Eleições estranhas, estas. Penso que nunca vi um processo mais prejudicado pela falta de idéias e de debate.
Em parte porque a aura do presidente Lula (e a aprovação massiva de seu governo) produziram uma candidatura com expressão mais técnica que política, o que soa estranho, no campo da esquerda.
Em parte, porque a estratégia eleitoral adotada pelo campo da direita foi centrada em estereótipos e promessas vazias.
Não houve debate.
O projeto Dilma está centrado na expansão do atual ciclo de desenvolvimento, sem maior qualificação política da questão. O projeto Serra, por sua vez, está centrado em promessas estapafúrdias, acompanhadas por um ar de que “é fácil fazer” e por um tom denuncista, um espírito golpista e todos aqueles velhos medos conservadores.
O projeto Dilma está voltado para um público cuja motivação de voto se resume a uma visão desqualificada de “continuidade” e o projeto Serra está voltado para um público sem discernimento nenhum, aparvalhado em meio ao denuncismo mais hipócrita e ao netunismo de promessas como “asfaltar a Transamazônica” e “mínimo de 600 reais”.
Não há política em nenhum dos casos. Não houve discussão de projeto, nem projetos e nem coerência alguma.
Além disso, note-se o clima farsesco das eleições. Preciso dizê-lo: farsa no sentido de produzir uma sensação de pós-Lula por de Dilma e farsa na ausência completa de ponderabilidade e de decência na campanha Serra.
Serra e os seus anabolizaram os escândalos que puderam.
Se casos como o da possível e provável corrupção no gabinete Erenice Guerra vieram à tona (e precisam vir à tona), associar isso, diretamente, à candidatura Dilma, beira o cinismo. Não que não deva ser investigado, mas daí a produzir manchetes como “Em queda, Dilma pede PT nas ruas” (O Globo), “Dilma tenta frear perda de voto com apelo à militância” (Folha), ou “PT mobiliza militância contra queda de Dilma” (Estadão)”.
Ora, não há nenhum fundamento para denúncias como essas: a política petista tem garantido um clima de estabilidade institucional que o país nunca antes experimentara. Independência da Polícia Federal, independência do Banco Central, independência do sistema partidário e total liberdade de imprensa.
No cenário atual, garantido pelo PT, a oposição pode dizer o que bem entender. Aliás, tem dito os insultos, os desaforos e as mentiras que bem entende a respeito de Lula, do PT e dos setores progressistas da sociedade.
Não há razão alguma para falar em censura e em golpismo – por parte da esquerda democrática, bem entendido. Mesmo porque o presidente Lula, sempre é bom lembrar, recusou todos os artifícios políticos que lhe foram oferecidos para alterar a Constituição e vir a concorrer a um terceiro mandato.
Comentários
Todos os candidatos que não fizeram o seu trabalho de base, colaram na imagem do Lula como se ele fosse governar ou legislar.
A campanha da Ana Julia foi inteira falando que é amiga do presidente, foi ele pedindo votos pessoalmente pra ela, chegou ao cúmulo de receber um telefonema com uma gravação do Lula pedindo voto a Ana Júlia e, o pior, o próprio presidente ameaçar a população falando em seu discurso no comicio de Belém (que depois foi amplamente divulgados nos programas de rádio e tv) que temos que eleger a Ana Júlia, se não o Pará vai ficar fora da prioridade do Brasil da Dilma.
Convenhamos, Prof. Fábio, a falta de debate veio do próprio PT, o partido que defendo e voto desde 1989.
Apesar de eu não acreditar em pesquisas, mas está aí o resultado de toda essa falta de debate político e dessa mentira construída pelos acessores do PT-Pará (que agora é até azul) com essa pesquisa da UFPA: http://bilhetim.blogspot.com/, que aponta a derrota no primeiro turno.
Espero que a mesma esteja errada e consigamos ir ao segundo turno, montando uma nova campanha com a cara do PT e não desse grupo majoritário e de almofadinhas que temos no Pará.