Pular para o conteúdo principal

Tentando entender o "blocão" do PMDB


A notícia sobre a formação do “blocão”, na Câmara Federal, com 202 deputados, reunindo PMDB, PR, o PP, o PTB e PSC, soou a muitos como mais uma manifestação da lenda do escorpião, aquela, vocês sabem, cuja moral é a noção de que não dá para confiar no escorpião, porque é da natureza dele a traição.
O PT ficou, de fato espantado, surpreso, e recebeu a notícia da formação do blocão como quem revalida a moral do escorpião: não dá para confiar no PMDB.
Quando vi a notícia também me surpreendi. Penso que a atitude do PMDB é um despropósito politico, um erro do próprio PMDB. Um erro estratégico e que o que o motiva só pode ser a pressão dos cacidados do partido por mais cargos na máquina governamental.
Um partido que acaba de ganhar a vice-presidência não precisa dar mostras de força. Michel Temer e seu partido poderiam ter uma interlocução estreita com a presidente eleita – e, ainda, acumular muito poder no executivo, somando vários ministérios e órgãos.
No entanto, não passou desapercebido, a ninguém, o fato de que Temer estava reunido com Eduardo Dutra, o presidente do PT, no exato momento em que o PMDB fechava o blocão na Câmara e que não informou Dutra sobre isso, deixando que o petista soubesse do fato pela imprensa, horas depois.
O que explica o PMDB ter optado por uma tal mostra de dentes logo num momento de diálogo e construção da parceria?
Suponho que o fato do PT ter ventilado que desejava revezar com o PMDB não apenas a presidencia da Câmara, à qual tem o direito, como o partido com maior número de deputados, mas, também, a presidência do Senado, espaço que o PMDB domina com folga.
A jornalista Renata Lo Prete, na sua coluna de hoje, na Folha de S. Paulo, sugere que as lideranças petistas compreenderam essa mensagem e que abandonarão, no tempo hábil, sua pretensão a um revezamento também no Senado. Diz que o PT não vai esticar a corda, para não arriscar que Dilma comece sua gestão sob clima de instabilidade no Congresso.
Por outro lado, vários veículos de imprensa, hoje, sugerem uma ofensiva petista contra o movimento do PMDB: um grupo parlamentar maior ainda, unindo o partido a cinco outros: PSB, PDT, PCdoB, PV e PMN.
Também cabe observar que, ontem, ocorreu uma reunião de três tendências internas petistas - Construindo um Novo Brasil (CNB), PT de Lutas e de Massas (PTLM) e Novos Rumos. Embora o motivo da reunião fosse outro, a “traição” do PMDB se tornou o principal assunto. Essas três tendências representam 55% da direção nacional petista. De acordo com que os jornais noticiaram, a avaliação que saiu da reunião traduziu, em primeiro lugar, pasmo, e, em segundo lugar, a percepção do movimento do PMDB como uma barbeiragem desmensurada. Porém, uma barbeiragem que enfraquece a relação em construção e que, pressão ou não dos cacicados, exige refluxo.
Bom, isso tudo considerado, ainda ressoa em minha mente uma fala que li na coluna de hoje de Maria Inês Nassif, no Valor Econômico, e que considero muito, muito didática:
“Não é bom ter o PMDB como amigo. Pior ainda tê-lo como inimigo. A presidente eleita, Dilma Rousseff, já deve ter percebido o tamanho do barulho que o PMDB faz e a enorme capacidade do partido de desferir golpes rápidos e certeiros em seus aliados, quando o assunto é participação na máquina do governo”. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de

Leilão de Belo Monte adiado

No Valor Econômico de hoje, Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, informa que o leilão das obras de Belo Monte, inicialmente previsto para 21 de dezembro, será adiado para o começo de 2010. A razão seria a demora na licença prévia, conferida pelo Ibama. Belo monte vai gerar 11,2 mil megawatts (MW) e começa a funcionar, parcialmente, em 2014.

Ariano Suassuna e os computadores

“ Dizem que eu não gosto de computadores. Eu digo que eles é que não gostam de mim. Querem ver? Fui escrever meu nome completo: Ariano Vilar Suassuna. O computador tem uma espécie de sistema que rejeita as palavras quando acha que elas estão erradas e sugere o que, no entender dele, computador, seria o certo   Pois bem, quando escrevi Ariano, ele aceitou normalmente. Quando eu escrevi Vilar, ele rejeitou e sugeriu que fosse substituída por Vilão. E quando eu escrevi Suassuna, não sei se pela quantidade de “s”, o computador rejeitou e substituiu por “Assassino”. Então, vejam, não sou eu que não gosto de computadores, eles é que não gostam de mim. ”