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Mostrando postagens de dezembro, 2019

Palestras sobre os Amigos, n. 55: Marise e o dever-ser de se conhecer a si mesmo

Senhoras e Senhores, A língua francesa se me presta para a filosofia e é por meio dela que algumas perguntas me vêm, sonolentas, quando nem mesmo estou esperando. Uma dessas perguntas me veio, certa vez, imediatamente após uma conversação, sempre instigante, sempre plena de potenciais filosóficos, com minha amiga Marise R. M. E foi a seguinte: Est-ce un devoir que d'être soi-même? A qual traduziria assim: Temos o dever, de fato, de sermos quem somos? Imperioso é não confundir essa questão com o Γνῶθι σεαυτόν, Gnothi seauton – Conhece-te a ti mesmo, também sabido como nosce te ipsum, em latim – tão cara ao mundo antigo, pois não se trata de conhecer quem verdadeiramente quem se é, se é que se é verdadeiramente alguma coisa, ou mesmo alguém, mas sim de se ter o dever de ser quem se é, após tê-lo descoberto. Todas as vezes que converso com a querida Marise minha mente fervilha de ideias, mas sobretudo de perguntas, em geral desprovidas de coetâneas respostas. Na verdade, i

Palestras sobre os Amigos, n. 52: Biá e a recusa de Ulysses

Há 20 anos atrás eu usava presentear meus amigos, no Natal, com "palestras", que escrevia a respeito deles. Era presente de coração, feito com uma das (raras) coisas que sei fazer razoavelmente: escrever. Agora, em 2019, decidi retomar o velho costume, acreditando que, nestes tempos em que tudo ameaça a boa-fé, a sinceridade e a amizade, precisamos declarar, cada vez mais, nossa devoção à amizade e nossa alegria de viver-juntos, de estar, de estar-no-mundo-com-os-outros. São textos de agradecimento, aos meus amigos, por serem que são e por estarem ali. Segue, então, a série Palestras sobre os Amigos. Neste episódio, a Palestra número 52, sobre a Biá: Biá e a recusa de Ulysses Senhores a senhores, A clássica figura de minha vizinha e amiga Maria Beatriz M. F., a Biá, constitui, em meu imaginário, a exegese perfeita da recusa de Ulysses, tema estrutural dos estudos clássicos. Por tal “recusa de Ulysses” se entende a maneira como Ulysses recusou-se, determinado, a v

The Londonian Diaries 18: Caminhando por Islington, red quarters

Escrevi ontem sobre as eleições britânicas. Acrescento uma observação curiosa: o líder trabalhista  Jeremy Corbyn foi reeleito, pelo distrito londrino de Islington, historicamente o núcleo geográfico do trabalhismo inglês, onde (é esta a observação curiosa) Boris Johnson morou durante algum tempo. Isto dito, recupero uma pequena anotação das minhas "The  Londonian Chronicles" , as notas que tomei durante o tempo em que morei por essa cidade e em Cambridge. The  Londonian Diaries  18:  Caminhando por Islignton, red quarters Hoje visitei Islington, um dos 32 boroughs de Londres e um dos corações da cidade. O bairro tem, atualmente,  uma população de cerca de 215 mil pessoas e uma histórica reputação esquerdista.  É  pequeno e estreito, mas abriga duas constituencies -  ou seja, distritos eleitorais do Parlamento Britânico:  Isli ng ton Norte, cadeira ocupada pelo próprio lí der trabahista Jeremy Corbin e Isli ng ton Sul, cadeira i gualmente trabalhista. Tem um

Sobre as eleições no UK

Hoje acordei com meu whatsapp em polvorosa: umas mil mensagens em torno das eleições no UK e da fragorosa derrota trabalhista. Dúvidas, explicações, ponderações e críticas. Explico: faço parte de um grupo de zap de brasileiros democratas que moram na Inglaterra. De dois, aliás. Como morei lá por 6 meses, em 2017-18, fiz alguns amigos e conheci muita gente nesses meios, formados por imigrantes progressistas, sejam pesquisadores ou trabalhadores, conscientes e críticos do fascínio conservadorista no Brasil, de todas as áreas e de todos os campos. Pois bem. O assunto do dia foi esse: a maior derrota do trabalhismo inglês desde 1935 (em pleno crescimento do fascismo na Europa, com sintomas muito semelhantes aos que vemos, atualmente, na sociedade global). Note-se, que os contornos dessa tragédia trabalhista incluem a perda do distrito de Wrexham, onde os trabalhistas não perdiam há 84 anos. O que isso demonstra? Na superfície, que os britânicos querem mesmo o Brexit e está acabado.