Le Monde é um jornal muito interessante e um modelo único de gestão. A função de diretor do jornal é separada da função de presidente do mesmo. O presidente tem encargos administrativos, capitalistas. O diretor tem uma função eminentemente jornalistica.
Isso acontece desde que, há alguns anos, para sair de uma grave crise financeira, o jornal pagou alguns débitos, com sua equipe, cedendo a eles imensos blocos de ações. O resultado foi fabuloso: um jornal feito por jornalistas independentemente do primado econômico da função.
Periodicamente, o cargo era revezado, por meio de eleições livres entre os jornalistas da casa e, eventualmente, candidatos externos. O país inteiro, a França, acompanhava essa eleição com atenção: o que estava em jogo era a qualidade da principal e mais confiável fonte de informação nacional.
As eleições se aproximam. Porém, desta vez, haverá uma mudança: é que o Le Monde atravessou, recentemente, com a crise mundial, uma nova recessão. A solução foi vender uma quota de ações volumosa em leilão público. E quem a adquiriu foi um trio de investidores: Pierre Bergé, Xavier Niel e Mathieu Pigasse.
Algumas vezes, o diretor do jornal e o presidente foram a mesma pessoa, como no caso do atual Eric Fottorino, até 15 dezembro passado.
E as eleições estão se aproximando, mas a estrutura do voto que elegerá o novo diretor, mudou. Na nova configuração acionária, os três sócios capitalistas terão um voto cada um; os jornalistas terão dois votos; os demais funcionários da empresa (da prensa à distribuição) terão direito a um voto; o conjunto dos demais acionistas capitalistas terá direito a um voto também e o diretor que está saindo (e que não pode ser reconduzido ao cargo por mais de dois mandatos) terá direito, também ele, a um voto.
Até agora são 15 candidatos: seis “internos” e cinco “externos” – ou seja, jornalista de outros jornais. Uma das “internas” é Sylvie Kauffmann, que hoje ocupa o cargo de direção de redação – o Segundo mais importante do jornal.
Outro candidato poderoso é o jornalista Arnaud Leparmentier, apoiado pelo presidente da República, François Sarkozy, e que, durante vários anos, ocupou o cargo de jornalista do jornal no Palácio do Elysée. Há ainda um candidato hogh-tech, Olivier Biffaud, cuja missão, na empresa, é transformar o jornal numa versão web, missão que realiza com impressionante êxito. Outro nome em disputa é Claude Leblanc, redator-chef da revista Courrier International, publicada por Le Monde.
A posição é tão influente e tão importante para a política francesa que senadores, deputados, grandes empresários e grandes cientistas e escritores acabam participando, defendendo candidaturas e fazendo campanha.
E isso sem falar sobre uma coisa muito estranha, a das “candidaturas secretas”, que permanecem anônimas para o grande público. Nestea no são três os candidatos desse tipo.
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