tag:blogger.com,1999:blog-63170942024-03-07T15:01:54.096-03:00HupomnemataFábio Fonseca de Castro - Fábio Horácio-Castro - fabiofonsecadecastro.org fabiohoraciocastro.comUnknownnoreply@blogger.comBlogger4855125tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-50481146217035482792023-01-22T11:02:00.005-03:002023-01-22T11:21:18.502-03:00Genocídio Yanomami: Bolsonaro não pode escapar<p>O mundo está estarrecido com com o genocídio Yanomami. As imagens chocantes atravessam o planeta e atestam o que todos já sabiam: houve genocídio. E não há como Jair Bolsonaro não ser imputado por esse crime. </p><p>Dados obtidos pela plataforma <a href="https://sumauma.com/nao-estamos-conseguindo-contar-os-corpos/">SUMAÚMA</a> mostram que, durante o governo Bolsonaro, o número de mortes de crianças com menos de 5 anos por causas evitáveis aumentou 29% no território Yanomami. Foram 570 crianças mortas, em 4 anos, por doenças que têm tratamento. E isso pode não ser tudo, porque o conjunto das terras indígenas em território brasileiro sofreu, ainda de acordo com o Suamúma, um verdadeiro apagão estatístico durante o governo de extrema direita. </p><p>O legado de Bolsonaro é um dos mais aviltantes da história do Brasil. Não é de hoje que as terras Yanomami, onde vivem quase 30 mil pessoas indígenas, são agredidas pela especulação do garimpo ilegal, da pecuária ou da cultura do arroz, mas nunca se viu um apoio tão grande do Estado brasileiro a essas atividades. </p><p>O cenário e de catástrofe. Fome, malária, violência, colapso sanitário. </p><p>Reproduzo um trecho da reportagem do Sumaúma: </p><p></p><blockquote>“Os Sanöma, um grupo da etnia Yanomami, vive na região de Auaris, no limite do Brasil com a Venezuela, onde o garimpo atua livremente dos dois lados da fronteira. A insegurança alimentar sempre foi uma questão crítica na região. Localizada nas terras altas do território, há menos oferta de comida. Com o garimpo e a explosão da malária, o que era um problema escalou para o caos. Vários homens da etnia migram para o garimpo do outro lado da fronteira, na Venezuela, deixando as mulheres sozinhas para cuidar das crianças, fazer roça e pescar numa região escassa, desequilibrando todo o modo de vida. (...) Nos últimos dois anos (2021 e 2022), a região de Auaris, onde vivem 896 famílias, teve 2.868 casos de malária”.</blockquote><p></p>
O termo genocídio foi criado pelo jurista polonês Raphael Lemkin ainda durante a II Guerra para descrever o que os nazistas estavam fazendo aos judeus. A palavra nova traduzia um crime antigo, conhecido desde os começo dos tempos, e passou a codificar uma das práticas mais bárbaras do gênero humano, sendo assim reconhecida no artigo 5° do Estatuto de Roma, do Tribunal Penal Internacional. <div><br /></div><div>Recolho esses dados de <a href="https://www.brasil247.com/blog/genocidio-yanomami">Marcelo Uchôa, no site Brasil 247,</a> que também coloca como o crime de genocídio é qualificado no Brasil, por meio da lei 2.889/65, que o define, em seu artigo 1º, como crime praticado por </div><div><blockquote>“quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo”. </blockquote></div><div>É evidente que Bolsonaro cometeu o crime de genocídio contra os Yanomami. E muito mais pode ser descoberto. Essa responsabilidade precisa lhe ser imputada. </div><div><br /></div><div>O ministro Flávio Dino já declarou que a questão será investigada e se aguarda uma posição das instituições internacionais, a esse respeito, nos próximos dias, cabendo lembrar que já há uma representação, contra o ex-presidente brasileiro no Tribunal Penal Internacional por genocídio indígena relacionado à pandemia.
</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-37487537628430958522023-01-18T11:13:00.002-03:002023-01-18T11:13:11.414-03:00Sobre a reindustrialização<p>Já sabemos que um dos compromissos fundamentais do novo governo Lula é com a reindustrialização do país. O tema esteve presente no discurso de posse, no discurso do púlpito e nas sucessivas falas do presidente. </p><p>O que isso significa? Investir na recomposição do parque industrial brasileiro. </p><p>A produção industrial brasileira está em franca queda. De acordo com dados do IBGE/Iedi, a produção industrial de dezembro de 2022 estava no mesmo patamar que a de novembro de 2009. Uma queda de 18,5%. Alguns setores mostram uma queda mais acentuada, notadamente a indústria de bens de consumo duráveis, que só no ano passado regrediu em 3,2%. Isso representa redução de empregos, redução de exportações e perda na qualidade dos bens produzidos. </p><p>A indústria de transformação, que é a que mais gera valor adicionado, está se modificando intensamente nos últimos anos. Entre 2005 e 2021 a China passou a dominar o mercado mundial, passando de 13,26% para 30,45%. Quase o dobro dos Estados Unidos, que viram sua capacidade industrial decrescer de 22,68% do comércio mundial para 16,76%, hoje. O Brasil apresenta uma redução indefectível da sua capacidade industrial. No mesmo período regrediu de 2,20% para 1,28%, valor inferior à participação de Taiwan no comércio mundial, conforme a tabela abaixo:</p><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTN4Imc35WXib5vkeoB2LEp8xzWOsyRvFEhVQORZAxbwJNFW3Z7JostY4U5ZOtoNEtjBpiJGnBZAGEHLA1u7hsSKq0ktkYZS2HpxiwlIIucsgSw6AotuGNb4VWylLESyStMUEziAQISiQGxm4ouQOM0FquH3sJmXD7dcbBsK63IKXeMO0-MbY/s563/Captura%20de%20Tela%202023-01-18%20a%CC%80s%2011.10.11.png" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="563" height="228" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTN4Imc35WXib5vkeoB2LEp8xzWOsyRvFEhVQORZAxbwJNFW3Z7JostY4U5ZOtoNEtjBpiJGnBZAGEHLA1u7hsSKq0ktkYZS2HpxiwlIIucsgSw6AotuGNb4VWylLESyStMUEziAQISiQGxm4ouQOM0FquH3sJmXD7dcbBsK63IKXeMO0-MbY/w400-h228/Captura%20de%20Tela%202023-01-18%20a%CC%80s%2011.10.11.png" width="400" /></a></div>
Quais os compromissos essenciais de uma política de reindustrialização? <div><br /></div><div>Primeiramente, a sustentabilidade. Ao mesmo tempo, a geração de empregos formais. Em paralelo, o fortalecimento dos bancos públicos de investimento, condição para toda reindustrialização. </div><div><br /></div><div>Como pode ser feito? 1) Identificar as potencialidades territoriais locais, naqueles setores onde o país tem capacidades internas já constituídas. 2) Olhar para a cena geopolítica, percebendo e maximizando as potencialidades que surgem. 3) Apostar na complexidade tecnológica, estimulando fortemente a consolidação de nichos por meio da pesquisa em C&T. 4) Projetar competitividade, através de uma diplomacia mais agressiva. </div><div><br /></div><div>Quais os cenários mais interessantes? 1) Fertilizantes, substituindo a margem de 65% das importações nacionais nesse setor. 2) Semicondudores, de olho na demanda latino-americana. 3) saúde, setor industrial onde temos acúmulo, de olho nas trocas sul-sul. 4° Vestuário, outro setor de tradição que perdeu muito espeço nos último anos, mas igualmente com olhar para o sul global.
</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-21811114955898178032023-01-08T18:40:00.003-03:002023-01-18T11:13:57.450-03:00Brasília tomada pelo terrorismoA única palavra que deve ser usada, para caracterizar as pessoas que estão depredando Brasília, hoje, é terroristas.
E são terroristas, igualmente, o governo do Distrito Federal, a Polícia Militar do Distrito Federal. Em que pese não se encaixarem, stricto sensu, na lei do terrorismo, são-o. <div><br /></div><div>O atentado foi patrimônio material da República mas, também, foi um atentado simbólico à democracia brasileira. E precisa ser avaliado do ponto de vista simbólico, porque a imagem que vai ser disseminada nas redes bolsonaristas têm uma função simbólica de abrir um rastro para que o terrorismo continue no Brasil. </div><div><br /></div><div>Por que ninguém está sendo detido? Os esforços da PM do DF são lenientes e se resumem a afastar os terroristas depois das manifestações. O governador do DF, Ibaneis Rocha (@IbaneisOficial) não foi apenas complacente com o terrorismo : também foi cúmplice. Isso se chama de prevaricação. É crime grave. A intervenção federal não deve ser feita apenas na área da segurança, mas no governo do DF. </div><div><br /></div><div>A apuração deve ser ágil e a punição deve ser rigorosa. Quem é o produtor de soja que bancou cada um dos ônibus que levou essa gente? Quem é o empresário de varejo que pagou a estadia? Quem é o pecuarista que pagou o churrasco desses vândalos?
Fosse uma simples manifestação de esquerda, pacífica, sem vandalismo algum, haveria tropa de choque, cavalaria, helicóptero, bomba de gás lacrimogênio.
As demandas de prisão em flagrante delito dos terroristas, solicitadas pela AGU ao STF, devem ser atendidas imediatamente, bem como as demandas de apreensão das dezenas de ônibus que transportaram os terroristas a Brasília. </div><div><br /></div><div>A prisão de Anderson Torres, secretário de segurança do DF, já também solicitada pela AGU, é necessária e urgente.
