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Desindustrialização: saída é reduzir custo da exportação

E como falamos sobre a questão da desindustrialização, vale à pena reprozuzir, também, a seguinte entrevista, igualmente concedida à revista Exame (edição da 2a quinzena de novembro passado), pelo economista Rubens Penha Cysne, diretor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro
Está havendo uma desindustrialização no Brasil?
A preocupação procede. Enquanto o mundo todo caminha no sentido contrário da desvalorização das moedas, nós seguimos com a valorização do real. Por isso, o temor da desindustrialização é pertinente. Nos setores de semi-industrializados e em indústrias leves, como as de calçados e de móveis, estamos importando mais do que exportamos. Nossa pauta principal já é de commodities.
Isso seria uma primarização da economia brasileira?
Não chamo isso de primarização. Para mim, a melhor forma de definir o que está acontecendo é um deslocamento de nossas vendas externas em prol de vendas mercado interno.
Como assim?
O que ocorre é que tanto o setor privado quanto o governo estão consumindo tudo o que se produz e com isso nossas exportações se reduziram. Mas não há primarização. Seria assim se a nossa economia tivesse se limitado a só produzir bens primários, o que não é verdade. Porém, como a poupança doméstica, seja do governo seja do setor privado, está muito baixa e a demanda está aquecida, o caminho tem sido de valorização da moeda. Os juros altos alimentam essa valorização com a atração de dinheiro externo.
O que é possível fazer para enfrentar esse quadro?
A primeira coisa a ser feita é tentar dar mais competitividade aos nossos exportadores.
Como fazer isso com o real tão valorizado?
Isso deve ser feito reduzindo custos como, por exemplo, o dos encargos salariais que representam de 80% a 100% sobre o valor dos salários pagos aos trabalhadores. Poderia ser criada uma redução ao menos para compensar quem exporta. Assim, se o exportador estiver recebendo menos pelo seu produto, ele também vai gastar menos com a folha salarial. É claro que isso é uma decisão política – seria preciso definir quais setores receberiam o benefício e quais não receberiam.
Que outra medida poderia ser tomada para melhorar a competitividade na exportação?
A forma mais canônica de reduzir o ônus do exportador seria fazer uma política fiscal mais austera. Ela permitira reduzir a taxa de juro básica e a atratividade do país para o capital externo. Além disso, é preciso agir sobre os custos conhecidos, como os de logística e de toda a infraestrutura, entre outros.
O Brasil está consumindo demais?
Todo mundo gosta de consumir, de ter acesso a produtos importados. Porém, há setores cujos produtos feitos no país estão ficando inviáveis porque a competição com a China é difícil e a moeda valorizada não ajuda. Mas o fato é que não é só o Brasil que está sofrendo com isso. Veja como os Estados Unidos também têm dificuldade para resolver a questão da perda de competitividade.
O senhor vê algum sinal de que o futuro governo Dilma vai agir nesse sentido?
A gente não sabe ainda o que vai emergir dos primeiros 180 dias do novo governo. Por ora há sinais dúbios. Não sei se vão atacar os problemas tão profundamente quanto seria desejável. Mas eu sou otimista. Acho que vai haver uma percepção de que é preciso fazer algo sobre esses problemas que são do conhecimento comum.

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