Pular para o conteúdo principal

A sexualidade e o supérfluo na cultura contemporânea 1

O tema da sexualidade, na cultura contemporânea, articula-se ao tema do supérfluo. A sexualidade descreve-se como supérflua porque o desejo é moralmente codificado como supérfluo. Obviamente que o tema não é recente. Uma metafísica do desejo como algo supérfluo pode ser encontrada na ontologia platônica. No Banquete, propriamente, talvez por meio de uma contaminação epicuriana, pela qual se sugere que o prazer das belas coisas se conforma como um prazer sensual, um prazer dos grandes espíritos. Por meio de uma empatia. Os gregos chamavam o desejo de pathos erotikon. A respeito dele, Epicuro sugeriu que a única forma de fugir à tentação do desejo é suprimir a visão do objeto desejado. O que é curioso. Porque o conforma como um plus à vida quotidiana. A bem da verdade, essa moral do supérfluo se deve a Epicuro, que fez tantas diferenças entre prazeres puros e impuros, que condenou “a alegria de rapazes e moças”, e que descreveu a fome, e não o amor, como “o grito da carne”. Muito bem para um espírito politicamente correto, mas é fato que também a carne grita por um pouco de amor. Será necessário esperar chegar o século XX e toda a coleção de temas sobre nevroses sexuais que ele botou sobre a nossa mesa para, efetivamente, podermos tematizar a sexualidade como uma metafísica do ausente estruturadora das nossas práticas afetivas. Podemos nós sermos perfeitamente felizes sem associarmos sexualidade e superflubilidade em nossa vida quotidiana? Relegar os prazeres sensuais do corpo à condição de uma abstração dos grandes espíritos, e completar dizendo que é a fome, e não a vontande sexual que constitui o “grito do corpo” é de um cinismo sem conta. Prova-o, aliás, aquele conhecido episódio relatado por Diógenes Cínico a respeito de Diógenes Laércio, dizendo que este, ao ser incomodado pelas autoridades por estar-se masturbando numa praça pública de Atenas, respondeu-lhes que seria muito bom se se pudesse matar a fome da mesma maneira e que, caso fosse isso possível, as autoridades não estariam a incomodá-lo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

Solicitei meu descredenciamento do Ppgcom

Tomei ontem, junto com a professora Alda Costa, uma decisão difícil, mas necessária: solicitar nosso descredenciamento do Programa de pós-graduação em comunicação da UFPA. Há coisas que não são negociáveis, em nome do bom senso, do respeito e da ética. Para usar a expressão de Kant, tenho meus "imperativos categóricos". Não negocio com o absurdo. Reproduzo abaixo, para quem quiser ler o documento em que exponho minhas razões: Utilizamo-nos deste para informar, ao colegiado do Ppgcom, que declinamos da nossa eleição para coordená-lo. Ato contínuo, solicitamos nosso imediato descredenciamento do programa.     Se aceitamos ocupar a coordenação do programa foi para criar uma alternativa ao autoritarismo do projeto que lá está. Oferecemos nosso nome para coordená-lo com o objetivo de reverter a situação de hostilidade em relação à Faculdade de Comunicação e para estabelecer patamares de cooperação, por meio de trabalhos integrados, em grupos e projetos de pesquisa, capazes de...

Artimanhas de uma cassação política: toda solidaridade a Cláudio Puty

Pensem na seguinte situação:  1 - Alguém, no telefone, pede dinheiro em troca da liberacão de licenças ambientais. 2 - Essa pessoa cita seu nome. 3 - A conversa é interceptada pela Polícia Federal, que investigava denúncias de tráfico de influência. 4 - No relatório da Polícia Federal, você nem chega a ser denunciado; é apenas um nome, dentre dezenas de outros, inclusive de vários parlamentares. 5 - Mesmo assim resolvem denunciar você por corrupção ativa. 6 - Seu sigilo telefônico é quebrado, sua vida é revirada. Nada é encontrado. Nada liga você àquela pessoa que estava pedindo dinheiro. 7 - Mesmo assim, você é considerado culpado. 8 - Os parlamentares, igualmente apenas citados, como você, são inocentados. Mas você, só você, pelo fato de ter seu nome citado por um corrupto, você é considerado culpado. É isso que acabou de acontecer com o deputado federal pelo PT do Pará Cláudio Puty. Ele vai entrar com um recurso junto ao Tribunal Sup...