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O que precisa mudar na campanha

Naturalmente que muitos perguntaram o que achei da campanha do PT no primeiro turno. Tenho acompanhado a guerra interna, eterna, e não gostaria de emitir opinião que dificultasse a acomodação das posições, necessária ao esforço comum do momento que inicia. Porém, opiniões existem para colaborar com a síntese. E neste momento, de início do esforço e de ponderação, são necessárias. Portanto, vamos lá. Não se trata de polemizar gratuitamente, mas de ajudar na compreensão do momento:
  1. A estratégia de comunicação usada no primeiro turno estava baseada num movimento de positivação da imagem da governadora. Diminuir a rejeição mediante figuração límpida e feminina da sua imagem, associação aos nomes de Dilma e Lula e anulação de toda feição polemista. Esse movimento foi empreendido para baixar a rejeição de Ana Júlia e surtiu o efeito esperado. Porém ele não é suficiente para levar a governadora à reeleição. Não se trata de ser uma má estratégia. Mas se trata de ter sido uma estratégia insuficiente.
  2. O problema desse tipo de campanha é do mesmo gênero enfrentado pela campanha de Dilma: são campanhas que levam à despolitização e à ausência de debate. Bonitinhas, mas nulas. Como os adversários, nacional e estadual, não tinham nada a perder, nem mesmo pruridos, partiram para um ataque a nível pessoal, que ganhou dimensão diante da ausência de politização.
  3. O correto teria sido associar a positivação da imagem da candidata a uma seqüência de VTs, em tom muito firme, politizando a disputa. Esses VTs deveriam ter sido veiculados nas inserções. A base deles seria a disputa direta com o PSDB. Ao final da campanha isso até foi ensaiado, mas de maneira tímida.
  4. No caso do tom dos ataques dos adversários subir, teria sido necessário fazer inserções desqualificando esses ataques e desconstruindo a imagem do ofensor.
  5. Ora, nada disso foi feito. Ao contrário, a campanha deixou de responder aos ataques, às mentiras e às ciladas impostas. Só na última semana parece ter acordado para isso. E como bem sabe a sabedoria popular, quem cala admite... Além disso, não responder e não revidar tem um peso especial na cultura política local: transmite fraqueza, falência, morbidez.
  6. Outra falha foi ter acreditado nessa história de que, para se eleger e reeleger, é necessário ser menos petista do que se é. Explico: trata-se de uma tese em vigor para certos marqueteiros, segundo a qual o PT tem, naturalmente, de 25 a 30% dos votos da sociedade e precisa guinar ao centro para atingir públicos mais amplos e menos politizados. Foi acreditando nisso que Dilma foi para o segundo turno e deixou de vencer no primeiro. Já o disse aqui. Marina tomou seu lugar ao fazer uma campanha mais consistente, politicamente.
  7. No Pará, me parece, o caso foi ainda mais grave, porque foi acreditando nessa bobagem que a campanha se pintou de azul e que a imagem de Ana Júlia ficou mais para madame que para a lutadora que é.
  8. A opção de apanhar calada, qual mulher de malandro, é ruim. É preciso se defender e, na hora certa, atacar. Campanha é luta, não campeonato de fleuma.
  9. Porfim, repito: é preciso politizar a campanha. Tem um bolsão de eleitores medianos que estão interessados em bem mais do que imagens bonitas. Eles desejam coerência. Nesse sentido, ainda repito: é preciso trazer o PT para a campanha. É preciso fazer uma campanha petista.

Comentários

Anonymous disse…
Fábio,
Sabemos que esses erros são recorrentes principalmente nas campanhas petistas do Pará. Os marketeiros não tem tempo de evoluir, logo chega um equipe de fora pronta, montada com estratégias fora da realidades, como se vencer uma eleição fosse fazer uma receita de bolo.

Eu acho é pouco e mt bem feito. Tá tudo errado no reino de Ana Júlia.

VE.
Anonymous disse…
Concordo principalmente com o ítem 1, que é o erro máximo dos 8 anos dos petistas do Pará, como se o'colar no lula fosse a salvação da Ana Júlia'. Desde a eleição para prefeita de Belém, Ana aceitou esse tipo de estratégia arcaica. As pessoas fazem chacota até hoje, do fato de ser 'amiga do Lula'. Esses apelos não colam mais, o eleitor amadureceu, nem q seja 10%, mas o perfil mudou.

Outra questão é que ainda não tiveram a chance de aprender na escola do Chico da Vangarda. Lição número 1: quem não bate, apanha.

