. Até gosto de banhos de mar, ainda que não suporte sol forte e praia cheia de gente, mas odeio fazer compras, sobretudo de panos. Vou ao Ceará, como disse, porque tenho amigos. Marina, minha esposa, assinalou-me isso enquanto estávamos almoçando, com amigos, no “Bar do Ciço”. Disse-me que eu tinha ali o que não tenho mais em Belém: o bater papo descompromissado e descontraído, sem precisar chegar a algum lugar ou a alguma conclusão.
É, de fato, sem desejar generalizar e falando apenas de minha experiência, as possibilidades de diálogo que venho tendo, em Belém, há muitos anos, são excessivamente limitadas. De um lado, espécimes de uma elite rentista e inculta, sempre preconceituosos e ignorantes, obscurecidos por uma burrice ao rés-do-chão. De outro, ramos sobre ramos de políticos em formação que só discutem a política do voto, o dia-a-dia, e que se entredevoram como lobisomens nostálgicos da lua cheia na mesma medida em que eu próprio, muito ridiculamente, sou nostálgico de uma esquerda de compromissos. De um terceiro lado, uma academia triglicerídica, lesta, que se aboleta em leituras rasas com a energia de um Sargento Garcia e ainda por cima se acha culta. De um quarto lado, neo-new-intelectuais que julgam que a inteligência está em ser bem maledicente, jocosos e em fazer os outros rirem com os mesmos pós-neo-new-chavões de sempre. E sem esquecer dos que sempre querem relatar seu “novo projeto”, das imitações e, de novo, da compulsiva maledicência.
Em Fortaleza, ao contrário, tenho alguns bons amigos com quem se pode discutir literatura sem pretensão, política sem cinismo e rir sem ser do ridículo. Com quem se pode não-saber, deixar-ser, concordar.
Por vezes acho que a competição em Belém anda dura...
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