Pular para o conteúdo principal

Mídias sociais não são tão pouco influentes no Brasil, como quer a Folha

A Folha de S. Paulo divulgou hoje notícias sobre uma pesquisa que diz que as mídias sociais ainda são muito pouco influentes no Brasil. A conclusão é que elas servem mais como uma caixa de "ressonância" ao repercutir notícias geradas pela mídia tradicional. A Folha fez questão de colocar que as mídias sociais (como blogs, Twitter, Facebook, Orkut e afins) são "totalmente" pautadas pela mídia tradicional, enquanto que o inverso não acontece.

É preciso cautela ao ler essa informação. Um ponto levantado pela pesquisa parece passivo: o fato de que as mídias sociais não possuem, no Brasil, a mesma influência que têm em alguns outros países ou contextos. No entanto, é possível discutir essa afirmação sobre a troca de influências, que a Folha colocada.

Em primeiro lugar porque a cultura digital, como um todo - e dentro dela as mídias sociais - estão, gradativamente, se tornando uma fonte de informação mais valorizada que a imprensa. É preciso certa coragem para ler esse fenômeno, porque ele desconstrói certos valores que a imprensa gosta de atribuir a si mesma e evidencia as transformações profundas em curso na sociedade contemporânea. A multiplicidade de fontes e a acessibilidade a diferentes análises acaba tornando a internet um espaço mais rico e mais confiável que as empresas de comunicação de massa tradicionais.

Em segundo lugar porque há uma dimensão econômica no fenômeno da convergência digital, que atrapalha substancialmente o modelo de negócios atual dos veículos de massa. É preciso considerar que os grandes jornais, por exemplo, estão fechando. A própria Folha de S. Paulo perdeu quase 40% de seus leitores em apenas uma década.

Em terceiro lugar porque a influência das chamadas mídias sociais alcança etapas da vida social que a mídia massiva não alcança. E, além disso, há fenômenos localizados na diferença de influências. As realidades locais, com seus temas e seus debates, encontram, nas mídias sociais, um espaço mais profícuo de discussão que aquele que lhes é oferecido pelas mídias massivas.

 A mídia tradicional, por sua vez, é "pouquíssimo" pautada pelas mídias sociais --e, em especial, pelos blogueiros independentes.



"A maioria esmagadora do que se fala em mídias sociais é de caráter pessoal. E os blogs independentes, que nos EUA geram conteúdo original que pauta a mídia tradicional, são muito pouco relevantes no Brasil", diz o vice-presidente de planejamento da JWT, Ken Fujioka.


Para elaborar a pesquisa, a JWT realizou entrevistas e analisou o arquivo das reportagens de 2010 do "Jornal Nacional" e das revistas "Época" e "Veja". Foram analisadas 7.418 matérias. Nas mídias sociais, foram analisadas as ferramentas Google Trends, Google Em Tempo Real e os relatórios de assuntos populares divulgados no final do ano pelo Twitter e pelo Facebook.


O estudo, diz Fujioka, aponta para algumas hipóteses sobre porque as mídias tradicionais, em especial os blogs independentes, são tão pouco influentes no Brasil. "Quanto mais fragmentada a audiência, mais propício é o ambiente para que os blogs sejam influentes. E no Brasil a internet é muito concentrada."


Os sete principais portais brasileiros (UOL, Terra, iG, Globo.com, Google, YouTube e Orkut) concentram 75% de todos os pageviews do Brasil, segundo o Ibope.


"A concentração é resultado da competência desses portais. Eles ensinaram o brasileiro a navegar e souberam manter o tráfego."


Ao concentrar o tráfego, os portais atraem investimentos e competência técnica. "Os blogueiros que fazem sucesso no Brasil acabam sendo absorvidos pelos portais", diz Fujioka. "E eles vão contentes pois os portais têm um modelo de negócio que funciona."


Em sua segunda edição, o Social Media Week é um fórum de discussão e debates sobres as tendências no universo das mídias sociais. O evento acontece durante toda a semana na faculdade FAAP, em São Paulo. A semana é realizada simultaneamente em outras oito cidades, nos EUA, Europa e Ásia. A transmissão ao vivo do evento pode ser acompanhada no site: http://smw.oi.com.br/.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de

Leilão de Belo Monte adiado

No Valor Econômico de hoje, Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, informa que o leilão das obras de Belo Monte, inicialmente previsto para 21 de dezembro, será adiado para o começo de 2010. A razão seria a demora na licença prévia, conferida pelo Ibama. Belo monte vai gerar 11,2 mil megawatts (MW) e começa a funcionar, parcialmente, em 2014.

Ariano Suassuna e os computadores

“ Dizem que eu não gosto de computadores. Eu digo que eles é que não gostam de mim. Querem ver? Fui escrever meu nome completo: Ariano Vilar Suassuna. O computador tem uma espécie de sistema que rejeita as palavras quando acha que elas estão erradas e sugere o que, no entender dele, computador, seria o certo   Pois bem, quando escrevi Ariano, ele aceitou normalmente. Quando eu escrevi Vilar, ele rejeitou e sugeriu que fosse substituída por Vilão. E quando eu escrevi Suassuna, não sei se pela quantidade de “s”, o computador rejeitou e substituiu por “Assassino”. Então, vejam, não sou eu que não gosto de computadores, eles é que não gostam de mim. ”