Todas as campanhas petistas deveriam ter um material de análise (avaliação da campanha, das estratégias adotadas) esse material não existe dentro do PT, que no Pará sequer tem cultura de fazer relatoria. E se tivesse, seria impossivel de acessar.

O PT é isso, reproduz a idéia que o debate não existe, nem internamente, muito menos externamente, com os eleitores.
É um partido que precisa de reformas urgentes. VE.
Anonymous disse…
Professor, vi várias vezes, como em Redenção, a Ana Júlia entrar em senadinhos, nos bares, os caras tomando cerveja, taco de bilhar a mão, e ela iniciar um debate político de comparação entre o governo dela, os acertos, os erros e seus compromissos, demarcando com os tucanos. Olho no olho, os caras perguntando, alguns batendo e ela encarando as porradas na argumentação, matando a sede na saliva, como diria o Cazuza. Ao final, ela sempre consegue criar uma simpatia incrível sobretudo entre os homens. E isso depois de ela ter enfrentado um roteiro que começou em Parauapebas, Eldorado e Marabá. Vi poucos políticos com tanta disposição para conversar com o povo. É essa Ana que a gente não viu na TV e fez falta. Mas tá em tempo de mostrá-la.

Edir Gaya
Anonymous disse…
Fábio,

bom dia


Ana cresceu muito na última semana e a tal ponto que está no segundo turno. E vai crescer ainda mais nos próximos dias. TV e rádio serão decisivos, na linha da comparação dos governos e também, dos modelos de desenvolvimento pensados e postos em prática.

E minha candidata, a candidata do PT é uma mulher de carne, osso, sentimentos e projeto coletivo de governo.Que tem garra, emoção,razão e sensibilidade. Isso,a tv e o rádio precisam mostrar. Comparando os governos. E mostrando a Ana humana, que sua, que batalha, que luta diariamente contra o preconceito e também para que o povo do Pará tenha direito a emprego, renda, trabalho, saúde, segurança, educação e inclusão.

A militância está a postos, sempre. Pra continuar lutando e vencer de novo.

Grande abraço,
Vera Paoloni
Ao Anônimo da 22:02,
A situação ideal, politicamente falando, seria que a ação dos políticos tivesse uma estratégia de marketing de longo curso, pautada pela coerência e pela responsabilidade. Infelizmente, fora do período eleitoral, vê-se a comunicação meramente como assessoria de imprensa, ou seja, como informação. E, no período eleitoral, como a base de tudo, a ponta de lança que vai eleger o sujeito ou não. Esse lapso é problemático. Ganham os políticos que pensarem comunicação como ação de diálogo público, politizado e contínuo, e não como conhecimento simplesmente técnico e eventual. Isso porque, dessa maneira, produzem uma dinâmica continua, formadora de públicos e, obviamente, de eleitores.
Ao Anônimo das 22:10,
É, concordo. Dispensar Chico Cavalcante dessa campanha foi um erro grave. Acho que o correto teria sido pedir a ele para fazer todas as inserções. Deixar o programa para a Link. É uma lei universal: quem não bate, apanha.
Caríssimo Edyr,
Tive oportunidade de acompanhar a Ana Júlia em infinitos périplos e sei muito bem o que você está dizendo. Ana Júlia defende posições, idéias, debate, fala de igual para igual. Faltou isso na campanha: verdade.
Verinha,
Vc disse tudo: precisamos e queremos ver essa Ana humana, com sentimentos e projeto coletivo de governo, e não uma figura pasteurizada.
Abraço muito grande.
Anonymous disse…
"apanhar que nem mulher de malandro" ... Ah, se se essa frase estivesse inserida em um texto de um tucano, com certeza daria denúncia ao ministério público, ao bispo, à ONU, por desrespeito à condição feminina, preconceito, humilhação pública, etc, etc...
Anonymous disse…
Que é isso, Fábio? Reclamar da política de comunicação se abstendo de ter sido o secretário de comunicação do governo.

