Isidoro de Sevilha aceitou compartilhar o lume com o forasteiro e chegou mesmo a repartir sua tinta, para que o forasteiro tomasse as suas notas a respeito do livro que lia. Porfim, concedeu em partilhar o seu próprio livro, suas próprias notas e até mesmo a sua escrita.
E depois de tudo partilhar, percebeu que perdera muito: o lume, a tinta e até as suas próprias idéias. Sentiu-se incrivelmente solitário e percebeu que restara só, na caverna. Percebeu que restara abandonado, no meio do caminho. E foi então que decidiu substituir a idéia platônica do rei-filósofo pela idéia socrática do rei-sábio.
A qual não é senão o protótipo político de um modelo cínico-estóico.
Enquanto o rei-filósofo governaria a partir do aprendizado resultante de uma longa e dura experiência de contemplação das Idéias, o rei-sábio governaria pelo exemplo de suas próprias virtudes.
De um lado, estaria o governo regido pela ética do governante. O rex a recte agendo. De outro, o governo regido pela sensibilidade do caminho.
Não é sem ironia que o rei-sábio é chamado de sábio.
Porém, Isidoro de Sevilha nunca mais perceberia esse fato. Abandonado no meio do caminho, ele escolheu ignorar. Escolheu de sua própria ética. Fê-lo de sua própria ética. Tornou-se um sábio para si mesmo. Tal como Epicteto denominou Sócrates: anthropon arché – o mestre do governo dos homens.
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