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Mostrando postagens de setembro, 2018

Diários mínimos 2 – Da sincronia de fatos aleatórios à sensação de pós-história

A semana que se abre com o incêndio do Museu Nacional – e, empiricamente, da destruição de todo esforço para construir uma identidade nacional brasileira –, se encerra, às véspera do Dia da Independência, com o candidato fascista, vestindo uma camisa verde-amarela e com os dizeres “Meu partido é o Brasil” sendo alvejado com uma faca. São fatos independentes, aleatórios entre si, mas as narrativas que os envolvem sugerem alguma sincronia entre eles. A narrativa produzida pela mídia, em nossa época, bem como a narrativa mais usual da descrição do quotidiano, na sociedade midiatizada, está baseada na exploração conjuntiva da aleatoriedade dos fatos. Ou seja: tanto a mídia como a sociedade midiatizada tornam sincrônicos eventos distintos entre si. A narrativa da mídia se tornou hiper-realista e, por essa via, tudo parece dizer mais do que aparenta ser. Evidentemente porque há proveito a tirar da presunção de sincronicidade, da substituição do fato pelo vaticínio,

Diários mínimos 1 - Tautismos midiáticos

Vivemos uma época de significados saturados. Isso se dá , em grande parte, porque a cobertura da mídia (e, igualmente, a “cobertura” da sociedade midiatizada nas suas redes sociais) tende ao tautismo – ou seja, à versão impressionista, hiper-realista, sentimentalista e anti-objetivista dos fatos. Tautismo é um termo criado pelo teórico da comunicação Lucien Sfez a partir da fusão da palavra tautologia (a “prova” de um fato por meio da repetição sistemática de que ele realmente ocorreu, tão usual na mídia) com a palavra autismo, compreendido por Sfez como uma experiência de isolamento comunicacional. Tautismo, em síntese, é o autismo midiático, o autismo de pessoas não autistas, jogadas num mundo irracional por meio da tautologia. A semana que termina foi plena de tautismo. Do incêndio do Museu Nacional ao atentado contra Bolsonaro, o que mais se viu foi a construção de narrativas tautistas, todas elas colocando a realidade em segundo plano. Na Rede Globo, repórteres falavam de