Por fim, as evidências da participação do ex-presidente na organização desses atos – inclusive, até mesmo, a misteriosa presença do secretário de segurança do DF na Flórida, hoje – são grandes, e precisam ser apuradas. Provavelmente, é caso para prisão preventiva de Bolsonaro.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-43044770831258536912023-01-03T09:30:00.001-03:002023-01-03T09:30:00.201-03:00Comentário sobre o Ministério das Relações Exteriores do governo Lula<p>Já se sabe que o retorno de Lula à chefia do Estado brasileiro constitui um evento maior do cenário global. E não apenas porque significa a implosão da política externa criminosa, perigosa e constrangedora de Bolsonaro. Também porque significa o retorno de um player maior no mundo multilateral. O papel de Lula e de sua diplomacia são reconhecidos globalmente e, como se sabe, eles projetam o Brasil como um país central na geopolítica mundial, notadamente em torno da construção de um Estado-agente de negociação, capaz de mediar conflitos potenciais e de construir cenas de pragmatismo que interrompem escaladas geopolíticas perigosas. </p><p>Esse papel é bem reconhecido internacionalmente e é por isso que foi muito significativa a presença, na posse de Lula, de um número de representantes oficiais estrangeiros quatro vezes superior àquele havido na posse de seu antecessor. </p><p>Lembremos, por exemplo, da capa e da reportagem de 14 páginas publicados pela revista britânica The <i>Economist</i>, em 2009, afirmando que o Brasil, de repente, havia estreado como ator relevante no cenário internacional. </p><p>Mas, claro, a herança maldita deixada por Bolsonaro abalou esse prestígio, rompeu alianças, provocou instabilidades geopolíticas na América do Sul e ainda por cima deixou tantas dívidas em instituições internacionais que o Brasil está quase perdendo o direito de voto, em algumas delas. </p><p><b>Integração latino-americana</b> </p><p>A América Latina será uma prioridade, algo muito anunciado e evidente, um dos fundamentos dos governos anteriores do PT. Dois elementos fundamentam essa aproximação: a integração econômica do subcontinente, que dinamiza a economia de todos os parceiros e, principalmente, a do Brasil; e o capital político internacional obtido pela liderança do Brasil nesse processo. Muita gente fala que o interesse pela integração latino-americana tem um fundamento político-ideológico, relacionado à colaboração entre de governos socialistas, mas isso não tem fundamento, primeiro porque os governos mudam, segundo, porque a diplomacia não é, normalmente, regida por isso, mas sim pela geopolítica – e o que a fundamenta é a economia política, e não a abstração siderada, como se viu no governo anterior. </p><p>Nesse sentido, uma reaproximação do Brasil com a Venezuela será, provavelmente, um elemento central da política internacional do Brasil nos próximos ambos, e isso não por razões ideológicas, e sim por razões bem pragmáticas, a um tempo econômicas (as trocas econômicas com a Venezuela têm um potencial imenso) e geopolíticas, pois com sua política de isolar a Venezuela, o governo Bolsonaro transformou o Brasil num fator de instabilidade regional, pois assim permitiu que a geopolítica do subcontinente passasse a ser disputada entre Estados Unidos, Rússia e China. </p><p>Mas a diplomacia de Lula deve se aproximar, também, do Chile, porque o governo de Gabriel Boric representa uma possibilidade concreta de trazer o Chile para um diálogo e cooperações latino-americanas mais intensificados, rompendo com a tradicional tendência de bilateralidade política e econômica entre esse pais e os Estados Unidos. </p><p><b>Superar a herança bolsonarista</b> </p><p>Com efeito, a diplomacia do governo Lula parte da superação da política isolacionista e negacionista – abstrações sideradas – do governo Bolsonaro. Foi por causa dela que o país perdeu sua capacidade de influir sobre as grandes questões da agenda global. Essa política exterior afetou profundamente a imagem do país e retirou seu protagonismo no debate sobre as questões ambientais e climáticas. </p><p>Pior ainda: a política isolacionista levou o Estado brasileiro ao desatino de desmontar a UNASUL, sair da CELAC e iniciar o desmantelamento da união aduaneira do MERCOSUL. Além disso, passou a dar calote nas organizações internacionais das quais participa, devendo, atualmente, cerca de R$ 5,5 bilhões, o que pode levar a perda do direito de voto na Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e n a Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre outras. </p><p><b>Europa </b> </p><p>Afora as questões bilaterais que unem o Brasil a diferentes países europeus, há dois elementos catalisadores, no que tange à diplomacia brasileira: a) O acordo Mercosul-UE e b) A questão Otan/Guerra da Ucrânia. </p><p>O acordo birregional Mercosul-EU, provavelmente, será renegociado, com a liderança decisiva do Brasil, para a inclusão de dois elementos vitais: a) a criação de mecanismos para que o sul possa negociar em melhores bases produtos industrializados – ou seja, com maior valor agregado e b) um protocolo complementar para a área ambiental. </p><p>O grande obstáculo desse acordo é que ele tende a levar a um processo de corrosão da base industrial dos países do Mercosul, porque se centra na redução de alíquotas de comércio de produtos primários do sul contra a redução de alíquotas de comércio de produtos industrializados do norte. É esse padrão de trocas que torna o acordo difícil: ele reduz a competitividade da indústria nacional e contribui para a desindustrialização – sendo o reforço da indústria e a reindustrialização compromissos centrais do governo Lula atual que, inclusive, colocou o vice-presidente Alckmin na cabeça do Ministério da Indústria e Comércio. </p><p>Porém, suspeito de que a diplomacia de Lula tende a perceber que o retorno de Lula e seu compromisso mais do que explícito com a preservação ambiental são trunfos que permitem uma renegociação do acordo. </p><p>Trata-se de um desafio mas, também, de uma oportunidade. Lula já deu indícios de que a diplomacia do seu terceiro governo será pautada que questão ambiental/climática. Em termos diplomáticos, esse será o grande esforço de <i>compliance</i> do Estado brasileiro e, mais que tudo, a chance de consolidação do país como ator global influente. </p><p>De quebra, esse protocolo complementar serviria para dar mais sentido a um acordo que teria todo sentido anos atrás, quando Donald Trump estava implodindo o sistema de Brenton Woods, que estruturava o comércio multilateral mas que, atualmente, se tornou secundário diante de outras urgências. </p><p>Em relação à Guerra na Ucrânia, a diplomacia de Lula sabe, muito bem, que não se trata de um conflito meramente regional, mas sim de uma guerra globalizada, manipulada à distância pelos EUA, tanto diretamente como através de seu braço militar-político, a OTAN. </p><p>A visão de Lula sobre o assunto ganhou contornos claros quando, em maio de 2022 disse, em entrevistas à revista Time, que a Ucrânia é tão culpada por essa guerra quanto a Rússia. Claro, foi muito criticado nos EUA e na Europa Ocidental por essas palavras, mas elas demarcam o tom de neutralidade do país. Há uma questão comercial de fundo: a dependência do Brasil à Russia, na questão dos fertilizantes agrícolas (insumo central, num setor estruturante da balança comercial brasileira, cabendo lembrar que o país importa 85% dos fertilizantes que utiliza, a maior parcela, de 23%, da Rússia) e a importância da Europa nessa mesma balança comercial, afora o acordo União Europeia/Mercosul... </p><p>No contexto presente, há uma tendência clara: o governo Lula, de um lado, tende a não concordar ou apoiar a invasão russa e, de outro, tende a explicitar sua postura crítica em relação à toda expansão da Otan. </p><p><b>EUA e China</b> </p><p>Atualmente não há como evitar a multidimensionalidade da questão. Não há como preterir um país em relação a outro – tal como buscou fazer o governo Bolsonaro. E, claro, essa multidimensionalidade é um dos desafios centrais da política externa de Lula. </p><p>Nos seus dois governos anteriores, Lula desenvolveu uma política centrada no pragmatismo, ampliando as relações comerciais com a China (a pondo de torná-la, em 2009, o principal parceiro comercial do Brasil), sem dificultar ou minorar as relações históricas da diplomacia brasileira com Washington. Porém, na última década os EUA vêm pressionando seus parceiros a terem posturas não-pragmáticas e claras. Tem-se aí um dos grandes desafios do governo atual. </p><p>Até porque também a China tende a fazer – senão pressões políticas à moda de Washington – propostas tentadoras. O presidente Xi Jinping, ao saudar Lula após a eleição, já mencionou a perspectiva de “um novo patamar” para a “parceria estratégica” entre os dois países. E isso envolveria, provavelmente, importantes investimentos em infra-estrutura no Nordeste e na Amazônia, principalmente no Maranhão e Pará, considerando a estratégia chinesa de diversificar a sua fonte de minério de ferro para reduzir sua conhecida dependência da Austrália. </p><p><b>OCDE</b> </p><p>Em relação à adesão do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), isso resta uma incógnita, mas o mais provável é a permanência do Brasil na condição de “observador” e como membro (cada vez mais ativo) do Centro de Desenvolvimento da OCDE, o que daria mais mobilidade para o país como <i>player</i> global. </p><p>Lembremos, o grande problema da adesão à OCDE é que, com ela, o Brasil aceita abrir mão do status de país emergente na OMC (Organização Mundial do Comércio), instituição onde sua diplomacia tem se esforçado arduamente, nas últimas décadas e, na qual esse status de “país emergente” constitui um ativo político e econômico maior.</p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-12003846538754801602023-01-02T10:00:00.026-03:002023-01-02T12:55:18.096-03:00Comentário sobre o Ministério das Comunicações no governo LulaMe uno ao coro dos descontentes para manifestar minha indignação a respeito da nomeação de Juscelino Filho, deputado federal pelo União Brasil do Maranhão, para o Ministério das Comunicações (o Minicom). <div><br /></div><div>Além de pertencer ao União Brasil, um partido que sequer se considera fazendo parte da base do governo e além de ser um indivíduo que votou pelo impeachment de Dilma, comemorou a prisão de Lula e e fez parte da base de Bolsonaro, não tem nenhum conhecimento particular da área da comunicação, bem como nenhuma inserção no campo. Aliás, é médico de profissão. </div><div><br /></div><div>Há dois ministérios dedicados às questões da Comunicação, no primeiro escalão da República: o referido Minicom e a Secretaria de Comunicação Social, esta dedicada ao trabalho de informação e comunicação sobre as ações do Governo, que será comandada pelo deputado federal Paulo Pimenta, do PT-RS. </div><div><br /></div><div>A comunicação é uma questão estratégica e absolutamente central na sociedade contemporânea. O impacto das tecnologias da informação e da comunicação sobre o mundo do trabalho, sobre a saúde, a educação os direitos humanos etc ganha uma dimensão geopolítica e social inédita na história.
Além disso, sua importância é particularmente central no confronto político contemporâneo, particularmente no Brasil, onde o fascismo faz um uso extremo das armas de desinformação e onde a grande mídia privada tem uma atitude corporativa que foge ao bom senso e ao interesse público. </div><div><br /></div><div>A mídia, à falta de uma regulamentação razoável, foi um agente central no Golpe de 2016 e atua, politicamente, segundo interesses específicos de setores financistas da economia. Por outro lado, as duas últimas eleições presidenciais foram marcadas pela manipulação e pela desinformação, como instrumento político-eleitoral, nas redes sociais e mídias digitais. E isso numa dimensão tão ampla que se pode falar mesmo em mudança cultural, ou estrutural, da vida social brasileira. </div><div><br /></div><div>Por tudo isso, para enfrentar o fascismo é fundamental fazer a disputa da comunicação. Ou seja, é preciso que o Ministério das Comunicações seja controlado pelo campo progressista.
O Ministério da Comunicação, no passado, tratava centralmente da questão das concessões de radio e tv, mas, hoje, teria uma agenda urgente a tratar: </div><div><br /></div><div>1. A inclusão digital, particularmente a questão da ampliação da cobertura de alta conexão no país, particularmente as escolas. </div><div><br /></div><div>2. A regulamentação da atuação no país das grandes empresas de tecnologia, as chamadas big-techs, como as empresas de telefonia, o Telegram, o Twitter, o Facebook, a Microsoft, a Apple etc. </div><div><br /></div><div>3. A fiscalização da desinformação.
4. A promoção da diversidade e do acesso à informação.
O que, disso tudo, poderá avançar com um ministro fora do campo progressista?
Bom, o Grupo de Transição sugeriu que a questão da regulamentação das big-techs possa ir para a Secom, com apoio da Casa Civil. Porém não há como a Secom absorver as demais questões, porue elas são funções explicitas do Minicon. </div><div><br /></div><div>Ah, outras duas propostas do GT para a Secom snao muito bem-vindas e é importante registrá-las: </div><div><br /></div><div>a) A Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) volta para a esfera da Secom` </div><div><br /></div><div>b) A criação, na Secom, de uma Secretaria da Comunicação Digital – uma secretaria operacional, para lidar com as mídias sociais e com a internet em geral.
