Tive a honra de participar, dias atrás, do júri do Amazônia.Doc 2010. É a segunda edição do festival e, nessa condição, há tudo a inventar. Como, além do júri, também compus uma mesa – no Seminário Pan-Amazônico de Cinema, sobre a relação entre ética e cinema – pude participar de maneira mais efetiva, da discussão a respeito dos fundamentos, das motivações e dos compromissos de um festival como esse. Algumas notas a respeito:
1. O cinema, por alguma razão, mais que qualquer outra forma de expressão artística e documental, tem capacidade de traduzir os processos do nosso tempo. Mas há, para isso, uma condição: ser contemporâneo de algo, ou seja, ter alguma contemporaneidade, alguma coisa que lembre uma contemporaneidade, qualquer coisa que lhe crie um referencial de paralelismo.
2. O cinema só se efetiva quando se propõe como contemporaneidade. Se se quiser, isso significa identidade, mas não uma identidade da qual já se sabe, e sim uma identidade em construção, uma sugestão hesitante de identidade. O cinema é uma narrativa marcada por paralelos imperfeitos.
3. A existência de qualquer coisa da qual se queira chamar “cinema amazônico” (ou suas possíveis variáveis: “paraense”, “pan-amazônico”, “belemense”, etc) depende menos da materialidade que de se ter, efetivamente, uma produção audio-visual do que da materialidade de se ter o que dizer.
4. A contemporaneidade do cinema, ou seu paralelo imperfeito, está nesse ter-se o que dizer. Não se trata de contar histórias e nem de ter certezas. Trata-se de ter um padrão para as próprias dúvidas. Trata-se, a fundo, de se ter aonde ir.
5. Daí a importância de um festival: ver filmes conjuntamente é mais importante que ver filmes sozinho. Conquanto não se fale apenas bobagens. Conquanto se embaralhe um pouco das cartas que estão em jogo.
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