Pular para o conteúdo principal

Os temas da identidade e da cultura no debate sobre a divisão do Pará 3

Continuação do texto


II. Os temas da cultura e da identidade nos argumentos pró e contra a divisão do Pará
Um dos argumentos utilizados pelos defensores da criação do Estado de Carajás é que, espaço de colonização recente e multicultural de ocupação humana, as regiões sul e sudeste do Pará não possuiriam a mesma “cultura” do restante do estado e da Amazônia. Essa diferença, por si mesma, seria suficiente para justificar a divisão territorial. Ela figura efetivamente, como a justificativa central dos defensores do novo estado, sendo complementada pelo argumento de que a máquina pública estatal não consegue estar presente satisfatoriamente na região.
Nas representações sociais do pró-Carajás não se fala, curiosamente, de uma “cultura” carajaense, mas sim de uma não-cultura paraense, ou amazônica. Associa-se a noção de cultura a um vazio. A cultura carajaense se representa como a não-cultura paraense. O que parece ser um fato inédito na história das civilizações. Não há efetiva preocupação representar o próprio, o mesmo, mas uma lacuna em relação ao outro. Obviamente que essa representação procura produzir um inventário inicial dos elementos que formariam essa “cultura” carajaense, mas esse inventário não vai além de espaços naturais amazônicos, o que, imediatamente, retorna ao problema essencial – e talvez – existencial – do pró-Carajás, que é o de definir-se pelo apelo do vazio, como um não-lugar, um não-Pará, mais de que como um lugar.
Continua

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de

Leilão de Belo Monte adiado

No Valor Econômico de hoje, Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, informa que o leilão das obras de Belo Monte, inicialmente previsto para 21 de dezembro, será adiado para o começo de 2010. A razão seria a demora na licença prévia, conferida pelo Ibama. Belo monte vai gerar 11,2 mil megawatts (MW) e começa a funcionar, parcialmente, em 2014.

Ariano Suassuna e os computadores

“ Dizem que eu não gosto de computadores. Eu digo que eles é que não gostam de mim. Querem ver? Fui escrever meu nome completo: Ariano Vilar Suassuna. O computador tem uma espécie de sistema que rejeita as palavras quando acha que elas estão erradas e sugere o que, no entender dele, computador, seria o certo   Pois bem, quando escrevi Ariano, ele aceitou normalmente. Quando eu escrevi Vilar, ele rejeitou e sugeriu que fosse substituída por Vilão. E quando eu escrevi Suassuna, não sei se pela quantidade de “s”, o computador rejeitou e substituiu por “Assassino”. Então, vejam, não sou eu que não gosto de computadores, eles é que não gostam de mim. ”