Uma nota extra sobre o Minicon. </div><div><br /></div><div>Esperava-se que a vaga agora ocupada pelo deputado federal maranhense Juscelino Filho, coubesse ao deputado federal Paulo Teixeira, do PT, nome apoiado por todo mundo ligado à área das comunicações. Paulo Teixeira acabou sendo deslocado para a pasta de desenvolvimento agrário, para a qual estava cotado Reginaldo Lopes, líder do PT na Câmara e nome igualmente competente para o posto. Lopes, por sua vez, cabe lembrar, seria candidato ao Senado por Minas, com forte chance de ser eleito, mas desistiu dessa candidatura, a pedido de Lula, para compor o apoio à candidatura de Alexandre Silveira, do PSD, no contexto da articulação com o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Calil. Calil exigiu o apoio do PT à candidatura de Silveira e, agora, Silveira será ministro de Minas e Energia e Reginaldo será o líder do PT na Câmara. </div><div><br /></div><div> Por fim, cabe dizer, com todas as letras: a política de comunicação foi um dos grandes erros estratégicos dos governos anteriores do PT. Mesmo quando um petista ocupou o Ministério das Comunicações, Paulo Bernardo, manteve-se a mesma política bífida de – por um lado, protelar as grandes questões referentes à construção de marcos relatórios para o setor e à inclusão digital e, por outro, manter a velha política de transferência de recursos, efetivamente elevadas verbas publicitárias, para os monopólios midiáticos. Essa política, seja vista como atitude tecnicista e republicana, seja vista como uma composição de forças políticas, apenas contribuiu para o avanço da guerra híbrida que levou ao Golpe de 2016 e ao bolsonarismo. </div><div><br /></div><div> A comunicação não é uma questão a mais, no jogo político. Ela está no centro e, às vezes é o próprio jogo político. Há duas grandes batalhas a serem travadas: a cultura, que produz símbolos e a comunicação, que produz fluxo. E símbolo + fluxo = poder.
Aparentemente, o PT continua vendo a comunicação como uma peça secundária no jogo político – visão essa que é pautada pela ilusão simplória e equivocada de que está agindo com pragmatismo.
</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-36657509480757823882023-01-01T22:42:00.002-03:002023-01-03T21:01:18.631-03:00Nunca é tarde para cedo madrugar<p>Talvez numa vibração de Lula empossado, foi dando vontade de falar sobre política e questões amazônicas, como fiz durante muito tempo neste blog. A velha vontade de falar e de participar do debate público e por pragmatismo... Pragmatismo digital, porque percebi que, mesmo sem publicar nada, aqui, durante meses, ele segue tendo em média 700 consultas por mês aos seus arquivos. Dentre todas as redes sociais de que faço parte e também o site de divulgação científica (<a href="http://fabiofonsecadecastro.org">fabiofonsecadecastro.org</a>), meu site literário (<a href="http://fabiohoraciocastro.com">fabiohoraciocastro.com</a>) e a NAU, minha newsletter de difusão literária, o Hupomnemata segue um espaço vivo. </p><p>Pragmatismo significa fala como ação, enquanto ação, praxis e, nesse sentido, oportunidade de interação, diálogo e co-ação.</p><p>Ontem mesmo falava a um amigo que tinha pensado em reabrir o Hupomnemata para poder escrever um pouco mais sobre política e sobre as coisas que vão acontecendo na Amazônia, principalmente, mas por todo lado, neste momento decisivo do país e do mundo. Aí vim aqui e descobri esses dados sobre o acesso a este blog. Mais 5 mil pessoas entraram aqui nesses seis meses em que o velho Hupo ficou dormindo. Como dizia W. Benjamin, um sono povoado - povoado de sonhos. E nunca é tarde para cedo madrugar... </p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-22926347221303443502023-01-01T20:00:00.001-03:002023-01-01T20:00:00.172-03:00Mensagem de ano novoPassando aqui (Maria Clara e eu) para desejar um grande 2023, com toda coragem para mudar tudo o que foi bichado pelos golpistas e facistas. Sofremos muito, perdemos muito, mas vai passar, porque temos muito trabalho para fazer e muita garra para fazê-lo (e isso vai ser muito bom!). Desde amanhã começaremos a reconstruir tudo. Grato por não largarem nossas mãos e esperamos ter feito o mesmo por vocês. Seguimos com #LulaPresidente. Com coragem, alegria e generosidade. Sem nenhum medo de ser feliz!
<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQLIR_7y6TXWpelRrqkf2GBW9Wf6cC_umoSUO-UbSzOzhsajBYCCCkwFc9isOcBrDOkmBaa09bLTD1hdPrgaNJXnYekMR666idBqAmIPRAZ9OBCRImnjVOFN5TFHlLepHO0QCJazSgRDBD_G5YZSaV_aPcDXf1X-KHYE3J82JFFNDlLVPiqr0/s1072/1%20Captura%20de%20%20Tela%202022-07-14%20a%CC%80s%2015.25.31.png" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="715" data-original-width="1072" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQLIR_7y6TXWpelRrqkf2GBW9Wf6cC_umoSUO-UbSzOzhsajBYCCCkwFc9isOcBrDOkmBaa09bLTD1hdPrgaNJXnYekMR666idBqAmIPRAZ9OBCRImnjVOFN5TFHlLepHO0QCJazSgRDBD_G5YZSaV_aPcDXf1X-KHYE3J82JFFNDlLVPiqr0/w400-h266/1%20Captura%20de%20%20Tela%202022-07-14%20a%CC%80s%2015.25.31.png" width="400" /></a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-64958423187628147222023-01-01T16:00:00.001-03:002023-01-01T16:00:00.198-03:00Uma nota sobre o cínico pronunciamento do general MourãoÓtimo ele reconhecer, ainda que indiretamente, que o país foi levado ao caos, mas dizer que os responsáveis por tudo o que ocorreu, nos últimos quatro anos foram os parlamentares, o Executivo e o Judiciário, que « não se entenderam » e dizer que as Forças Armadas estão pagando a conta por isso é absurdo.
Ora, as Forças Armadas tiveram 8 mil cargos na gestão executiva do país, ele próprio foi vice-presidente, receberam todo apoio, desde recomposição salarial até pretígio simbólico!
Na minha opinião, mais do que o Inominável e do que o bolsonarismo, o que levou o país ao caos foram, justamente, as Forças Armadas, seja por incompetência de gestão, seja por inação, seja por se prestarem a esse papel ridículo de fazerem parte de governo.
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-79101452675860579442023-01-01T15:30:00.001-03:002023-01-01T15:30:00.187-03:00O que achei do Ministério Lula 3?Em geral gostei muito, porque esperava menos. Tem problemas, claro, mas é um bom começo. E por que eu esperava menos? Porque, como sabemos, é um governo de composição e é preciso acomodar muitas legendas e, ainda, atrair base parlamentar. Lula tinha que projetar a frente ampla que o elegeu no ministério e, além disso, atrair partidos para formar uma base parlamentar mais confortável.
Lula não ganhou as eleições só com a esquerda. Entnao, o governo dele tem que ser de composição e adotar o rótulo de « governo de reconstrução nacional ».
E não apenas para governar, mas, também, para isolar e sufocar o bolsonarismo.
Eu imaginava que fosse preciso ceder mais, e por isso digo que fiquei satisfeito com os números:
- 13 ministros do PT (hehehe, o número foi proposital?), o que equivale a 1/3 dos ministérios… e , fora isso, outros 4 são próximos.
- 11 ministros sem filiação partidária e com grande e significativa diversidade
D )o restante 1/3, forma-se a composição: PSB, MDB e PSD têm 3 ministérios cada um, PDT e da União Brasil (o partido, entretanto, não se considera parte da base do governo) têm 2, e PCdoB, Rede e PSOL têm 1 ministério.
9 partidos contemplados – da base de apoio, Solidariedade, Verde e Avante ficaram sem ministério, mas certamente estarão no segundo escalão.
Esse patrimônio leva a 262 votos na Câmara, o que equivale a 51%, a maioria do dia-a-dia, para aprovar medidas provisórias, projetos de lei etc – a aprovação das emendas constitucionais, que demandam maioria qualificada (3/5 da Casa) fica dependendo de negociações extras. No Senado, o Governo terá 45 senadores, o equivalente a 55% da casa.
São bons números, mas outros são menos bons :
- 11 mulheres e 26 homens (numa equação simples, 2 para 1) – poderia ser mais, não é? Penso que Lula deveria ter exigido, aos partidos de apoio, a indicação mais paritária de mulheres, porque as indicações de mulheres veio dele, veio das escolhas diretas de Lula, e não dos partidos aliados.
- 31 dos 37 ministros são brancos, o que é gravíssimo...
A distribuição dos ministros na federação também é um indicativo: 11 atuam no Nordeste, 9 em São Paulo, 6 no Rio de Janeiro, 3 no Centro-Oeste, 2 na Amazônia, 1 em Minas e 1 no Rio Grande do Sul. É um mapa que traduz bem a importância das regiões e estado na eleição de Lula.
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-64899956478540691862023-01-01T14:20:00.003-03:002023-01-01T14:20:37.224-03:00Feliz 2023 para todxs e Viva Lula presidente<p>Feliz 2023 para todxs e Viva Lula presidente. </p><p>Outro não teria conseguido no tirar das trevas bolsonaristas. </p><p>Como estou me sentido? Primeiramente feliz, mas também aliviado. Os últimos quatro anos foram, para mim (e, imagino, para muitos) de imenso desgaste, sobretudo pessoal. Eu poderia ter trabalhado e ajudado mais, mas não consegui, sob o peso da sensação de impotência, apesar dos esforços. Mas agora estou me sentindo feliz, contemplado e imensamente esperançoso. </p><p>Continuemos. Temos a grande missão de lutar, agora, contra o fundamentalismo brasileiro contemporâneo. Por tal, entendemos a continuação da violência, da mentira, da vulgaridade e da imbecilidade bolsonariqtas. Não acabou, mas agora nós estamos no poder. </p><p>Como combatê-lo? Penso que com três medidas : 1) Denunciar suas raízes históricas e culturais, para que se forme uma consciênia crítica capaz de, a longo termo (num futuro que imagino precisar de algumas décadas de acúmulo dialógico), destruir as narrativas cínicas, reinventar as identidades e repactuar, em níveis mais justos, as ideias de Estado e de nação; 2) Julgar, com todo o rigor, os crimes cometidos, tanto por civis como por militares, tanto por pessoas como por instituições e punir, quando for o caso, com discernimento e coragem; 3) Cuidar, cuidar dos que foram massacrados e abandonados e, também, cuidar dos lugares, do meio-ambiente, das cidades; proteger, instituir novos marcos de proteção social, recolher e reconhecer sujeitos, ouvir suas histórias, consolar, garantir direitos. </p><p>No plano econômico, tudo isso se concentra no macrofato estruturante de tudo o que há de ruim no Brasil: a resiliência da desigualdade social. Se, em 2000, o 1% mais rico da população brasileira detinha 44,2% da riqueza nacional e se, em 2010, esse número caiu para 40,5%, ele subiu, em 2020, depois do Golpe de 2016, para 49,5%. </p><p>Até nos Estados Unidos (“pátria do liberalismo”, vitrine idealista dos néscios brasileiros) a situação é menos chocante: lá, o 1% mais rico da população detém, em 2020, “apenas” 35% da riqueza nacional. </p><p>O que isso quer dizer? Qual a mensagem que precisa ser escutada desses dados? Que, se precisamos, com urgência, de políticas públicas pautadas por uma estratégia de inclusão e de reparação, precisamos, à médio e longo prazo, de políticas públicas estruturais, comprometidas com a transformação estrutural da sociedade. </p><p>E isso significar distribuir poder. Toda desigualdade social e econômica é o produto imediato da desigualdade no controle e posse dos aparelhos produtivos. </p><p>Viva Lula. Sobrevivemos.</p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-81410822531229559712022-06-27T21:32:00.000-03:002022-06-27T21:32:07.854-03:00Palacete Faciola: lembranças e (bom) contradições...<p><b><span style="font-size: large;">1. </span></b></p><p>Feliz com a recuperação/restauração do palacete Faciola. Parabéns ao governo do Estado por isso. Ainda não fui lá, mas vi as fotos e escutei o que os amigos disseram. Tudo muito positivo. </p><p>Dona Inah deve estar feliz, lá do outro lado. </p><p>Lembro dela, pessoa avançadíssima. De um lado protegendo o prédio, um verdadeiro museu privado, como uma guardiã incansável. De outro, fazendo da sua própria casa o que alguns veriam como o oposto ao palacete: a casa « moderna » por excelência. </p><p>Dona Inah Faciola era vizinha e amiga de minha avó. Ambas moravam na Generalíssimo, esquina com a Antônio Barreto, uma de cada lado da rua. </p><p>No começo, minha avó tinha resistência a se entrosar com a vizinha, tal como muita gente no tempo deles. É que dona Inah era « separada » e, pior, « recasada » no Uruguai. Desses escâdalos que, na verdade, não escandalizavam ninguém mas que acabavam sendo um empecilho no trânsito com pessoas, digamos, mais sensíveis. </p><p>Mas quase imediatamente essa resistência se quebrou. Minha avó foi ficando curiosa com dona Inah, que era muito, muito moderna. Aliás, muito mais do que moderna. E foi aos poucos se aproximando dela. E descobriu que, além de tudo, a Inah também era uma simpatia. E mais: uma gentileza, uma elegância, uma inteligência… Fascinante dona Inah Faciola… Uma vez ela nos recebeu no « palacete », com bolo, suco, café. Minha avó queria que eu conhecesse aquele museu privado. Dona Inah foi contando as histórias da casa e dos objetos… </p><p>Não conheci, infelizmente, a « casa moderna », mas guardo relatos.
