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II. Os temas da cultura e da identidade nos argumentos pró e contra a divisão do Pará
Um dos argumentos utilizados pelos defensores da criação do Estado de Carajás é que, espaço de colonização recente e multicultural de ocupação humana, as regiões sul e sudeste do Pará não possuiriam a mesma “cultura” do restante do estado e da Amazônia. Essa diferença, por si mesma, seria suficiente para justificar a divisão territorial. Ela figura efetivamente, como a justificativa central dos defensores do novo estado, sendo complementada pelo argumento de que a máquina pública estatal não consegue estar presente satisfatoriamente na região.
Nas representações sociais do pró-Carajás não se fala, curiosamente, de uma “cultura” carajaense, mas sim de uma não-cultura paraense, ou amazônica. Associa-se a noção de cultura a um vazio. A cultura carajaense se representa como a não-cultura paraense. O que parece ser um fato inédito na história das civilizações. Não há efetiva preocupação representar o próprio, o mesmo, mas uma lacuna em relação ao outro. Obviamente que essa representação procura produzir um inventário inicial dos elementos que formariam essa “cultura” carajaense, mas esse inventário não vai além de espaços naturais amazônicos, o que, imediatamente, retorna ao problema essencial – e talvez – existencial – do pró-Carajás, que é o de definir-se pelo apelo do vazio, como um não-lugar, um não-Pará, mais de que como um lugar.
Continua
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