Dilma anunciou hoje o nome da próxima ministra da Cultura. Será Ana de Hollanda, irmã de Chico Buarque. Perdeu o lobby de Juca Ferreira, que, a despeito de ter feito uma gestão boa, dando continuidade ao trabalho de Gilberto Gil na pasta, representava, politicamente, a ausência do PT na área da cultura. Explico: Do ponto de vista da construção política, o PT precisa, enfim, assumir um compromisso de elaboração de seu próprio programa político para a área cultural. A política Gil/Juca deriva de um pensamento do PV a respeito de política cultural, e não de um pensamento petista.
O PT, de fato, nunca foi capaz de elaborar uma política cultural realmente inovadora e se a política cultural do governo Lula foi vitoriosa, isso se deveu, na verdade, ao debate acumulado feito dentro do PV. Não obstante, oito anos passados, experiência acumulada, chegava a hora do PT assumir a vanguarda política da área.
Essa tese estava sendo construída, nos últimos anos, pelo grupo petista ligado ao Antônio Grassi, de onde partiu a indicação de Ana de Hollanda, que sempre contou com a simpatia de Dilma pelo fato de ser mulher e pela conveniência política de aumentar o número de mulheres no ministério.
Na verdade, o PT tinha várias frentes em disputa, mas o protagonismo de Grassi se destacou nos últimos meses. Esse grupo construiu vários balões de ensaio, até chegar a Ana de Hollanda. O primeiro deles foi o nome da senadora Ideli Salvati. Em seguida, vieram o do deputado Ângelo Vanhoni e os de Marilena Chaui, Emir Sader e Wagner Tiso. Foram muitas articulações e uma construção paciente, pautada por evidenciar o comportamento um tanto explosivo e anticonvencional de Juca Ferreira.
A nomeação é acompanhada por uma grande expectativa negativa. Se, por um lado, a tese de que o PT precisa aprender a fazer política cultural e liderar esse processo procede, na medida em que a pasta da cultura tem um valor simbólico elevado para um partido que se pretende hegemonizar a vida cidadã brasileira, por outro lado é importante ter sabedoria para evitar desmontar a estrutura conquistada pela gestão anterior, inovadora em muitos aspectos.
Ana de Hollanda é considerada uma boa pessoa, mas isso nem sempre é suficiente. Efetivamente, ela não tem intimidade com os assuntos da pasta que comandará e, aparentemente, também não tem o perfil político de quem é capaz de enfrentar brigas e contrariar interesses. Mas vamos torcer.
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