Meu avô Oscar era muito amigo tanto do primeiro como do segundo esposo de dona Inah Faciola. O primeiro deles era o Armando Chermont, não o reputado dentista, mas o seu tio. O segundo, era Narciso Braga, um português que fez fortuna com a loja Âncora, especializada em eletrodomésticos e que, mais tarde, tornou-se um dos dois sócios da famosa Importadora de Ferragens. O outro sócio, para constar, foi o Antonio Velho, pai de Léa Velho e sogro de Hermógenes Condurú. </p><p>Aliás, foi Narciso Braga e Antônio Velho, quem deram a dica ao meu avô para comprar a velha casa do outro lado da rua, esquina Generalíssimo com Antônio Barreto, pô-la abaixo e construir a sua, como queria. O mesmo que ele fez, mas ao seu gosto, "moderna, americana". </p><p>Ou melhor, ao gosto da esposa. </p><p>"A Inah quer uma casa moderna, Oscar, uma casa americana, vê se eu posso com isso!" </p><p>Meu avô ensimesmou. O que era uma "casa moderna, americana"? Bom, a princípio, era uma casa quase de rodinhas: o bar tinha rodinhas, algumas cadeiras, o fogão, a mesma de centro, a cama… (bom, depois tiraram as rodinhas da cama, porque elas se revelaram impráticas e até mesmo constrangedoras). </p><p>Certo, certo, isso é pitoresco, mas o fato é que a coisa era séria, porque a « casa moderna » tinha móveis de um design estiloso, inesperado, avançado e belo. E também tinha funcionalidades e eletrodomésticos que não eram vistos em outros lugares da cidade, tudo mandado biuscar na "América"!
Foram vizinhos muitos e muitos anos, até que um dia meus avós resolveram se mudar, algumas quadras mais à frente, para o largo de Nazaré. Para um apartamento no prédio que se inaugurava em 1965, made by Judah Levy, sócio de meu avô: o Rainha Esther. </p><p>E aí minha avó queria um "apartamento moderno, americano". Pediu ajuda e foi dona Inah quem decorou – não sem aperreios… Mas daqui a pouco voltaremos a este assunto. </p><p><b><span style="font-size: large;">2.</span></b></p><p>Falemos, antes, do palacete Faciola, e dos próprios, essa gente geralmente sensível, amigas das artes, da música e dos livros. </p><p>A família tem origem italiana, como o nome indica. Inicia com Giovanni Faciolo, nascido em Francavilla-Bisio, próximo de Gênova, na Itália. Faciolo imigrou para o Brasil por volta de 1870, estabelecendo-se como comerciante, primeiramente, em São Luis do Maranhão, onde se casou com Michaella Jansen Ramos de Almeida, filha de Antônio Ramos de Almeida, proprietário da Livraria Universal, nessa cidade. Seus negócios não deram muito certo do Maranhão e ele tentou a sorte no Porto, em Portugal. Por fim, resolveu retornar à América, estabelecendo-se, por volta de 1880, em Belém, cidade de economia mais dinâmica. </p><p>Em Belém passou a ser conhecido como João Faciola, e se tornou um grande comerciante. Criou em Belém seus nove filhos, que foram: Victor José d'Almeida Faciola, nascido no Porto, a 28-07-1875 e falecido ainda criança, gêmeo de Maria da Glória d'Almeida Faciola, falecida em Belém a 25-03-1931; José d'Almeida Faciola, também nascido no Porto a 23-09-1877; Antônio d'Almeida Faciola, nascido em São Luis a 08-07-1878; João d'Almeida Faciola, nascido no Porto, em 1879; o segundo Victor d’Almeida Faciola, nascido em Belém, em 1881; Maria Josephina d'Almeida Faciola, nascida em Francavilla, Itália, a 03-10-1883 e falecida em Belém, a 25-05-1931; Maria Anna d'Almeida Faciola, nascida em Francavilla, a 30-06-1885) e Maria Laura d'Almeida Faciola, também nascida de Francavilla, a 12-04-1892. </p><p>José, o mais velho, foi um grande empresário de Belém. Além de sócio da Cervejaria Paraense, teve o cargo público de grande prestígio, no seu tempo, de provedor da Santa Casa de Misericórdia do Pará. Amante da literatura e dos livros, foi proprietário de uma das grandes livrarias de Belém, a Maranhense, localizada na velha rua João Alfredo. Contava-se que tinha comprado todas as bibliotecas de São Luis para revendê-las em Belém, coisa de 30 mil livros, vindos todos num barco fretado que teve sua entrada na baía do Guajará comemorada por foguetes... </p><p>Antônio, o segundo filho, foi o Faciola mais famoso. Era músico de formação, tendo estudado no prestigioso Conservatório de Milão. Retornou ao Pará mas, em vez de seguir a carreira musical, acabou assumindo a maioria dos negócios do pai. Foi um comerciante importante e, tal como o irmão José, foi sócio da Cervejaria Paraense. Foi também banqueiro, um dos sócios majoritários do Banco do Pará. E fez carreira política, sendo eleito deputado e senador estadual, além de prefeito de Belém. Casou-se com sua prima, Servita de Almeida, nascida em São Luís e falecida em Belém, em 24-09-1930. </p><p>Há muitas histórias a seu respeito, notadamente as que falam da sua sensibilidade pelas artes. Foi um grande colecionador de peças decorativas, formando um acervo que se tornou conhecido em todo o Brasil e que foi vendido em 1982, depois da morte de dona Inah, sua filha, guardiã dessas peças. Foi de sua iniciativa a aquisição, quando prefeito de Belém, do relógio que orna a Praça do Relógio, em frente ao Ver-o-Peso, que teria pago com recursos próprios, sem onerar os cofres municipais. E há toda uma lenda sobre um certo rolls-royce, de sua propriedade, o rolls-royce (e único) primeiro de Belém. </p><p>Victor Faciola, o filho homem caçula, foi uma das pessoas mais intrigantes da Belém da era da borracha. Tenho umas duzentas histórias dele para contar, mas não vou contar aqui, porque o Facebook me baniria. Ficam para as histórias secretas de Belém, que um dia escrevo. Só antecipo que tinha um talento especial para as apostas: as corridas de cavalo e as corridas de bicicleta, ambas importantes na diversão de Belém da era da borracha. Sua rixa, nas corridas, com meus parentes Vasco da Gama e Abreu e Pedro Horácio e Silva, ficaram famosas. </p><p>Das mulheres da família, as filhas de João Faciola também foram conhecidas pelos talentos musicais, literários e pela afamada sensibilidade. Maria da Glória, pianista, foi casada com Gonçalo Cotrin e teve duas filhas, Leonor e Neide. Maria Josephina não se casou, faleceu solteira, em Belém, aos 48 anos, reputada professora de música. Maria Anna, a terceira filha, casou-se com ....de Souza (não sei seu pré-nome) e teve quatro filhos, que foram Maria Irene, Gelcira, Orlandina e Jorge Faciola de Souza. Por fim, a filha caçula, a bela Maria Laura, pintora de talento e cantora, casou-se, primeiramente, com o juiz de direito Joaquim Augusto de Andrade Freitas, filho do famoso Dr. Freitas que nomeia rua e escola e que, viúva, desposou Edgar da Gama e Silva Chermont. </p><p>Na geração seguinte o nome mais destacado foi o filho mais velho de Antônio d’Almeida Faciola, o dr. Oscar d'Almeida Faciola, nascido em Belém a 03-10-1899 e que foi advogado, diretor e principal acionista do Banco do Pará. Seu casamento com Consuelo Cardoso, filha de um fazendeiro do Marajó, foi um acontecimento registrado na revista Belém Nova e nos jornais da época. Foi ele que herdou o “palacete” ora recuperado. Outros filhos de Antônio foram Edgar Faciola, nascido em 1906 e falecido em Belém em 1968, casado com Cléa Rodrigues dos Santos e a dona Inah, antes referida. </p><p><b><span style="font-size: large;">3. </span></b></p><p>E, assim, voltemos à dona Inah. </p><p>Mas só para deixar uma imagem dela. O novo apartamento de minha avó, no espaçoso Rainha Esther, largo de Nazaré, ficou lindo. A cozinha era moderníssima, cheia de aparelhos – cabendo, no entanto, revelar que foi o primeiro uso do seu “espremedor de laranjas”, em voltagem incorreta, que provocou aquele curto-circuito que apagou até as luzes da basílica, em outubro de 1965. </p><p>E havia um “gabinete”, com móveis de madeira moderníssimos, tipo Brasília, e uma estante meio pontiaguda, cada prateleira apontando para um fuso horário do mundo. Camas, armários, sofás, vasos e banheiras, tudo extra-moderno, tudo bossa-nova, tudo JK. </p><p>Só uma coisa minha avó Vera não admitiu: rodinhas. </p><p>“Maria Vera, fiz por tua casa o que não consegui fazer pela minha, porque o Narcizo não entenderia tudo...” </p><p>Por suposto, minha avó entendia, mas meu avô, talvez reticente com tanta modernidade, comentou com o Narcizo Braga, </p><p>“Meu irmão” (assim o tratava), “até entendo. O conceito de banheiro como sala de estar é agradável e com o resto eu me acostumo; só reclamo mesmo é daquela poltrona, a que tem um buraco no lugar da bunda!” </p><p>Cresci nesse apartamento moderno, largo de Nazaré, edifício Rainha Esther, casa de meus avós Oscar e Maria Vera, decorado sob conselhos de Inah Faciola e sob protestos de Narcizo Braga. </p><p>Eu, menino curioso, até nem me importava, mas não entendi mais nada na vida quando minha avó me levou para conhecer o “palacete” de dona Inah, o palacete Faciola, que ela amava e protegia como um cão, mas onde nada, nada, nada vezes nada, era moderno... </p><p>Minha avó e dona Inah faleceram, ambas, em 1982. A coleção de Antônio Faciola foi dispersada e as "coisas modernas" de suas casas, igualmente. As casas e o apartamento "modernos" foram transformados. Não sobrou nada. O palacete Faciola, no entanto, felizmente, foi recuperado. </p><p>Acho que vou lá amanhã.</p><p>Algumas imagens: </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhkZEnYzyUSIa_aVqTNh7R2NXPrE0rQ26cKCiZiOQNBTnKWYxHsFVWbSED0IDwmsPquqQ7gDaLMt4VCPTldPI5GqTqJTWuK41cldxlQHj197ODfj9X53tdSjNrIl5yjgV4k3uzcOnnYzd1oAtot3dtn-izb-ZfoAMWakGBKPJ1BaHzvFb_k40/s1146/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.33.18.