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Eleições na França 30: O que significa a vitória dos socialistas do ponto de vista da comunicação política


Antes de mais nada, é preciso considerar que há 17 anos os socialistas não ocupam a presidência da república. Desde os dois mandatos (1982 e 1988, cada um com 7 anos) de François Mitterand, os socialistas foram atores políticos incisivos, centrais, na política francesa, mas não ocuparam a presidência.
Houve, é certo, o momento em que, com o gabinete Lionel Jospin, durante o primeiro mandato de Jacques Chirac, comandaram o governo, mas isso não diminui a distância de 17 anos apartados do poder.
Além disso, nos últimos dez anos, não houve a “co-habitação” – o fenômenos em que a presidência da República é ocupada por um partido, mas a maioria do Parlamento indica um Primeiro Ministro que é de outro partido.
Outra data que pesa: François Mitterand, o primeiro presidente socialista da V República francesa, foi eleito, há 31 anos e reeleito há  24 anos. Ou seja, há 24 anos os socialistas não vencem a eleição mais importante do país.
Essas datas têm peso, porque indicam que a chegada dos socialista ao poder constitui, de fato, uma “mudança”.
Isto considerado, gostaria de destacar dois elementos discursivos presentes na campanha de François Hollande: a idéia de “mudança”, justamente, e os dois compromissos centrais assumidos pelo candidatos: “cuidar da juventude” e “promover a justiça social”.
O que significa “mudança”, para os socialistas franceses? Basicamente, mudar a política exclusivista de Sarkozy, agente político central, da direita, nos últimos 10 anos da vida política, primeiro como o arqui-poderoso Ministro do Interior de Jacques Chirac e, depois, como Presidente da República.
O voto em Hollande, em sua maior parte, foi um voto anti-Sarkozy – bem como voto na ultra-direita também o foi, apesar de uma interprtetação mais simplista da questão tender a indicar o contrário. A comunicação política socialista soube captar, catalisar e maximizar esse sentimento, para encarná-lo, enfim.
O discurso de Hollande foi marcado por muitas variáveis desse mote de “mudança”. Por exemplo, quando no debate presidencial ele afirmou que desejava ser um “presidente normal”- sugerindo, por extensão, que Sarkozy era um presidente anormal. O que seria isto? Hollande esclareceu: um presidente que exerça com dignidade e circunspecção o seu cargo, fazendo alusão aos excessos e à falta de compostura tantas vezes encarnada por Sarkozy.
Em relação aos dois compromissos centrais da campanha socialista, pode-se dizer que eles também traduzem a crítica geral feita à Sarkozy e à direita francesa: um governo para poucos, exclusivista e que acirrou as fraturas internas da sociedade francesa.
Fazer “justiça social”, para Hollande, significa governar para o conjunto da sociedade, e não para poucos. Diminuir a diferença social.
Cuidar da juventude, da mesma maneira, significa retomar a tradicional responsabilidade do Estado francês sobre a escola laica, a universidade, a formação em geral e o acompanhamento profissional. Todas essas questões que pesam muito sobre a opinião pública francesa e que ficaram relegadas ao segundo ou mesmo terceiro planos, nos tempos Sarkozy.
Mais uma vez, aqui, se observa a clara disposição à polarização do discurso político. Um governo socialista é, em primeiro plano, um governo anti-Sarkozy.
Não que o socialismo tenha esquecido suas lutas históricas ou não tenha uma proposta programática mais ampla, mas é que, em tempos midiatizados, a luta política se constitui a partir de signos claros de polarização.

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