Rupert Murdoch, o magnata da imprensa, publicou ontem, no The Wall Street Journal (desde o ano retrasado também seu) um artigo cujo principal mote se encontra na seguinte frase: “Alguns jornais não conseguirão se adaptar a realidade digital contemporânea e irão acabar. A culpa deste processo não é da tecnologia”.
Via Trezentos:
O magnata destaca que a prosperidade dos jornais deve-se, sobretudo, a credibilidade e a capacidade que a mídia tem de oferecer notícias que são importantes para os leitores. Segundo ele, as novas tecnologia de informação e comunicação permitem ampliar o papel da imprensa e chegar a bilhões de pessoas que não tinham acesso à informação.
Murdoch aponta três elementos que serão fundamentais para garantir a sobrevivência dos jornais:
1- as empresas de mídia precisam dar às pessoas as notícias que eles querem. De acordo com ele, não basta “uma parede repleta de prêmios e um circulação em declínio”. Murdoch frisa ainda que os jornais precisam investir em novos meios de distribuição e a mobilidade é palavra-chave deste processo pois “os consumidores de notícias não querem estar presos em suas casas ou escritórios para obterem notícias favoritas”.
2- o bom jornalismo não pode ser feito de graça. “Os consumidores precisam pagar pelas notícias oferecidas na Internet. Os críticos dizem que as pessoas não vão pagar, mas os nossos leitores são inteligentes o suficiente para saber que nada é de graça”, defende o magnata.
Para ele, o modelo de negócio baseado em publicidade on-line não pode sustentar os jornais mesmo que ocorra um aumento dos anunciantes. Murdoch alfineta indiretamente o Google quando diz que “eles estão se alimentando dos esforços e suor dos outros” e diz se sentir “roubado” quando alguns veículos reescrevem as matérias publicadas em seus jornais, sem ao menos dar crédito ao autor da matéria. Por fim, diz estar aberto para diferentes modelos de remuneração, mas nada sairá de graça.
3- Governo deve “livrar” jornais de regulamentações e não deve financiar a mídia. Sobre a regulamentação, Murdoch diz que as regras são obsoletas, quando impede, por exemplo, as pessoas possuirem uma estação de televisão e um jornal. “Atualmente, a sua concorrência não é necessariamente a estação de TV na mesma cidade.Pode ser um site do outro lado do mundo, ou mesmo um ícone no telefone celular.
Já sobre o investimento público em jornais é classificado como “assustador” para quem se preocupa com a liberdade de expressão, uma vez que os jornais devem ser um contrapeso aos governos. “Os lucros garantem a independência dos jornais”, finaliza.
O magnata acerta quando diz que as “empresas de mídia precisam dar às pessoas as notícias que eles querem” e quando destaca a necessidade de convergência e multimidialidade das notícias.
Porém, cobrar por acesso ao conteúdo no ciberespaço limita a difusão e acesso do conhecimento. Os leitores são inteligentes ao ponto de descobrirem mecanismos para ler os jornais do Murdoch de outra forma. Por outro lado, a decisão de cobrar pelas notícias, certamente irá diminuir o número de leitores e, principalmente, a influência dos seus jornais no agendamento da agenda pública.
Por fim, sobre o financiamento público de jornais, os governos devem investir em experiências públicas e/ou estatais, visando a pluralidade de discursos, o regionalismo e as culturas locais e não na lógica mercadológica das empresas de comunicação. Já em relação ao “deixar fazer, deixar passar” é discurso velho de empresário que ninguém se engana.
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