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="775" data-original-width="1146" height="270" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhkZEnYzyUSIa_aVqTNh7R2NXPrE0rQ26cKCiZiOQNBTnKWYxHsFVWbSED0IDwmsPquqQ7gDaLMt4VCPTldPI5GqTqJTWuK41cldxlQHj197ODfj9X53tdSjNrIl5yjgV4k3uzcOnnYzd1oAtot3dtn-izb-ZfoAMWakGBKPJ1BaHzvFb_k40/w400-h270/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.33.18.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;">Dona Inah, numa reportagem da revista Claudia, no palacete Faciola. </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;"><br /></span></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF6M40EztpqOpYl_zFXNAAzIcu6rO_1uv9wkjsFqmZHTDDLBhUvmxXGWbuO-jy6UUj1eWZ-aZuPxOd1wefgq8WzTas8Y7Q__M-E2OWcSj4LDphDATdjn1de9Ze1VZZirH5wdFWxiAprCeWPV0le6rUzQZ9aWKEe3joL1XEJrM9rbEu_YnImOI/s1059/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.33.33.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="643" data-original-width="1059" height="243" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF6M40EztpqOpYl_zFXNAAzIcu6rO_1uv9wkjsFqmZHTDDLBhUvmxXGWbuO-jy6UUj1eWZ-aZuPxOd1wefgq8WzTas8Y7Q__M-E2OWcSj4LDphDATdjn1de9Ze1VZZirH5wdFWxiAprCeWPV0le6rUzQZ9aWKEe3joL1XEJrM9rbEu_YnImOI/w400-h243/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.33.33.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;">O pai de dona Inah, Antônio d’Almeida Faciola, pianista, poeta, colecionador de arte; futuro prefeito de Belém, num “corso” de carnaval, anos 1910. </span></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4zwK1fca-abHxOvLejd39NT04cJehzLPkqnQ73sx0Qz0agKeJ7jApdfrBwzr9OUlOGnl_a3CZ0Bnwcxmtp5BySXJAjF_-gyyZAlTxjsHTfFBF6H7imZ-pN9O4bNH7ouEXtVe4KNNpYhMioWdnV107sRfCKmJcl3UD7mXzSBXwEuNpQD7MiQQ/s637/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.35.49.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="509" data-original-width="637" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4zwK1fca-abHxOvLejd39NT04cJehzLPkqnQ73sx0Qz0agKeJ7jApdfrBwzr9OUlOGnl_a3CZ0Bnwcxmtp5BySXJAjF_-gyyZAlTxjsHTfFBF6H7imZ-pN9O4bNH7ouEXtVe4KNNpYhMioWdnV107sRfCKmJcl3UD7mXzSBXwEuNpQD7MiQQ/w400-h320/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.35.49.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;">A casa “moderna e americana” de dona Inah, canto da Generalíssimo com a Antônio Barreto. </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;"><br /></span></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjId9uephjFN8M5hns0m4uxMxXOpCWjfkK_XKK-LQm9CluW3XGpceITdB46LQ5L1qnkkK_ZhOR4-OcHjb-s04XfI7mvzmnufwllZAJRlyXn3EezTdFlAx2HN5sPpTFTpcw1gcEv8sSFJN2qwfH3Llg6jGxuXeH6QhUKHRILEUEgbvdeRS_0rOQ/s636/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.36.08.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="485" data-original-width="636" height="305" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjId9uephjFN8M5hns0m4uxMxXOpCWjfkK_XKK-LQm9CluW3XGpceITdB46LQ5L1qnkkK_ZhOR4-OcHjb-s04XfI7mvzmnufwllZAJRlyXn3EezTdFlAx2HN5sPpTFTpcw1gcEv8sSFJN2qwfH3Llg6jGxuXeH6QhUKHRILEUEgbvdeRS_0rOQ/w400-h305/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.36.08.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;">A cozinha da “casa moderna”, cheia de novidade. </span></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjte9R2r1BOoC1ZJkCzIqrBJmSIg55CfuKodPCI57J7QWBWC8KNTlx653_BFWl5LUO_2TBdhkK5FlOCoG_RQzHKrOeCSzChc_lDgjbNMtwijALdmwRfX0FLt772U479BU6WVAFmp3qHk5zYF1TbuqCkdL6Om-DfKIS9Cwdiwjjal_t7rUdigJc/s757/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.36.24.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="757" data-original-width="632" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjte9R2r1BOoC1ZJkCzIqrBJmSIg55CfuKodPCI57J7QWBWC8KNTlx653_BFWl5LUO_2TBdhkK5FlOCoG_RQzHKrOeCSzChc_lDgjbNMtwijALdmwRfX0FLt772U479BU6WVAFmp3qHk5zYF1TbuqCkdL6Om-DfKIS9Cwdiwjjal_t7rUdigJc/w334-h400/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.36.24.png" width="334" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;">O banheiro da “casa moderna”, uma sala de estar... </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;"><br /></span></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrsZgw1J-M-Xm8OODpAEzi5bzoPDGm6joz9yOSePfL-W_ZLKLDJj7n8KE_lVm6SPLIbX_Z136VV63F2GRcQ2K9b0dpcHxScwQnPZ-beqxVT-TrswLtW-w9MwVzJKU-Q8INEApLggu0awloZ5XV1CLGqc9i3EXMaVDfhZjGHd7_BIP6Vsm7yd8/s635/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.36.35.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="466" data-original-width="635" height="294" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrsZgw1J-M-Xm8OODpAEzi5bzoPDGm6joz9yOSePfL-W_ZLKLDJj7n8KE_lVm6SPLIbX_Z136VV63F2GRcQ2K9b0dpcHxScwQnPZ-beqxVT-TrswLtW-w9MwVzJKU-Q8INEApLggu0awloZ5XV1CLGqc9i3EXMaVDfhZjGHd7_BIP6Vsm7yd8/w400-h294/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.36.35.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;">O toucador da “casa moderna”, luzes por todos os lados... </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;"><br /></span></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzUeFSuRm9wcu9X8vo-TWs4dWmaAMYvCp1oqk31MnOBojbmuiI-bR5WXkQkthOlbXWV46DlzFxue-nn8pvynaB9p_qydaBjC0Txo5fwZb-j4ZobVmsvj5M1VInqOA509HW25FkhM0IBVMDC3zMXsLhf-U07vMAqR-A2lKZkckPkcdbxxnYy5I/s634/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.36.44.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="471" data-original-width="634" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzUeFSuRm9wcu9X8vo-TWs4dWmaAMYvCp1oqk31MnOBojbmuiI-bR5WXkQkthOlbXWV46DlzFxue-nn8pvynaB9p_qydaBjC0Txo5fwZb-j4ZobVmsvj5M1VInqOA509HW25FkhM0IBVMDC3zMXsLhf-U07vMAqR-A2lKZkckPkcdbxxnYy5I/w400-h297/Captura%20de%20Tela%202022-06-27%20a%CC%80s%2020.36.44.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;">O leito da “casa moderna” de dona Inah, já sem rodinhas...</span></div><br /><p><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-62542348465501027082022-06-11T18:47:00.006-03:002022-06-11T18:48:26.628-03:00Terça, dia 14/06, estarei em Paraty conversando sobre O Réptil<p><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhQKAR-VP1t_X0lOHXDTcY1b-2Q-wLzQqMV5B1TmKt8CcOD0qF-_xdjKO6Aq6KYEXYWI2TIXJ_tPkr-BTf4DLYws2nu2ohkeFZS67eNlAajiSGVgu5VyhevamrYozDbeCx8lREsPq1FsrVyzb-CsvskwgtUklWnZwymlXdkUbjantgoPpjy3-w" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="360" data-original-width="385" height="374" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhQKAR-VP1t_X0lOHXDTcY1b-2Q-wLzQqMV5B1TmKt8CcOD0qF-_xdjKO6Aq6KYEXYWI2TIXJ_tPkr-BTf4DLYws2nu2ohkeFZS67eNlAajiSGVgu5VyhevamrYozDbeCx8lREsPq1FsrVyzb-CsvskwgtUklWnZwymlXdkUbjantgoPpjy3-w=w400-h374" width="400" /></a></div><br />Próxima 3a-feira, dia 14 de junho, estarei em Paraty, RJ, discutindo "O Réptil Melancólico" com o Clube de Leitura do Sesc. Será a terceira seção de conversas sobre o livro, lá em Paraty, agora com a presença do autor. As outras duas ocorreram nos dias 31 de maio, 04 de junho passado. Muito legal essa programação - um "esquenta" para o festival Literário Arte da Palavra, que acontece em Paraty em julho - e no qual também estarei presente - e para a Flip, que este ano acontece em novembro (quando espero estar outra vez por lá).<p></p><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Horário: das 19 às 21h</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Local: Sesc Santa Rita - R. Dona Geralda, 320</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Centro Histórico, Paraty - RJ</div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-14456943285521497612022-06-09T15:51:00.002-03:002022-06-09T15:51:14.239-03:00Uma crítica de "O Réptil Melancólico" publicada no 451, da Folha de São Paulo<p><b><span style="color: #660000; font-size: large;">Por entre fissuras selvagens</span></b></p>
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<p>Atravessado por alegorias amazônicas e criaturas reptilianas, romance ilumina processos históricos</p>
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<p><a href="https://www.quatrocincoum.com.br/br/autores/joao-roriz"><small><strong>João Roriz</strong></small><br /></a><small>25mai2022 15h58 (01jun2022 02h43)</small></p>
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<figure class="wp-block-image"><img alt="articles-NQIeaQ6nass33AK" src="https://images.quatrocincoum.com.br/240/articles-NQIeaQ6nass33AK.jpg" /></figure>
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<!-- wp:heading {"level":5} -->
<h5><strong>Ilustração de Veridiana Scarpelli</strong></h5>
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<!-- wp:heading {"level":6} -->
<h6><strong>Fábio Horácio-Castro<br /></strong><strong><em>O réptil melancólico</em></strong><br />Record • 384 pp • R$ 54,90</h6>
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<p>Preocupado em resgatar o valor estruturante dos mitos e dos ritos, Claude Lévi-Strauss refuta a premissa que os despreza como acidentais ou casuais em relação ao conhecimento humano acumulado. Para o antropólogo francês, antes da ciência moderna e de sua métrica de validação, as práticas de observação, experimentação e reflexão informavam as comunidades. Marco nas ciências sociais, o conceito de <em>bricolage</em> para Lévi-Strauss é esse fazer científico “primeiro” (designação preferida por ele, em vez de “primitivo”).</p>
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<p>Lévi-Strauss contrasta o labor do <em>bricoleur</em> ao de um engenheiro. O engenheiro é refém de suas matérias-primas e de um ferramental preconcebido. O <em>bricoleur</em> executa tarefas com “um conjunto sempre finito de utensílios e de materiais bastante heteróclitos, porque a composição do conjunto não está em relação com o projeto particular, mas é o resultado contingente de todas as oportunidades que se apresentam para renovar e enriquecer o estoque ou para mantê-lo com os resíduos de construções e destruições anteriores” (Lévi-Strauss, <em>O pensamento selvagem</em>).</p>
