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O impacto da greve nos próximos semestres

Para entender o processo de greve das universidades federais em curso e tecer cenários sobre o calendário acadêmico futuro, reproduzo uma análise feita pelo blog Acerto de Contas.

Esta semana a greve das universidades federais está completando 3 meses, e não há uma perspectiva sequer de entendimento entre sindicato e Governo.
O Governo diz que encerrou negociação e o acordo é aquele oferecido na última reunião. Está se negando a sentar para negociar.
A ideia deste texto é dirimir dúvidas de alunos quanto à recuperação das aulas e dos próximos semestres, e explicar como andam (ou não andam) as negociações com o Governo.
Vamos aos fatos antes de entrar no objetivo do texto.
O Governo demorou praticamente 60 dias para sinalizar alguma negociação. Mas é bom colocar tudo em ordem cronológica para desmistificar o que o Governo vem dizendo
Vamos por datas:
31 de março – acaba o prazo para o Governo cumprir o que foi acordado no ano passado, que era uma nova proposta de carreira. E também os 4% oferecidos emergencialmente no ano passado, mesmo com a inflação acumulado ter sido de 12%, não entrou na conta dos professores.
17 de maio – os professores iniciam a greve
28 de maio – reunião de negociação cancelada pelo Governo
19 de junho – reunião de negociação foi novamente cancelada pelo Governo
13 de julho – ainda sem ter feito reunião alguma de negociação efetiva, Governo apresenta proposta para a imprensa. (veja análise)
16 de julho – Depois de apresentar a proposta para a imprensa, Governo apresenta proposta aos sindicatos e espera resposta, que foi recusada.
24 de julho – Governo apresenta “nova proposta”, que é igual à primeira, apenas dando menos de R$ 100,00 a mais para os mestres. Para os doutores não deu nada a mais.
1 de agosto – Sindicato Pelego Proifes fecha acordo e Governo diz que negociação acabou.
Se observarmos as datas colocadas acima, veremos que tivemos apenas duas reuniões com o Governo. Isto mesmo, DUAS.
E nenhuma delas para negociação dos pontos.
Nem na ditadura o tratamento aos sindicatos e categorias era esse.

O Governo colocou o sindicato paralelo pelego, comandado por partidários do PT e PCdoB, cujos membros recebem dinheiro do Governo Federal, para assinar o acordo e simplesmente disse que a negociação, que nem começou, já acabou.
Desde então não se tem notícia.
Via imprensa, o Governo dá sinais de que vai esperar que o cansaço acabe com a greve.
Observem a avaliação feita em off para a Folha de São Paulo:
“Assim como é “pop” bater em juros bancários e em celulares que não funcionam, há no governo uma percepção de que pode ser bom negócio demonizar grevistas que deixam os filhos da classe média sem aula na universidade ou os turistas em filas homéricas em Cumbica.”
Vejamos só…o Governo está colocando a sorte de 650 mil estudantes no cansaço de professores grevistas.
Enquanto os professores não se cansam de ficar parados, todo este contingente de jovens param suas vidas.
Que “bela estratégia”.
E respondendo à pergunta sobre o impacto desta greve no calendário deste e do próximo ano.
Como a greve começou no dia 17 de maio, será preciso retomar o semestre deste ponto.
Antes de continuar, é bom deixar claro que não há perda do semestre, apenas a rearrumação do calendário.
Então, para acabar 2012.1, temos que rearrumar 9 semanas.
No mais otimista cenário, a Universidade precisa de 3 semanas para organizar e efetivar a matrícula e fechamento de notas. Falar em algo menor que isso é desconhecer a burocracia nababesca da UFPE e demais Ifes.
Até agora temos 12 semanas no total. Estamos falando de aproximadamente 2 meses e meio.

Então vamos aos possíveis cenários, lembrando que temos uma data como referência, 31 de agosto, que é quando o Governo envia o orçamento para o Congresso. Mas como está em questão os próximos 3 anos, pela proposta do Governo, este prazo não é definitivo e serve apenas como referência.
1. Otimista: a greve acaba no dia 31 de agosto e dia 3 de setembro (segunda-feira) retomamos as aulas.
Com isso o semestre 2012.2 começa dia 12 de novembro.
Se o semestre começar nesta data, ele acaba no começo de abril (contando que não teremos aula entre Natal e Ano Novo).
Então o 1º semestre de 2013 estará começando, na melhor das hipóteses, no começo de maio do ano que vem, já que precisaríamos de período de matrícula.
Em outras palavras, janeiro de 2013 e janeiro de 2014 (não é mais possível recuperar a tempo dentro do calendário) serão na sala de aula.
2. Meio-termo: a greve acaba no fim de setembro e dia 1 de outubro (segunda-feira) retomamos as aulas.
Com isso o semestre 2012.2 começaria dia 15 de dezembro.
Se o semestre começar nesta data, ele acaba no começo de maio (contando que não teremos aula entre Natal e Ano Novo).
Então o 1º semestre de 2013 estará começando, na melhor das hipóteses, no começo de junho do ano que vem.
Em outras palavras, janeiro de 2013 e janeiro de 2014 (não é mais possível recuperar a tempo dentro do calendário) serão na sala de aula.
3. Pessimista:  a greve acaba no fim de outubro. O restante do ano seria apenas para recuperar o semestre passado. Isso aconteceu em greves anteriores.
Com isso o semestre 2012.2 começaria apenas no começo de janeiro.
Se o semestre começar nesta data, ele acaba no fim de maio (contando que não teremos aula entre Natal e Ano Novo).
Então o 1º semestre de 2013 estará começando, na melhor das hipóteses, no começo de julho do ano que vem.
Em outras palavras, janeiro de 2013, janeiro de 2014  e janeiro de 2015 (não é mais possível recuperar a tempo dentro dos dois próximos calendários) serão na sala de aula.
Como se vê, esta estratégia do Governo de esperar o cansaço é “muito inteligente”.
É bom preparar a conta de luz, porque teremos muito ar-condicionado (e ventilador no caso do CFCH, CAC e CE, os centros “pobres da UFPE”) ligado na Universidade neste verão.
É de fazer chorar, mas convenhamos, após apenas duas reuniões onde nada foi discutido, o intransigente nesta história não é o professor.

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