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Comentando as eleições 13: O problema do PT paraense continua o mesmo: perceber que construção hegemônica não é hegemonia.


No post anterior eu disse que o feitiço que enfeitiçou o PT, em algum momento de seu passado recente e que ainda continua a enfeitiçá-lo, é sua incompreensão de um fato político elementar: o de que a conquista do poder não significa, em nenhuma situação histórica, a conquista da hegemonia.
Logo em seguida, afirmei que a campanha de Alfredo Costa, a julgar pela maneira como foi conduzida, renovava esse enfeitiçamento.
Explico por que.
Penso que a campanha do PT de Belém, nestas eleições, partiu da crença de que o partido tem, constituído e sólido, um capital político que equivale a algo entre 20 e 25% do eleitorado local.
É verdade, de acordo com muitas pesquisas realizadas, que há uma simpatia pelo PT, em Belém, que alcança essa marca. Porém, isso não significa que essa parcela do eleitorado efetivasse, sob a forma do voto, a sua simpatia.
A questão é que a interpretação dada ao fenômeno político da simpatia foi de que esse potencial seria, efetivamente, um capital político já constituído e sólido.
Ora, a natureza do fenômeno do poder é, precisamente, a que lhe dá o nome: poder, como poder-ser, poder-fazer, poder-acontecer. Para ser real, o poder sempre resta condicional. Sua potência está menos na sua realização de que na sua promessa.
Como no poder de repressão, que tem sua maior eficácia na ameaça de concretização de que na sua realização efetiva: é a ameaça de punição que, principalmente, impede o delito.
A campanha do Alfredo, bem como o imaginário que envolve o PT paraense obedece a uma ordem metafísica: confunde o poder com o ser.
Em outra palavras: confunde construção hegemônica com hegemonia.
O sintoma disso foi ter construído toda a campanha de 2012 com base na crença de que o voto no Edmilson se devia ao desconhecimento de que o candidato do PT era Alfredo. Um pressuposto que se mostrou parcialmente equivocado
Do começo ao fim da campanha ouvimos o slogan “O verdadeiro candidato do PT”. Ora, à força de tentar provar que o PT era Alfredo, e não Edmilson, o PT deixou de fazer campanha para Alfredo.
E a fez para Edmilson.
Por que o raciocínio de qualquer eleitor mediano seria, imagino o seguinte: Ah, então não é o Edmilson? Bom, e daí? Edmilson já foi do PT, não é? Então ele sabe fazer...
Em síntese, o PT não fez campanha.
Sugeriu uma incógnita, sem respondê-la.
Recordo que, recentemente, fazendo um grupo focal para minha pesquisa na UFPA - que não tem objetivo e nem temática política – me ocorreu testar o conhecimento da relação entre Alfredo Costa, Edmilson Rodrigues e o PT. Mesmo sendo um teste eventual, ficou evidente, justamente, esse fato: em geral se reconhecia Alfredo como candidato do PT, mas, também em geral, Edmilson representava melhor ...o PT.
Em síntese, o fator “simpatia” vale mais na sua dimensão subjetiva, na sua dimensão empática, e não se manifesta, necessariamente, como uma objetividade.
Não se deve cobrar raciocínio silogístico a um processo eleitoral amazônico... 

Comentários

Anônimo disse…
A campanha do Alfredo Costa foi pífia. Não só na estratégia. A própria produção foi descuidada. Não teve uma qualidade mínima de edição. A qualidade do áudio e do som foi horrível. Pra completar, não se construiu a imagem do candidato. Acabou o primeiro turno e até hoje ninguém sabe quem é o Alfredo.
Anônimo disse…
Cá entre nós, o PT sabia fazer um programa eleitoral, mas desaprendeu. Não sei quem foi o marqueteiro, não sei quem foi a produtora e não sei quem escreveu aqueles roteiros sem nenhum senso político, mas o fato é que o efeito do programa eleitoral do Alfredo na TV foi de 0 a menos 10. O resultado pífio da campanha do Alfredo se deve, em grande parte, ao seu programa de TV.
Anônimo disse…
Como sempre, vão culpar a comunicação. Ainda que o programa do Alfredo tenha tido problemas, o problema de fato estava na política. Como o Fabio disse, sem estratégia política não tem estratégia de comunicação...
hupomnemata disse…
Comentário geral aos três Anônimos de cima: Independentemente da qualidade da mídia, houve, na campanha do Alfredo, uma ausência de estratégia. Como coloquei no post, as escolhas táticas foram equivocadas e parece não ter havido uma avaliação, durante o percurso, capaz de questionar erros e acertos. Não houve retroalimentação E repito: comunicação não é a mesma coisa que política; não dá para esperar que a comunicação faça a política no lugar da política...

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