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<!-- wp:heading {"level":5} -->
<h5></h5>
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<!-- wp:heading {"level":5} -->
<h5><img height="200" src="https://images.quatrocincoum.com.br/TpxnzAvX4wypIma.jpg" width="130" /><br /><strong>O réptil melancólico, romance de estreia de Fábio Horácio-Castro</strong></h5>
<!-- /wp:heading -->
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<p>Lembrei-me do antropólogo francês ao ler <em>O réptil melancólico</em>, romance de estreia de Fábio Horácio-Castro (heterônimo de Fábio Fonseca de Castro, professor na Universidade Federal do Pará). Como uma bricolagem que conecta o conhecido com o incógnito que não pode ser aprendido de forma usual, seu posicionamento de elementos de forma entrelaçada revela novos significados. Ao contrário de um engenheiro cujo projeto tem começo, meio e fim, e que usa matérias-primas e ferramentas com racionalidade utilitarista, a narrativa de Horácio-Castro percorre caminhos imprevistos, que mostram acasos e em que se apresentam desvios. Sua escrita não domesticada brinca conosco, leitores, mudando a narração e os cenários, retirando aspas, pontos e vírgulas para costurar diálogos ficcionais com pensamentos. Faz nos movermos por rastros entre fissuras, como seus répteis. Como literatura que arrisca, teve seus acertos reconhecidos pelo Prêmio Sesc de Literatura 2021 na categoria romance.</p>
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<h3>O duplo processo de violência, colonial e ditatorial, rasga os laços sociais dos personagens</h3>
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<p>A história de <em>O réptil melancólico</em> tem como pano de fundo um passado distópico. Ao contrário do resto do Brasil, que conseguiu sua independência de Portugal no começo do século 19, o estado do Grão-Pará permaneceu colônia portuguesa. Sua descolonização ocorreu somente na década de 60, enquanto lutas pela independência também eram travadas na África. Mas, em vez de se tornar um estado independente, o Pará foi anexado pela ditadura militar que se instalou no Brasil em 1964. O duplo processo de violência, colonial e ditatorial, rasga os laços sociais dos personagens e embaralha suas identidades. O livro tem como ponto de partida o exílio, condição transitória decorrente da brutalidade sofrida por quem se opôs à ditadura e que o situa num espaço-entre. A história inicia, assim, com um não lugar ou um entre-lugares, que se instaura entre aquele aonde se vai e de onde se vem.</p>
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<p>Felipe e sua mãe vivem na Europa, que recebe os exilados políticos do autoritarismo brasileiro. Felipe carrega consigo uma batalha de imaginações: aquelas construídas pelos outros exilados de uma terra que ele não conheceu, as suas próprias, de uma vida que poderia ter sido. Entre relatos de tortura e fábulas amazônicas, ele fantasia a cidade onde nasceu e que não vivenciou. Deixa sua mãe, que perdeu o desejo de retornar, e busca sua família paterna, que o acolhe, em especial seu primo Miguel. Na contramão de Felipe e desencantado com sua cidade, Miguel prepara sua partida para a Europa. A narrativa caminha entre desencontros que revelam novos achados.</p>
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<p>A trama da obra atravessa e é atravessada por alegorias amazônicas. Criaturas reptilianas se alternam na história: um lagarto reflete sobre o destino dos homens, um ghoûl explica mistérios aos humanos, um dragão de pedra assume a narração. Como bestiário, o livro compila reptilianos que observam, dialogam e narram.</p>
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<p>Cidades, casas e ruas compõem os arcos que sustentam a história e são percorridos por seus répteis. Os lugares refletem as sensibilidades dos protagonistas. Como condição de ontologias, os espaços sustentam os afetos dos personagens, como seus sentimentos de pertencimento. Outros lugares parecem independer dos seus visitantes, como a casa do Anfão, com seus mortos e seus répteis.</p>
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<p>Em nenhum lugar do livro se menciona expressamente que parte significativa da história se passa na cidade de Belém; todavia, a mesma insistência em não nomeá-la marca as pistas sub-reptícias que não deixam dúvidas de que se trata dela. A cidade amazônica por vezes oferece condições para as ações e os pensamentos de Felipe ou Miguel; por outras, aparece como <em>persona</em> própria. Se a nomeação ordena o caos, a Belém inominada libera possibilidades restritas.</p>
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<!-- wp:heading {"level":4} -->
<h4>Vingando-se da história</h4>
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<p>É comum uma mudança de lugar nos fornecer outra perspectiva quando retornamos ao ponto de partida. Uma temporada em outra cidade pode despertar novos olhares sobre o que antes era habitual. Em<em> O réptil melancólico</em> esse exercício não se dá apenas nos espaços, mas também no tempo.</p>
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<p>Ao partir de uma distopia do passado, o livro possibilita outro engajamento com nossa história. Colonização e ditadura formam um contínuo: a maior parte da população aceitou a passagem de colônia portuguesa para colônia brasileira, de um governo medíocre para outro. Histórias locais foram domesticadas, e a maioria reproduziu mimeticamente a autocolonização. Dos dissidentes, a tortura e o exílio dilacerou suas identidades.</p>
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<p>Com essa mudança distópica, processos profundamente violentos que rasgam os tecidos de pertencimento são desnaturalizados. Como leitores, conseguimos senti-los na pele como são: não naturais, impostos e construídos. Ao evidenciar a correlação colonial-ditatorial, <em>O réptil melancólico</em> vinga-se da história, reimaginando-a, menos pelo que ela poderia ter sido, mais por fazer o leitor ver processos obscurecidos. Ao fazê-lo, ilustra algo que a literatura acadêmica pós-colonial tanto afirma: as reminiscências da violência colonial não ficaram inertes no passado, mas informam práticas do presente.</p>
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<figure class="wp-block-image size-large"><img alt="" class="wp-image-376" src="https://fabiohoraciocastro.files.wordpress.com/2022/06/captura-de-tela-2022-06-08-acc80s-15.12.19.png?w=1024" /></figure>
<!-- /wp:image -->Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-17039813713505978672022-05-26T20:24:00.001-03:002022-05-26T20:24:01.954-03:00Seminário do Sisa dia 26 de maio<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSiHLyKWG1cvOa3mox0QBnqE7xEMtqc9Y-XeaGLREJIVjadyfsljqXk0xUf8e-G6jcRC-R_0e-hEP7kAY8Adv8ePqsIlT9iJha6pUtr674oyuFiMSJ-YtGZKqGvqw34OBEpFVBg2JWUWOYyx6ZI5vIv0PZ3T3ShWlm8adiQLHskgI4VkyI4So/s1086/WhatsApp%20Image%202022-05-26%20at%2015.49.04.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1086" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSiHLyKWG1cvOa3mox0QBnqE7xEMtqc9Y-XeaGLREJIVjadyfsljqXk0xUf8e-G6jcRC-R_0e-hEP7kAY8Adv8ePqsIlT9iJha6pUtr674oyuFiMSJ-YtGZKqGvqw34OBEpFVBg2JWUWOYyx6ZI5vIv0PZ3T3ShWlm8adiQLHskgI4VkyI4So/w398-h400/WhatsApp%20Image%202022-05-26%20at%2015.49.04.jpeg" width="398" /></a></div><br /> <p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-21762246151657313502022-05-23T17:06:00.004-03:002022-05-23T19:22:30.459-03:00Será mesmo hora da UFPA entrar em greve?A Adufpa decidiu, numa assembleia realizada hoje (23/05), que a categoria docente da instituição entrará em greve a partir do próximo dia 6. Com todo respeito pela posição dos colegas, na minha opinião é uma greve desconectada do momento atual da luta política progressista, sem condições de mobilizar o apoio da sociedade e com um impacto perverso numa comunidade universitária que ainda busca se reorganizar depois da pandemia, um impacto particularmente cruel sobre os alunos. <div><br /></div><div>É uma greve inconsequente, porque prejudica o processo de construção de alianças sociais amplas contra o autoritarismo e o fascismo e que, nesse sentido, pode servir para alimentar as forças conservadoras em pleno processo pré-eleitoral. </div><div><br /></div><div>É uma greve irresponsável, porque ameaça o acesso à universidade de alunos e da comunidade que precisam dos serviços prestados pela instituição, inclusive alimentação. E, também, porque interrompe a já difícil retoma institucional depois da pandemia.</div><div><br /></div><div>É uma greve extemporânea, porque o contexto é outro. Ela teria sido oportuna em outro momento, desde o Golpe de 2016, inclusive durante a pandemia, quando a universidade funcionou no modelo remoto, com carga horária redobrada e sem condições técnicas de operar à contento. </div><div><br /></div><div>Nesse sentido, é uma greve que chega atrasada. Ela teria teria sido importante em outro momento, que qualquer momento desde 2016, mas não foi feita – não sei por que… </div><div><br /></div><div>Claro, as reivindicações salariais são pertinentes e a greve é um instrumento justo de luta social. Porém, um evento com a extensão e o impacto de uma greve de universidade pública deveria ter ao menos duas preocupações : 1) olhar para o contexto, para o momento e para o sistema da luta social e 2) se construir em diálogo, tanto com a opinião pública como com a opinião real da sua comunidade. Duas coisas que, aparentemente, não estão acontecendo agora.
