Pular para o conteúdo principal

DemocRATS

A Science et Vie de Setembro está interessante, fala de como somos enganados pelo nosso cérebro. Inclui um daqueles testes onde vemos linhas direitas todas tortas ou onde nos apercebemos das partidas que o nosso cérebro nos prega ao lermos um curto texto.

Mais intrigante é a seção onde se discute a utilização deste conhecimento por campanhas de publicidade. Há mesmo uma nova técnica, o neuromarketing, que utiliza a imagiologia cerebral como ferramenta para descobrir formas de manipular os nossos comportamentos impulsivos, contornando a nossa racionalidade “desmancha-prazeres”.

Nessa seção surge como exemplo a utilização de publicidade subliminar (que é proibida) na campanha de Bush para as presidenciais de 2000 (é notável a panóplia de truques baixos deste senhor). Aparentemente, procurava-se com o anúncio que o espectador associasse, de forma inconsciente, a palavra "RATS" (literalmente "ratazanas", mas também vira-casacas, renegado, traidor) a Gore e aos democRATS em geral, através da inserção durante 1/30 de segundo daquela palavra em letra grande, logo após a passagem de uma imagem de Gore. O assunto foi falado por exemplo aqui e aqui, tendo sido ridicularizado pelos republicanos. No entanto, a associação de ideias é tão boa que custa a crer que a associação não fosse intencional (apesar de estar mascarada pela palavra “bureaucRATS”, que aparece no anúncio).

Podemos pensar que a publicidade subliminar é inofensiva, no entanto a revista afirma, quiçá demasiado peremptoriamente, que "está provado: uma mensagem subliminar condiciona-nos durante duas semanas!", numa alusão a um estudo feito na Universidade de Uppsala. A revista refere também estudos usando técnicas como a Ressonância Magnética Funcional, como os de Sanislas Dahaene (SHFJ, Inserm-CEA, França), que mostram que o tratamento dessas palavras subliminares não implicam apenas as regiões sensoriais do nosso cérebro mas também outras regiões, sendo tratadas de forma tão global como informações recebidas conscientemente. Refere também o estudo de Joel Weinberger (Univ. Adelphi, USA), autor de um artigo publicado na Science (2003, 299:1309, "Did RATS bite Gore?") sobre o impacto do anúncio na imagem de Gore, citando-o: "o debate, hoje, já não é o de saber se o princípio das imagens subliminares funciona: os seus efeitos são bem reais! Doravante, a questão é determinar o alcance das suas repercussões nos espectadores".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

Solicitei meu descredenciamento do Ppgcom

Tomei ontem, junto com a professora Alda Costa, uma decisão difícil, mas necessária: solicitar nosso descredenciamento do Programa de pós-graduação em comunicação da UFPA. Há coisas que não são negociáveis, em nome do bom senso, do respeito e da ética. Para usar a expressão de Kant, tenho meus "imperativos categóricos". Não negocio com o absurdo. Reproduzo abaixo, para quem quiser ler o documento em que exponho minhas razões: Utilizamo-nos deste para informar, ao colegiado do Ppgcom, que declinamos da nossa eleição para coordená-lo. Ato contínuo, solicitamos nosso imediato descredenciamento do programa.     Se aceitamos ocupar a coordenação do programa foi para criar uma alternativa ao autoritarismo do projeto que lá está. Oferecemos nosso nome para coordená-lo com o objetivo de reverter a situação de hostilidade em relação à Faculdade de Comunicação e para estabelecer patamares de cooperação, por meio de trabalhos integrados, em grupos e projetos de pesquisa, capazes de...

Artimanhas de uma cassação política: toda solidaridade a Cláudio Puty

Pensem na seguinte situação:  1 - Alguém, no telefone, pede dinheiro em troca da liberacão de licenças ambientais. 2 - Essa pessoa cita seu nome. 3 - A conversa é interceptada pela Polícia Federal, que investigava denúncias de tráfico de influência. 4 - No relatório da Polícia Federal, você nem chega a ser denunciado; é apenas um nome, dentre dezenas de outros, inclusive de vários parlamentares. 5 - Mesmo assim resolvem denunciar você por corrupção ativa. 6 - Seu sigilo telefônico é quebrado, sua vida é revirada. Nada é encontrado. Nada liga você àquela pessoa que estava pedindo dinheiro. 7 - Mesmo assim, você é considerado culpado. 8 - Os parlamentares, igualmente apenas citados, como você, são inocentados. Mas você, só você, pelo fato de ter seu nome citado por um corrupto, você é considerado culpado. É isso que acabou de acontecer com o deputado federal pelo PT do Pará Cláudio Puty. Ele vai entrar com um recurso junto ao Tribunal Sup...