Sabem o que eu acho muito engraçado em Heidegger? O fato de que, naquela obra meio impenetrável que é Ser e Tempo, ele chega a fazer bricadeirinha. Brincadeirinha de ficção, transpondo para a normas duras da filosofia certa estrutura da narração ficcional, criando um suspensezinho.
É o seguinte: há, em Ser em Tempo, uma história que é contada no comecinho e que depois vai e vem, como se anunciando que vai se tornar importante na “trama” que está sendo espalhada. Às vezes é uma historinha, às vezes é um personagem, mas é só lá quando o livro está bem avançado que a coisa surge, com um impacto dramático meio romanesco, e nos surpreende, nos deixa boquiabertos, nos faz ter impressão de que o autor estava brincando conosco. E a partir daí essa coisa, ou esse personagem, toma conta de tudo e nos faz perceber que tem um papel central na história que está sendo contada.
Estou me referindo ao conceito de preocupação. Não o de angústia (Angst), tema Kirkegaardiano por excelência, e também importante em Heidegger, mas ao conceito de preocupação, ou de cuidado (Sorge), para usar a palavra que eclipsa o Ser.
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