</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-31108196901096269322021-11-12T19:28:00.003-03:002021-11-12T19:28:10.009-03:00Lançamento de "O Réptil Melancólico"<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEKyk4kGFkqA6YHLV3_lQ9nswRRmYmnV2kLr0dGsQPbxV5YIdJV75W6kWzrq35hpnJntTOYk6F_P5N0u9Oss6PBkMDMXSry0wpCpxWgWtN3RzzVfcH3rhA_VR9Te0rncyh-ttKqg/s1080/Para+o+Instagram.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEKyk4kGFkqA6YHLV3_lQ9nswRRmYmnV2kLr0dGsQPbxV5YIdJV75W6kWzrq35hpnJntTOYk6F_P5N0u9Oss6PBkMDMXSry0wpCpxWgWtN3RzzVfcH3rhA_VR9Te0rncyh-ttKqg/w640-h640/Para+o+Instagram.png" width="640" /></a></div><br /><p><br /></p><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, "system-ui", ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></div><div dir="auto" style="background-color: white; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #2b00fe; font-family: trebuchet; font-size: medium;"><b>Lançamento do meu romance "O Réptil Melancólico".</b></span></div><div dir="auto" style="background-color: white; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #2b00fe; font-family: trebuchet; font-size: medium;">Dia 17 de novembro, 19 horas</span></div><div dir="auto" style="background-color: white; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #2b00fe; font-family: trebuchet; font-size: medium;">SESC Ver-o-Peso </span></div><div dir="auto" style="background-color: white; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #2b00fe; font-family: trebuchet; font-size: medium;">(Boulevard Castilhos França, 522, Belém)</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-76641132972449054902021-10-26T23:01:00.005-03:002021-10-26T23:01:54.137-03:00O Réptil Melancólico - booktrailer 1<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="478" src="https://www.youtube.com/embed/1aLzS7XMSco" width="576" youtube-src-id="1aLzS7XMSco"></iframe></div><br /> <p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-63802261743396691542021-10-04T18:34:00.001-03:002021-10-04T18:34:11.435-03:00Sobre Sebastião Tapajós<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 17px;">Lamento profundamente o falecimento de Sebastião Tapajós. A palavra “profundamente” não é à toa e evoca seu sentido imediato: tudo, no artista ST, era “profundamente”.<span class="Apple-converted-space"> </span>A tanto e a quanto ser impossível, para mim, encontrar sua obra na sua grandeza - porque não tenho ouvido para tanto, me resta dizer o quanto o escutei. Muito, sempre com grande admiração. Mas preciso dizer que, ao menos para mim, ST era um grande mistério. </span><span style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 17px;">ST não falava nem de si </span><span style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 17px;">e nem de sua musica.</span><span style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 17px;"> Não explicava, não produzia condescendências... A quem de ver, que visse e a quem de ouvir que ouvisse. Nas duas ou três vezes em que falei com ele, ele não me disse nada (no alentar dos fatos). Talvez que minhas questões tenham sido excessivas, quem sabe. Qualquer dia conto disso. Agora, o que resta, é o silêncio preenchido por música. </span></p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 17px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 21px;"><b></b></p><p class="p2" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-size: 17px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 21px;"><b></b><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-46115946089880707592021-09-29T17:44:00.004-03:002021-09-29T17:44:45.856-03:00Bate-papo sobre literatura amanhã, na Facom-UFPA<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1PLNtk3SNceGuq7O37nXOSFdNfSZPsoAHbFKM2s737XopfhIt2_lrr1Dc3bQYtv9XRKZk9BytJtdKoGOtVcx8i621Nqm6CtypeNm0xKfHmRnrEW_4uAEhChekT7-fuXIX2lQnAg/s1280/WhatsApp+Image+2021-09-20+at+13.47.27.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="1165" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1PLNtk3SNceGuq7O37nXOSFdNfSZPsoAHbFKM2s737XopfhIt2_lrr1Dc3bQYtv9XRKZk9BytJtdKoGOtVcx8i621Nqm6CtypeNm0xKfHmRnrEW_4uAEhChekT7-fuXIX2lQnAg/w582-h640/WhatsApp+Image+2021-09-20+at+13.47.27.jpeg" width="582" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /> <p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-3930034159191810062021-09-28T15:00:00.008-03:002021-09-28T15:00:48.513-03:00SOBRE OS 150 ANOS DA LEI DO VENTRE LIVRE – Essa hipocrisia que legitimou muitas formas obscuras de poder Hoje, 28 de setembro de 2021, completam-se 150 anos da proclamação da Lei do Ventre Livre, um dos marcos intersubjetivos mais importantes, pelas consequências havidas, e, ao mesmo tempo, mais hipócritas, da história do Brasil. <div><br /></div><div>Homenagens a esse marco jurídico, considerando sua hipocrisia e malefícios, não merecem ser feitas – embora, chocado, tenha-as visto por todo o lado, na mídia, nas falas oficiais, nas escolas. </div><div><br /></div><div>Como se sabe, a referida Lei declarava livres a todos os nascituros de mulheres em condição de escravidão. Menos dito é que estabelecia que, mesmo livres, essas pessoas ficassem sob a tutela dos senhores proprietários da sua mãe até os 21 anos de idade. </div><div><br /></div><div>Ou seja, sob a aparência liberal de libertar o indivíduo, legitimava sua “indireta” escravidão até a maioridade, beneficiando o escravocrata. </div><div><br /></div><div>É esse marco jurídico que cria a figura da “cria de casa”, do afilhado, da aia, dos meninos e meninas que recebiam abrigo e alimentação, geralmente precários, em troca de trabalho análogo à escravidão – senão mesmo escravo. </div><div><br /></div><div>Mais que uma lei, é um marco intersubjetivo das relações de classe no Brasil, ponto nodal que sempre justificou, mesmo depois do fim da escravidão e mesmo até os dias de hoje, a apropriação do trabalho e da liberdade de crianças e jovens pelo trabalho doméstico. </div><div><br /></div><div>A Lei do Ventre Livre foi, simplesmente um recurso protelatório – desses que, até hoje, constituem a base jurídica da vida social brasileira. Em nada ela modificou a correlação de poder e a jurisprudência sobre a apropriação da força de trabalho no país. Do escravo ao trabalhador atual, tudo são recursos simplesmente protelatórios, que adiam as reformas. </div><div><br /></div><div>Do ponto de vista político, a Lei do Ventre Livre nada foi além de uma composição do Imperador com a facção mais tolerante dos parlamentares conservadores. Em nada ela modificou a correlação de forças e mesmo os setores mais progressistas da vida política do Império não foram capazes de compreender o caráter verdadeiro dessa lei. Em geral, acreditou-se que ela concatenava, mesmo que a médio prazo, a definitiva abolição. </div><div><br /></div><div>Caio Prado Junior compreende, perfeitamente, esse processo, quando diz que “um raciocínio simplista, embora lógico à primeira vista, fazia concluir que decretada a liberdade dos nascituros, a escravidão estava praticamente extinta. Tratava-se apenas de uma questão de tempo”. E o completa, dizendo que estava-se diante de mais um episódio “da eterna ilusão (quando não má-fé) dos reformistas de todos os tempos”. </div><div><br /></div><div>A Lei do Ventre Livre é um marco da hipocrisia e do absurdo da política nacional.
Ela constitui um paroxismo pleno e, em o sendo, um exemplo de como se faz a política no Brasil. </div><div><br /></div><div>Os 150 anos referidos não são de comemoração, mas de cinismo, subterfúgio, hipocrisia e canalhice. </div><div><br /></div><div>Fábio Fonseca de Castro
Professor da UFPA</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-89664742130492971092021-09-16T21:44:00.006-03:002021-09-16T21:44:35.257-03:00Post bobo, só pra registrar que ciência é vida<p style="text-align: justify;">Terminei ontem meu curso anual no Naea, o “Formação Econômica e Social do Brasil e da Amazônia”. Grato pelo interesse, atenção, disposição e esprit de combat de todos e tantos alunos que me acompanharam. Estudar é saúde. Debater é fundamental. E a ciência é o que resta e o que fica. Sei que 12 horas de aulas por semana, durante um mês e meio, e mais de 40 textos para ler – a maioria deles clássicos, densos, extensos, vindos da economia, da ciência política, da sociologia e da história – é puxado, mas o resultado é sempre gratificante. Ideias, trocas, informações, discussões... Difícil expressar a satisfação e a sensação de completude que a gente tem quando termina um curso. </p><p style="text-align: justify;">É isso, post bobo, só para registrar que a gente tem prazer e é feliz fazendo ciência, pensando, desconstruindo, fazendo a interdisciplinaridade, continuando, resistindo...</p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-35868601948967297522021-09-15T19:57:00.002-03:002021-09-15T19:57:30.550-03:00Sobre o filósofo Jean-Luc Nancy, morto recentemente<p style="text-align: justify;">No dia 23 de agosto passado morreu, aos 81 anos, o filósofo francês Jean-Luc Nancy, professor emérito de filosofia na Universidade de Estrasburgo, onde ensinou de 1968 a 2004, e membro do Collège International de Philosophie. </p><p style="text-align: justify;">Nancy atualizou a fenomenologia, usando-a para desenvolver ideias sobre os temas mais diversos: história da filosofia, literatura, política, arte, sexualidade, teologia, psicanálise, ociosidade e mesmo sobre a pandemia de Covid-19 (o livro Un Trop Humain Virus, 2020). </p><p style="text-align: justify;">Em suas mais de duzentas obras, um tema constante foi a ideia de “comunidade”. Sobre esse tema escreveu a trilogia La Communauté Désœuvrée (Bourgois, 1986), La Communauté Affrontée (Galilée, 2001) e La Communauté désavouée (Galilée, 2014). </p><p style="text-align: justify;">Nancy teve dois grandes parceiros na sua obra: Jacques Derrida (1930-2004) – sobre quem, por sinal, escreveu um livro — Le Toucher (2000) – e Philippe Lacoue-Labarthe (1940-2007), com quem diversos artigos e livros, dentre os quais o escreveu vários, entre eles L’Absolu littéraire (Le Seuil, 1978) Le Mythe Nazi (L’Aube, 1991). </p><p style="text-align: justify;">Jean-Luc Nancy foi, sobretudo, um filósofo da fragilidade da existência. </p><p style="text-align: justify;">Longamente, produziu uma auto-fenomenologia da fragilidade da sua própria existência: a dificuldade de viver em comunidade em meio à herança fascista, a experiência de um implanta de coração feito em 1992 – que descreve no fascinante livro L’Intrus (Galilée, 2000) e, posteriormente, o longo combate contra o câncer. </p><p style="text-align: justify;">A finitude e a morte, não apenas do corpo como, também, da própria obra, senão mesmo da inteligência humana, são temas recorrentes. Veja-se, por exemplo, La Peau fragile du monde (Galilée, 2020), obra densa, que traz muito elementos para pensarmos a recorrência do mal e da violência associados à ulta-direita, que grassam em todo o planeta, hoje.</p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-3166241017939483382021-09-14T13:50:00.007-03:002021-09-14T16:04:49.356-03:00Como mobilizar o #ForaBolsonaro?<p> O fiasco absoluto das manifestações políticas do MBL e do VPR, no último domingo (a primeira manifestação home-office da história) indicam claramente algumas coisas: </p><p>1. O grande empresariado brasileiro não autoriza esse povo a representá-lo e, consequentemente os deputados eleitos com base nesses movimentos terão dificuldade para sua reeleição. </p><p>2. A hostilidade enunciada à candidatura Lula está restrita a um núcleo ideologizado e muito estreito da sociedade. Há que se distinguir entre hostilidade real, hostilidade enunciada e hostilidade anunciada. Outra hora falo disso. Agora, cabe dizer que enunciação é o ato político maior da disputa, e que ela está baixa, no que tange à candidatura Lula 2022. </p><p>3. O modelo de protesto desses grupos, centrado numa semiótica do ressentimento, do preconceito e do ódio de classes, foi abalado e não conformará a base da disputa eleitoral de 2022. </p><p>4. A liderança das ruas e do combate ao governo Bolsonaro está com o campo progressista, cabendo a ele ocupar essa liderança e convocar manifestações de massa que, sim, devem incluir toda a sociedade. </p><p>E aí vêm as questões de forma e conteúdo : qual deve ser a semiose, o vínculo ideia/ação, mote/efetivação dessas manifestações ? E qual sua estratégia de mobilização? </p><p>As duas questões sugerem duas coisas: 1) A necessidade de uma liderança estratégica do campo progressista e 2) A necessidade de aglutinar a sociedade. </p><p>Em termos de semiose, a receita é clara: o repúdio à morte - à morte das pessoas, do país e da democracia. Bolsonaro representa a morte. Cabe ao #ForaBolsonaro representar o projeto de futuro e a alegria de viver. </p><p>Em termos de estratégia de mobilização, creio que o caminho, para as esquerdas, é encontrar agentes sociais que assumam o protagonismo da convocação das mobilizções: Pode ser a OAB, a ABI, a CNBB, a SBPC, etc. Podem ser todos juntos. Não tem que ser PT, PSOL, PCdoB. E também não pode ser a CUT. Tem que passar a bola da convocação para essas instituições, tal como na luta pela Diretas Já (sem ter ilusões de que não é a mesma coisa, de que o momento é outro). </p><p>Isto dito, o campo progressista tem que se fazer presente, massivamente <span style="background-color: white; color: #050505; font-family: system-ui, -apple-system, system-ui, ".SFNSText-Regular", sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">e com suas bandeiras e verbos</span>, e liderar a enunciação do #ForaBolsonaro, mas apoiando a presença de todos os campos sociais que partilham esse horizonte. </p><p>Convenhamos: sem milhões de pessoas, nas ruas, não seremos máquina política. E a missão histórica é tirar dos robôs, e trazer de volta às pessoas, a liderança do fazer político.</p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-43833526695991662812021-09-11T16:31:00.001-03:002021-09-11T16:31:08.944-03:00Por que as forças progressistas não devem ir à manifestação de 12 de setembro<p>Para constar: é claro que não vou a essa manifestação contra Bolsonaro, convocada para amanhã, 12 de setembro. E acho que ninguém, no campo progressista, deveria ir.
