Leio na internet que Belém, depois de muitos
anos, poderá ganhar uma linha aérea regular para uma cidade fora do Brasil –
Miami, o que é prosaico. Muito bom se isso acontecer, mas serve para mostrar
como nós somos pobres. Afinal, se uma mísera linha aérea tem aparência de uma
conquista – para alguns, pelo que percebi, uma “conquista política” – é porque
estamos muito pobres de mundo.
Estar pobre de mundo é uma expressão que uso
com frequência para falar de Belém, às vezes tão fechada sobre seu próprio
umbigo, tão fechada ao diálogo, que acaba se empobrecendo. A expressão, é
claro, tem incontáveis outros significados: estar pobre de mundo é fazer essa
política baixa que fazemos, é ler pouco como lemos, é deixar de ter o senso crítico
que não-temos.
Importante esclarecer que a pobreza de que falo
é a pobreza de espírito, e não a pobreza econômica.
Quizera mundiar – para resgatar a antiga
expressão paraense. Minha avó Nida a usava com frequência: fulano ficou
“mundiado” – no sentido de que está encantado, maravilhado, apaixonado. No
sentido que ganhou mundo.
E não que o perdeu.
Agora, voltando à história do vôo para Miami, o
fato que me deixou pensativo, a respeito de nossa pobreza, é que no mesmo dia
li, nos jornais daqui, uma matéria sobre a decadência de Montreal como ponto de
convergência aérea. Aparentemente, eles aqui estão reclamando, tal como lá em
Belém nós também estamos, de que falta mais ligações aéreas com o mundo.
O curioso é que o jornal expõe, com total
horror, a pobreza de Montreal nestes tempos, dizendo que a cidade tem, apenas,
- 76 vôos regulares diretos para outras cidades do mundo que não cidades norte-americanas e canadenses;
- mais 26 vôos regulares diretos para cidades dos EUA;
- mais 29 vôos regulares diretos para cidades do Canadá, das quais 13 ficam na própria provincial do Quenec.
E isso estamos falando, bem entendido, de
linhas aéreas, e não de vôos. Na mesma reportagem há uma outra matéria sobre o
número de vôos nas principais linhas. “Apenas” (é a palavra que usam),
- 381 vôos semanais para Toronto;
- 191 para Nova York;
- 167 para Chicago;
- 89 para a cidade do Québec;
- 68 para Halifax.
O horror deles é que há apenas 25 vôos semanais
para Paris – a cidade-espelho.
E eles o dizem com vexame, cabisbaixos diante
de Toronto, que há uma década se tornou maior e mais importante que Montreal.
Olhem, não pensem que eu estou comparando o que
não é comparável, pois é evidente que a pobreza de Belém é uma e a “pobreza” de
Montrel é outra. O que estou dizendo é que podem ser instigante comparar
comparações.
Comparar comparações pode nos levar a mundiar.
E foi pensando nisso que, ontem, peguei no sono.
Tentanto conjugar o verbo paraense “mundiar” no presente do subjuntivo: se eu
mundiasse, se tu mundiasses, se ele ou ela mudiasse, se nós mudiássemos... ah
se nós mudiássemos...
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