Cumulards, assim são chamados os sujeitos que, por uma peculiar condição legal francesa, acumulam cargos públicos. Ser eleito para uma função pública não obriga o sujeito a renunciar a outra. De certa maneira, se o sujeito não é um cumulard não é importante. Assim, dos 577 deputados à Assembléia Nacional francesa, 259 deles são, ao mesmo tempo, prefeitos. Desses, 21 ainda acumulam o cargo de presidentes de Conselhos Gerais, departamentais e 8 são, também, presidentes de Conselhos Regionais.
Dos 331 senadores franceses, 121 são também, ao mesmo tempo, prefeitos, 32 presidentes de Conselhos Gerais e 3 são presidentes de Conselhos Regionais. Quanto mais importante a figura, mais mandatos terá, todos cumulativos. Uma bizarrice, do nosso ponto de vista.
Assim, por exemplo, Bernard Accoyer, da UMP, partido de centro-direita, é deputado nacional pelo departamento da Alta Savóia, prefeito de Annecy, primeiro vice-presidente da aglomeração urbana de Annecy, presidente da Assembléia Nacional e membro do comitê político central da UMP. Gerard Collomb, do Partido Socialista, é um clássico conhecido por todos: é senador pelo Rhône, prefeito de Lyon, presidente da aglomeração urbana da grande Lyon, presidente da Associação das Aglomerações urbanas da França e membro do comitê político central do PS.
Fora das funções de públicas essa prática se repete. Um certo Gerard Mestrallet é presidente e, ao mesmo tempo, diretor-geral da poderosa empresa GDF Suez. Não satisfeito, também é administrador ou PDG de outras nove empresas, privadas, de capital misto, francesas ou não, etc. Outro sujeito, Louis Schweitzer, é presidente da Renault. Mas não só: é membro do comitê administrador da empresa pública EDF, do mega-banco BNP-Paribas, da empresa privada L’Oréal, da Philips na Holanda, da Allianz, na Alemanha, presidente da Fundação Nacional para as Ciências Políticas, membro do comitê de administração do Museu do Louvre e do Museu do Quai Branly e, para terminar, gestor da ONG Alta Autoridade na Luta contra as Discriminações e pela Igualdade. Tudo isso e uma só pessoa.
Sim, passemos à pergunta que não quer calar: quanto se ganha para ser tudo isso? Bom, nos cargos públicos o salário só é cumulativo até um certo patamar, mas o que sobra pode ser “revertido” para outros eleitos, à sua escolha, mesmo que seja seu parente. Esse teto é de 9.730 euros por mês. Um senador ganha 7.008 euros, um prefeito de comuna de menos de 100 mil habitantes ganha 5.441 euros, o mesmo que o presidente de aglomeração urbana. Um conselheiro regional ganha entre 1.501 e 2.627, conforme a população em questão.
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