E digo por que : </p><p>1) É claro que sou a favor de que a luta contra Bolsonaro envolva a maior parte possível da sociedade brasileira ; </p><p>2) É claro que o papel de Lula é e deve ser o papel do grande estadista e conciliador do país ; </p><p>3) É claro que acho que a hora é de todo mundo ir para as ruas. </p><p>Mas : </p><p>4) É claro, também, que o MBL, que convocou essa manifestação de amanhã, pretende colocar as forças progressistas como caudatárias da sua visão de mundo e do seu projeto político, seja ele qual for. </p><p>E isso o campo progressista não deve permitir. </p><p>Justifico, observando que : </p><p>1) Todos devem marchar contra Bolsonaro, mas é um erro pensar que as forças progressistas devem marchar ao lado da direita neoliberal. Como dizia Mao, “combater juntos, mas marchar separados” – a propósito da guerra contra os japoneses, feita ao lado de seus inimigos históricos. Esses dois campos são historicamente opoentes. A direita neoliberal foi a principal responsável pelo Golpe de 2016, participou e ainda participa do Governo Bolsonaro e foi a grande articuladora do irracionalismo político anti-petista que grassou no Brasil – poucos anos atrás.
O momento é de reafirmar a identidade e a agenda progressista, e qualquer mensagem dúbia quanto a isso pode constituir um atraso histórico, um recuo inexplicável e injustificável. </p><p>2) O papel de Lula, como pré-candidato à presidência é de uma natureza política e o papel dos Partidos e dos movimentos sociais é outra natureza. Sei que muita gente confunde as duas coisas e que, efetivamente, há uma natural porosidade entre elas, mas isso é básico e neste momento histórico é preciso educar a democracia para a diferença entre Estado, Governo e Partido. </p><p>3) Os dois campos estão confrontados, e isso aumenta imensamente o risco de violência – inclusive provocada por agentes infiltrados do bolsonarismo – e deflagrar um movimento do governo e/ou de seus apoiadores de criminalizar as manifestações populares. </p><p>4) A direita neoliberal, incluindo nela o MBL, conformam forças ambíguas. Não apoiam, de fato, o impeachment de Bolsonaro. Não agem nessa direção. Apenas aguardam um momento de viabilizar o que chamam de “terceira via”. Ademais, perderam a cultura e o apreço pela democracia e a qualquer momento podem inicializar um novo movimento de expurgo ilegítimo de Lula do processo eleitoral. </p><p>5) O discurso de que precisamos fazer um novo movimento de união da sociedade brasileira, como o Diretas Já, é vazio e impraticável. O momento histórico é outro. Nada reproduz o contexto da emenda Dante de Oliveira neste momento. </p><p>6) A convocação para o ato de amanhã dizia “Nem Lula, Nem Bolsonaro”. Certo, o MBL lançou depois uma segunda nota dizendo apenas “Fora Bolsonaro”, mas essa artimanha não convence (espero) ninguém. Proibir a entrada de bandeiras vermelhas na manifestação evidencia as motivações, o preconceito e o ódio que a direita neoliberal continua nutrindo e estimulando contra as forças sociais progressistas. </p><p>Isto dito, espero que o campo progressista não cometa o erro de se fazer presente na manifestação de amanhã. Todo respeito pela manifestação que será feita – e que bom que ela ocorrerá. </p><p>Mas sem oportunismos. </p><p>Fábio Fonseca de Castro</p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6317094.post-41673362393701496192021-09-09T21:59:00.002-03:002021-09-09T22:07:44.174-03:00Uma crônica (netnográfica) do bolsonarismo no 7 de setembro<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O que faz uma pessoa sair às ruas para apoiar Bolsonaro? Dou uma olhada no meu Instagram e encontro algumas respostas. Imagens, frases e hashtags de pessoas que conheço, que foram à manifestação bolsonarista do 7 de setembro, traduzem disposições e disponibilidades que me ajudam a responder essa questão. Ou, ao menos, a cotejar algumas hipóteses. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Meio de brincadeira, mas falando muito sério (meio cronicando, mas também etnografando), vou vendo as imagens e identificando, inventariando, alguns tipos humanos bolsonaristas que encontro nas fotos: </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“O eterno herdeiro” – Já na quarentena (de idade) ou mesmo na cinquentena, sabe que vai herdar a empresa do pai, ou seu patrimônio rentista, tanto faz. Bate ponto nessa empresa, finge que trabalha. Felizmente a empresa tem gestores, que fazem o trabalho real. Inseguro de sua posição tardia, precisa dar sinais do que entende como sendo “uma opinião madura e responsável” para se fazer respeitar pela própria família e por seu pai. E é com esse espírito que foi à manifestação bolsonarista: para provar que é capaz de gerir o patrimônio familiar. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“A lindona” – Desde sempre precisou ser amada. Certo, como todos nós, mas, diferentemente, precisou ser amada sem ser obrigada a reciprocidades. Na verdade queria fãs, se possível muitos. E continua no mesmo processo. Aos 45 anos foi para a manifestação bolsonarista com amigas de juventude, todas vestindo uma camiseta verde-amarela com um nó na barriga. Não na linguagem figurada. Suas razões para ser bolsonarista derivam dessa eterna necessidade: ser amada, ser admirada. Ela foi à manifestação para ser percebida... </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“O estúpido raiz” – Desde jovem foi estúpido. Desde a infância, talvez. Desde sua condição pré-incarnatória, se isso existe. A estupidez é como a medula óssea do seu carma. Por incrível que parece, acredita que ser bolsonarista soa inteligente. Por isso, exibe seu bolsonarismo sem se dar conta de nenhum contexto. Foi à manifestação sem se dar conta de nenhum contexto. Existe sem se dar conta de nenhum contexto. Para ele, ser bolsonarista serve para mergulhar num mundo (por incrível que pareça) sem hostilidade. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“O moderador” – É o contrário do estúpido e tem consciência disso. Tem um pouco de cultura (um pouco), mas é uma cultura centrada na ideia de “cult”: viu “filmes de arte”, leu uns livros e assina revistas. Considera que isso é suficiente para torná-lo “acima da média”. E tem razão. Estudou e tornou-se profissional liberal, geralmente advogado, médico ou engenheiro. Sente muita vergonha de ser bolsonarista, mas está refém de sua clientela. E por isso busca relativizar suas opiniões. Mas quando não se faz entender, o jeito é apelar e repetir os bordões de sempre. Ele é bolsonarista para manter viva a sua agenda de contatos. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“A pantera” – Considera que ser bolsonarista é uma condição de classe. Passou a vida afirmando seu pertencimento a isso – seja lá o que signifique. Defende valores conservadores, é católica e faz tez de puritana. Mas conta, como ninguém, uma piada de “sacanagem” (como ela mesma diz; e só para descontrair, sempre justifica). Para ela, os círculos bolsonaristas são uma rede social, uma oportunidade a mais para conhecer ou reencontrar gente “parecida”. Ir à manifestação deles é uma condescendência, mas não deixa de ser como ir a uma festa. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“O escalator” – Rapaz de classe média baixa que conseguiu se inserir em círculos mais “altos” e precisa agradar seus companheiros. Grita bastante e posa de entusiasmado. Dissimula a própria subserviência ostentando gastos acima de seus ganhos. Diz-se bolsonarista para soar como um “semelhante” desses círculos que admira. Para ele, ser bolsonarista é como um marcador de identidade – da identidade do grupo ao que deseja pertencer... </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“O ingênuo” – Ser bolsonarista, para ele, não é projeto: nem ideológico e nem utilitário. Mas se deixa levar por um ímpeto interior indecifrável. Um chamado meio sobrenatural, uma voz das suas selvas íntimas. Na manifestação bolsonarista, encontra um ambiente estimulante e, paradoxalmente, uma certa paz interior. Torna-se autoreflexivo (um pouco) e se sente parte de uma massa homogênea, da qual gosta muito de fazer parte. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“A cristã sádica” – Sempre teve uma pulsão de violência, uma raiva, um ódio do mundo, mas nunca teve grandes oportunidades de extravasar esses sentimentos. Talvez, um pouco, nos seus filhos, coitados, que sempre apanharam muito. Foi para a manifestação bolsonarista como se fosse um dever. Cumprir deveres é a sua forma de sublimar seu sadismo. Como sempre exigiu muito de si mesma, saber-se cumpridora de “deveres” equivale a se autoglorificar sadicamente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">“A espírita superior” – Como a cristã sádica, é sádica... Mas é espírita. E faz, de si, a ideia de que é um ser “superior”. Espiritualmente, bem entendido. O que produz uma certa inversão de prioridades e uma temporalidade peculiar. Ando acreditando, desde o Golpe de 2016, que a religiosidade espírita possui certo sadismo interior, certo elogio da comiseração alheia que se traduz por termos positivistas como “evolução”. Há um sadismo em ver os outros “evoluírem” – ou seja, sofrerem. Como muitos e muitos espíritas apoiaram o Golpe e seguem apoiando Bolsonaro, muitos foram a manifestação e publicaram fotos. A espírita superior estava entre eles, ansiando para ver (ou infringir?) a “evolução espiritual” dos brasileiros. </span></p><span><span style="font-family: georgia;"><a name='more'></a></span></span><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O que há de comum entre eles? É só uma suposição, que decorre de como percebo essas pessoas: nenhum deles apoia Bolsonaro porque acredita, realmente, nas proposições de Bolsonaro. Fingem que sim e, é claro, fazem parte de um universo ideológico que produz tanto as pautas neoliberais como o próprio fascismo bolsonarista. Porém, para nenhum deles apoiar Bolsonaro é uma escolha motivada por afinidade política. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O substrato ideológico é a base, certo, mas fica evidente que a ação de apoiar Bolsonaro produz, para eles, outro padrão de benefícios: vantagens e oportunidades sociais, profissionais, utilitárias, psicológicas, afetivas. Apoiar Bolsonaro, para eles, produz vínculo, sociação, sociabilidade, posicionamento no jogo social. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">Minhas práticas etnográficas pandêmicas (digitais) apenas atualizam velhas observações, projetando no presente o passado. Ou seja, o que era e como se era continua-se sendo. Eu inclusive, que nunca fui escravo da ignorância ou das conveniências da ignorância (espero). Conheço esses tipos humanos. Nenhum deles é só uma pessoa: são padrões, são (justamente) tipos. Tipos das elites paraenses. Quem sabe um dia escrevo mais, fazendo mesmo uma etnografia desse pessoal. </span></p><p>Fábio Fonseca de Castro</p>Unknownnoreply@blogger.com0