Você também errou, ou não?
Anonymous disse…
Caro Fábio, precisa mudar a empresa que está fazendo a campanha, a Link. Não que não sejam profissionais, ou bons, nada disso. Provavelmente são muitos bons. Mas é muito difícil uma empresa de fora chegar de repente e entender as filigranas da política e da cultura local. Como você diz, não revidar os ataques tem um peso especial na cultura daqui.
Ao Anônimo das 12:50,
Estou fazendo uma crítica - ponderada, equilibrada e construtiva - à estratégia de comunicação da campanha. Em relação à política de comunicação do governo, que é outra coisa, já comentei bastante, nos meus blogs, em artigos e em palestras. Como secretário de comunicação cometi erros e tive acertos. Além disso, houve erros de política que tiveram consequências graves e que resultaram em dificuldades no campo da comunicação. E, também, erros de planejamento, de política de pagamentos e de política de acordos que também tiveram consequências graves e foram interpretados como problemas na comunicação. São, portanto, coisas diferentes. Nunca houve problemas de discutir isso. Aliás, sempre puxei essa discussão, dentro do PT e também publicamente. Penso que tenho obrigação pública de fazer essa discussão. É uma batalha que antecede minha participação no governo e que se prolonga para muito além do governo. E, obviamente, procuro fazê-la com todo discernimento e honestidade.
Anonymous disse…
Caro Fábio,
De farto o PT não conseguiu construir uma campanha eleitoral com estratégias de Marketing e de Comunicação que fossem capazes de ampliar as possibilidades de reeleição da Ana Julia, que dessem sustentação as suas propostas e ao debate político denso e qualificado. Podemos citar também a atuação da PIG local com seus ataques ao Governo gerando um clima de instabilidade, ataques recorrentes do cancelamento do “contrato” entre a Funtelpa e os ORM’s, e da estratégia de Jader (ficha suja Sim) de vender caro o seu apoio. São todos elementos que contribuíram para o atual cenário eleitoral – Jatene a 1,8% dos votos para ser eleito e a Ana Julia dependendo do apoio do Jader (ficha suja Sim) para continuar respirando.
O fato principal é que quase 65% dos eleitores do Pará disseram não ao governo da Ana Julia o que não se explica apenas pela atuação dos Marqueteiros ou da PIG local, mas da atuação do próprio governo. A população não se sente insatisfeita apenas com a ausência de debate, mas a ausência de políticas públicas, ao longo desses 4 anos, que implicassem em mudanças significativas para as suas vidas. Altos índices de violência, de analfabetismo, de desemprego, de informalidade, um dos piores índices de educação do país, saúde precária, transporte precário, energia cara, a 2° cesta básica mais cara do país, déficit habitacional e especulação imobiliária, e uma renda familiar que fere os direitos humanos.
Sei da sua concepção de Política de Longo Prazo, concordo com ela em parte, não é possível mudar problemas tão enraizados como os que o nosso estado enfrenta apenas em um mandato. Mas são necessários avanços, para se reeleger devem ser avanços perceptíveis. E não adianta comparar com o Governo Tucano, é um péssimo parâmetro. Esse comparativo deve ser estabelecido com as possibilidades reais que o governo Petista dispunha para fazer e não fez. Isso é um problema político e não de marketing.
Projeto de poder que não interfere na realidade concreta da população, que não provoquem rupturas nas estruturas hegemônicas só interessa a quem vai continuar como grupo hegemônico. Por fim o governo Ana Julia vai ficar conhecido como aquele que permitiu o retorno dos tucanos e isso é lastimável para o estado.
Anonymous disse…
A campanha fez escolhas erradas e continua fazendo. Trazer uma empresa de fora e excluir a Vanguarda (Chico Cavalcante)foi uma burrada sem tamanho. Colocar Marcílio e Puti na coordenação é outra burrada absoluta, porque afasta o PMDB. Em síntese, tudo foi feito para não reeleger Ana Júlia. É uma grande pena!
Anonymous disse…
Em uma palavra, o que estava errado na campanha do PT? Tudo! A começar por importar uma empresa de fora, que ignora o know-how de profissionais locais, ao contrário do que fez Jatene, que trabalhou EXCLUSIVAMENTE com conhecedores do que é uma campanha aqui e como ela se desenvolve. O PT não ganhou eleições antes? Não ganhou em 2006? Não ganhou a prefeitura da capital duas vezes? Não levou uma ilustre desconhecida ao segundo turno em 2002? Então cadê esse PT que SABE FAZER CAMPANHA? Onde estão esses profissionais que acumularam conhecimento? Por que não estão na campanha de Ana Júlia? Não foram aproveitados pela Link porque essa empresa caiu de paraquedas aqui achando que sabia mais e não está fazendo não uma disputa eleitoral, onde você junta todos para ganhar, mas uma disputa de MERCADO, por isso não aproveitou os melhores daqui. Dizer que a comunicação do governo não era boa e usar isso para justificar a campanha mediocre que está sendo feita é pura ignorância. Eleição não se ganha de véspera. Eleição se ganha ou se perde NA CAMPANHA.

Carlos Paraense, petista e um dos que vaiaram a Link na plenária realizada no Comitê Central da campanha. Para mim, esses caras deveriam ser demitidos por justa causa só pela burrada de enterrar o Paulo Rocha.

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