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Dilma, marca do governo Dilma


O seguinte texto foi publicado na revista isto É na semana passada:

Com um estilo próprio, Dilma Rousseff consegue impor sua marca na Presidência e passa a ser admirada até por quem a via apenas como uma radical ex-guerrilheira
Sérgio Pardellas – Istoé
Sobriedade e pulso firme arrancam elogios até mesmo da oposição
Sucessora de um dos políticos mais populares da história do Brasil, a presidente Dilma Rousseff, nos primeiros 100 dias de seu governo completados no domingo 10, mostrou personalidade, imprimiu estilo próprio e conseguiu quebrar preconceitos de setores da sociedade até então refratários a ela. A popularidade de 73% registrada por recente pesquisa CNI/Ibope, superando índice obtido por Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso nos três primeiros meses de seus primeiros mandatos, não foi alcançada por acaso. O perfil executivo e a firmeza na condução da máquina administrativa, com adoção de medidas rápidas e enérgicas diante de qualquer ameaça de descompasso, seja político ou econômico, foram enaltecidos por parte da elite intelectual e empresarial do País. Seu jeito simples e discreto, de quem madruga no trabalho, cumpre o expediente palaciano sem proselitismo e cultiva hábitos comuns na vida pessoal, gerou simpatias e encantou representantes da classe média brasileira.
Dois momentos marcantes simbolizaram a aproximação do governo Dilma com faixas da sociedade, que na campanha eleitoral demonstraram maior identificação com o discurso da oposição. No dia 25 de março, uma sexta-feira, Dilma recebeu um grupo de atrizes e mulheres cineastas para a exibição do filme “É Proibido Fumar”, no cinema do Palácio da Alvorada. Após o filme, foi servido um jantar – costelinha de cordeiro e salada. O encontro, parte da agenda comemorativa do Mês da Mulher, foi um sucesso de crítica. Estiveram presentes, além de Anna Muylaert e da atriz Glória Pires, respectivamente cineasta e protagonista do filme, diretoras como Tizuka Yamasaki, Carla Camurati e Lúcia Murat. Compareceram ainda as atrizes Lucélia Santos e Patrícia Pillar. Pouco antes do jantar, Glória Pires pediu um autógrafo para a presidente. “É para quem, Glória?” “Para mim, mesma”, devolveu a atriz. Revelando apreço pela cultura, a presidente também surpreendeu até mesmo os assessores e seguranças do Planalto ao ir, no sábado 2, ao teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília. Assistiu ao monólogo “A Lua Vem da Ásia”, estrelado pelo ator Chico Diaz. Após o espetáculo, Dilma foi ao camarim cumprimentar Diaz.
Outro ponto alto dos primeiros 100 dias foi a recepção ao presidente Barack Obama, considerado um marco na relação entre o Brasil e os EUA, um tanto abalada durante o final da gestão Lula. Nas conversas, durante os dois dias em que Obama esteve em solo brasileiro, Dilma defendeu com veemência os interesses do País ao condenar a adoção de práticas protecionistas como mecanismo de defesa das potências mundiais, e pregar relações comerciais mais justas e equilibradas. A cereja do bolo foi um gesto que mereceu elogios até da oposição. Dilma convidou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para participar do almoço oferecido a Obama no Itamaraty. “Em matéria de Estado, quando se está representando o país, não cabem divisões partidárias. A presidente Dilma mostrou que tem compreensão correta dessa matéria”, elogiou FHC, até então um crítico ácido do governo petista.
Esvaiu-se a imagem de guerrilheira radical, explorada insistentemente pela oposição durante as eleições. Na política externa, Dilma deu uma forte guinada em relação à postura adotada na questão dos direitos humanos com voto favorável na ONU para a indicação de um investigador para o Irã. “É um desvio da nossa política externa que Dilma está corrigindo”, diz o ex-embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur.
A própria oposição também aplaudiu o fato de Dilma não transformar em palanque as aparições públicas e os encontros com artistas e personalidades nacionais e internacionais. Em todas as ocasiões, parecia mais preocupada em seguir a pauta das reuniões do que em jogar para a plateia. Sobriedade, no entanto, não significou ausência de pulso firme em períodos de maior turbulência. Em três episódios, Dilma Rousseff mostrou que não tolera divergências na equipe e não gosta de empurrar os problemas para frente. Agiu rápido, por exemplo, ao exonerar o secretário Nacional Antidrogas, Pedro Abramovay, que defendeu penas mais brandas para pequenos traficantes sem consultar seus superiores.
É bem verdade que Dilma encarregou o ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, de descascar alguns abacaxis políticos. Mesmo assim, quem arbitrou a decisão final foi a presidente. Foi o que aconteceu, por exemplo, na rebelião ensaiada por PMDB e PT às vésperas da votação do salário mínimo na Câmara. Dilma não se fez de rogada e exibiu jogo de cintura ao colocar em curso a estratégia de adiar as nomeações para cargos de segundo escalão para depois das discussões de temas polêmicos no Legislativo. Deu certo. Por 361 votos a 120, conseguiu aprovar o valor de R$ 545. O desafio agora é aplacar a ira de setores da base aliada determinados em cobrar a fatura pela fidelidade ao governo. A lentidão na liberação de emendas é decorrente de uma medida amarga, mas necessária, da área econômica: o corte no Orçamento de R$ 50 bilhões para conter a inflação. Dilma Rousseff sabe que terá de domar a escalada de preços nos próximos meses para prolongar sua lua de mel com a opinião pública.

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