Reproduzo texto do deputado Carlos Bordalo, dando prosseguimento ao debate iniciado com meu artigo "O significado político da derrota de Ana Júlia" e continuado em outros artigos. O artigo foi, originalmente, publicado em seu blog no dia 8/11.
E o povo venceu ou não venceu?
Carlos Bordalo
Outro debate importante sobre a política paraense pautado neste domingo, dessa vez no Diário do Pará, foi o artigo "E aí? A força do povo não venceu?", do sociólogo Luís Antônio Muniz.
Nele, Muniz questiona o slogan "A força do povo vai vencer", usada no segundo turno pela nossa campanha. Parafraseando o professor Fábio Castro, ele diz que houve um erro de "vanguardismo" (se tomar como representante de uma coletividade sem mandato para tal) ao se usar tal consigna, questionando uma suposta rejeição de 40% do eleitorado à governadora Ana Júlia, se não eram "povo os "quase um milhão de pessoas que votaram no adversário" e exigindo um respeito pela "óbvia e majoritária parcela do povo que votou em Jatene". Após declarar que tal erro se deveu à "capacidade de raciocinar" dos "marqueteiros", ele propõe: "Não foi o povo que venceu?"
De minha parte, creio que não.
Uma coisa é saber que só existe representação com mandato para tal e que o resultado das urnas, neste caso, deve ser respeitado, pois expressa uma legalidade democrática, mas estamos falando aqui de interesses imediatos e históricos.
Como falar que o povo, conjunto das classes subalternizadas pelo Capital, venceu se a plataforma que governará o Pará tem como eixos o Estado Mínimo (englobando serviços públicos como saúde, educação, assistência e segurança), se acredita piamente na autoregulação dos mercados (que sempre produziu desemprego e pobreza), se tem como filosofia o corte de investimentos e o arrocho salarial? Esses não são interesses da maioria do povo, mas de quem lucra com a terceirização dos serviços públicos, com um Estado que não "gasta"para poder melhor pagar juros exorbitantes para seus credores privados e para quem gira seu negócio para onde avdém lucro, sem se importar com toda a cadeia humana e social que dele depende.
E essa História nós já conhecemos: termina com mobilidade social do "povo" rumo à pobreza, com aumento do desemprego do "povo", do "povo" com salário de fome, do "povo" com acesso restrito aos bens culturais, etc.
Não estou, com isso, questionando a soberania popular, sei que não existe representação automática e mecânica de classes e grupos sociais, mas sim grupos que se remetem a estes em busca de representá-los a partir de filosofias políticas. Por isso, não foi o "povo" que venceu, pois a vitória foi de um condomínio político que se propõe a representar as elites, mas que precisa do "povo" porque seu nicho social é extremamente minoritário.
Chico Buarque e Ferreira Gullar são dois velhos camaradas sim, mas o primeiro considerou que a democracia formal exige democracia material. O segundo, contentou-se com a liberdade individual de poder falar, escrever, curtir, viajar, comer o que bem quer para si mesmo.
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