Nessa igreja, ponto final da peregrinação de tantos e lugar particularmente abstrato, meu bisavô materno, Marcelino Esperante-Antelo, foi coroinha e caminhou para o sacerdócio. Porém, desmotivou-lhe alguma razão secreta e, juntamente com o irmão, Gabriel, imigrou para Belém, no final do século XIX, para fugir à grande fome que assolava a Galízia. Por aqui era, então, a “Era da Borracha”, com suas promessas de riqueza... Restaram em Santiago, como também em Vigo e na minúscula aldeia de Esperantes, suas catorze irmãs, todas chamadas Maria: Maria de la Concepción , de los Augúrios, de la Natividad , del Amparo, de la Ressurección , da la Encarnación , del Sangre del Cristo Muerto, de la Soledad... e por aí afora. A avó deles era holandesa e fugiu de Leyden para a Galízia, também, por causa de outra grande fome, a de 1840, causada pela quase submersão do país inteiro. Sua gente era católica do Brabante e procurara a Galízia por motivos religiosos que ainda hoje inspiram. Minha tia-bisavó, Augúrios, descreveu a grande-fome da Galízia de 1892, numa carta escrita a minha avó, como um tempo em que só se comia batatas com cascas de árvore. Quando meu bisavô chegou a Belém, casou-se com uma moça cuja família também havia fugido de outra grande fome, a de 1882, no Rio Grande do Norte – um lugar onde já nem havia saúvas para todos que as quisessem comer. Uma escolha motivada por uma inspiração mística que foi a mesma de milhares de nordestinos: Belém, cidade de águas e rica... Estranhos caminhos, todos esses, mesmo porque sempre penso na catedral de Santiago com um lugar de chegada, e nunca de partida.
Como a Espanha foi ontem campeã do mundo, derrotando a pobre Holanda, inicio evocando-a esta série.
Comentários
Fui 3 vezes para Santiago, e me sinto fazendo parte da história andando por lá.
Adoro a Espanha, e Santiago em particular.
abraços
Marcelo Marques
Estou em Belém, mas quisera estar lá. Essa foto tem alguns anos.
Vamos marcar um dia desses, para um vinho, quem sabe, e botar o papo em dia. Abraço grande.