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Conversas petistas II: A via mexicana


Tenho um amigo que é vigoroso filósofo petista. Tem a altura de um estratega romano e a altivez de um almansur berbere. Suas reflexões são poderosas e sempre me impressionam. Na plenária do Puty, disse-me ele, cochichando, com pesadas e invisíveis petecas na bochecha:

“As eleições de 2012 serão o grande desafio para o PT: ou o partido vai se recolher à sombra das coligações ou vai recuperar sua autoestima, lançando uma candidatura própria. A primeira opção leva à morte com cargo. A segunda, leva ao drama com glória”.

“E o que você acha que vai acontecer?”, perguntei.

“Espere, ainda não terminei. Veja bem, o drama é pior ainda, porque a segunda opção sofre de condescendência; olhe só, veja que o drama ao qual me refiro pode, ainda, ser um drama verdadeiro ou um drama mexicano”.

“Como assim?”

“É que se o PT decidir pela candidatura própria pode ser pra valer ou pode ser de mentirinha”

Nesse momento ocorreu um fato bizarro. É que nossa conversa estava sendo acompanhada, secretamente, por um sujeito de orelhas longas, sentado na fila de trás.

“Petista de verdade não aceita servir de pau alheio!”

Eu, sempre incrédulo da capacidade humana de forjar metáforas, indaguei um “como assim” meio acanhado, ao que ele me respondeu, como ares de sábio de armazém:

“Petista de verdade não aceita servir de pau para os outros gozarem em cima. Isso eu não aceito”.

“Hummm” – recolhi-me à minha ignorância. E o amigo estratega, com os olhos arregalados e as bochechas cada vez mais pesadas, murmurou.

“É o problema da via mexicana! Se o PT lançar um candidato destinado a ser derrotado, ou seja, se se empenhar numa candidatura que não seja de verdade, vai ser o passo decisivo para se divorciar de vez da militância. O nosso amigo aí de trás é a prova viva do que estou dizendo!”

“E quais a chances de lançar uma candidatura de verdade?”

“Não tenho prognóstico!” – sua pronúncia dessa palavra era excessivamente pesada – prognóoosshtico – o que silenciou ao companheiro da fila de trás e a mim pelos minutos seguintes. Num silêncio imaginativo, ficamos considerando os dias a vir.

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