A questão do Irã me interessa por causa de seu imbróglio étnico e identitário – meu campo central de pesquisa.
O país é um caldeirão de povos e, não sendo suficiente, o islamismo dominante, o xiismo, possui inúmeras facções. Dentre as minorias principais há o árabes, os azeris, os balutches e os curdos, todos eles vítimas da perseguição étnica de Teerã. Os árabes do Irã também se subdividem em várias etnias, sendo que a dos árabes ahwazis é a mais perseguida. Há várias centenas de árabes ahwazis detidos, acusados de envolvimento ou apoio moral – sim, apoio moral! – a um atentado ocorrido em 2005.
Também há várias centenas de azeris detidos desde 21 de fevereiro. Detidos por terem participado de uma manifestação pacífica por ocasião do Dia Internacional da Língua Materna. Os azeris não querem muito: apenas ter direito a usar sua língua ancestral nas escolas da região onde habitam, no noroeste do país.
Já os baloutches são uma gente menos tranqüila. Eles mantém o Joundallah (Soldados de Deus), uma organização paramilitar responsável por vários atentados, inclusive uma bomba recentemente lançada sobre um ônibus que transportava membro do Conselho dos Guardiões da Constituição. Tanto melhor que este menos guarde essa constituição.
E os pobres curdos, porfim, que são 14 milhões só no Irã, mas que são pobres de Alá por todo lado onde vivem, lutam por sua autonomia em todas as frentes possíveis.
O problema é maior porque sobre o caldeirão de identidades étnicas há as identidades religiosas, com minorias também discriminadas: os islamitas sunitas e, dentre outras, o caso absurdo dos baha’is, proibidos de fazer estudos universitários, empréstimos bancários e até mesmo de se aposentarem.
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