A governabilidade construída é confederativa: O bloco propriamente governista - PSDB (6 deputados), DEM (1 deputado) e PPS (1 deputado) – é o único apoio seguro do governo, e mesmo assim considerando que não haja conflito de interesses em torno da disputa pela prefeitura de Belém, onde o deputado federal Arnaldo Jordy, com a votação que obteve, se torna um candidato potencial. O bloco do PMDB (8 deputados e um espaço politico de nove órgãos públicos) será o cliente incisivo, o fiel da balança, o poder potencializado para confrontar o governo. Um terceiro bloco abriga as outras quatro legendas com parlamentares que conformarão a base aliada: PTB (3 deputados), PSB (2 deputados), PSC (1 deputado) e PMN (1 deputado).
Com essa base aliada de 23 deputados tem-se uma maioria frágil, volúvel, muito ciente do seu poder de barganha. O governo estará refém dela. Para realizar seu projeto mínimo, será preciso ceder, operando um pagamento que, todos sabemos, se dá em três moedas principais: espaço no governo com orçamento, quota de emendas parlamentares e nomeações de assessorias especiais.
Sendo pródigo nessas moedas, o governo garante a governabilidade. O problema, talvez, resida na cultura política mais recente, decorrente da experiência do governo Ana Júlia de, digamos assim, desvalorizar em permanência o câmbio dessas três moedas, no dando-e-tirando que caracterizou suas relações com o parlamento.
Com o câmbio flutuante dessas moedas, foi fácil formarem-se blocos de poder como o antes famoso G-8 e ainda mais fácil foi o PMDB construir um “ponto de equilíbrio” (o termo é da teoria dos jogos) por meio do qual maximizasse seu poder. O caso é que, cultura formada, ponto de equilíbrio conquistado, talvez seja difícil mudar o jogo.
E isso sem falar que a função da Casa Civil de mediar essa base de apoio pode ficar prejudicada em função da pretensão do governo de ter Zenaldo Coutinho como seu candidato à prefeitura. O mesmo erro cometido pelo governo Ana Júlia, quando alçou seu articulador político à condição de pré-candidato. Ficando prejudicada a mediação, abre-se uma potencial crise de governabilidade.
Comentários
Caro, sua pergunta revela a essência do governo que começou e que nós todos já conhecemos de longa data: cinismo. Você viu como eles mudaram, na maior cara de pau, os números sobre como entregaram o estado, em 2007? Deixaram 160 mil em caixa e disseram que foi 160 milhões. Foi preciso a Ana Júlia postar no seu twitter desmentindo essa presepada. Se prepare, vai ser assim o tempo todo: cinismo.
Concordo que o PT precisa fazer uma avaliação profunda e honesta, que não seja, apenas, uma batalha discursiva onde se apontam motivos falsos que servem somente para preservar ou conquistar posições e que não contribuem em nada como projeto coletivo. Isso, na verdade, é essencial e disso depende, a meu ver, o futuro do partido no estado.
Sua análise é correta. Em relação ao salário mínimo, chega a ser ridículo como ele se tornou uma (falsa) preocupação do partido.
É. Veja mais procurando os nomes de John von Neumann e Oskar Morgenstern, que antecederam, na "teoria dos jogos", o trabalho brilhante de John Nash, personagem retratado no filme que você refere.
Tem um ditado inglês que diz o seguinte: "aos olhos dos gatos, todas as coisas pertencem aos gatos".