Continuação do texto
Por fim, chegamos às representações do pró-Pará grande para a noção de cultura. Elas são duas: as falas que defendem um Pará multicultural e diverso, terra de imigração e de acolhimento, híbrido em seus processos fundamentais, e as falas que defendem a compreensão essencialista da cultura ribeirinha enquanto uma espécie de matriz cultural que deve ser levada, para iluminação alheia, às regiões de ocupação mais recente.
A segunda concepção prevalece imensamente sobre a primeira, tanto no imaginário social como na estrutura de campanha política e midiática.
Ela possui uma dinâmica fechada, estruturalmente alinhada a uma concepção idealista de cultura e se associa a um perfil social conservador. Nesse sentido, irmana-se às representações sobre “cultura” produzidas pelo pró-Carajás e pelo pró-Tapajós, conformando-se como um substrato ideológico afeito a interesses localizados, muitas vezes pessoais e não exatamente democráticos.
Pode-se encontrar, na representação de uma “cultura” paraense como a “única possível”, uma forma de xenofobia. A mesma que pauta a percepção dos “novos paraenses” como intrusos, invasores indesejados. Mas não só. Há também, nessa representação, alguma boa intenção, perceptível, por exemplo, na intenção de defender as referências comuns, também evocando uma idéia de comunidade e, algumas poucas vezes, de espírito público. O problema dessa boa intenção é que ela se efetiva, em geral, como uma forma de ignorância – ignorância do outro – pois, mesmo que eventualmente, bem intencionada, se deixa pautar pelo não respeito ao outro.
Continua
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