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Questões de Estado

Deixei de ser secretário de comunicação na terça-feira dia 19 de maio de 2009, exatos e curiosos dois depois de minha última postagem no Hupomnemata. Acabava de retornar de uma viagem à Vitória, Espírito Santo, onde fora participar, a convite da Câmara Municipal dessa cidade, de uma audiência pública a respeito da Conferência Nacional de Comunicação. Já ao religar o celular, saindo do avião, recebi uns vinte telefonemas ou mensagens perguntando se era verdade o caso. Rumei diretamente para o Palácio dos Despachos, onde me deram o recado de que a governadora Ana Júlia desejava falar comigo. Reuni-me com ela às 18h, mais ou menos e seguiu-se uma belíssima conversa.

- O que a senhora está dizendo é que eu vou voltar a ser gente¿

Resgatei uma das deliciosas gargalhadas da minha governadora. Recusei a oportunidade (valiosa) de ocupar o cargo de secretário adjunto de cultura, para o qual AJ me convidou, considerando meu interesse e minha participação no campo da cultura, muito mais antiga que minha ação no campo da comunicação. Mesmo porque a pessoa que ocupa o cargo, me parece que provisoriamente, é competentíssima. E propus que pudesse me ocupar da Conferência Estadual de Comunicação e dos projetos de comunicação popular e comunitária que comecei a desenvolver na Secom – já que, como disse a governadora, a secretaria precisaria se concentrar nas ações de marketing nesta nova etapa.

Nos dias que se seguiram estabeleci um diálogo com a governadora e alguns membros do governo organizando minha saída e a entrada do Paulo Roberto Ferreira no cargo. Nesse debate minhas novas funções no governo foram enriquecidas, digamos assim, na direção de criarmos um Núcleo de Comunicação Política, vinculado ao Gabinete e a Casa Civil do Governo, que passasse a se ocupar de um conjunto de ações necessárias e estratégicas no campo da análise de conjunturas e construção de elementos narrativos.

Comentários

Anônimo disse…
Companheiro Fábio.
Sua saída do governo é um erro. Nada contra o Paulo Roberto, que também é competente. O problema é de outra ordem: a Secom pode divulgar apenas o que o governo faz; não dá para inventar, para mentir.
Não precisamos de marketing. Precisamos de ações concretas.
Você foi brilhante.
Coitado do Paulo Roberto, pois vai pegar uma batata, que os caciques do partido tornam cada vez mais quente.
Seja bem vindo de volta à condição de gente.
Como sempre Fábio, tú é elegante. Quer saber ? Que bom poder te ler.
Sucesso sempre, abraços.
Anônimo disse…
Caro Fábio,

Primeiro, parabéns pelo retorno ao blog que conheci durante a campanha eleitoral, onde leitores como eu pudemos viajar em suas talentosas análises sobre a indústria cultural contemporânea e de quebra sobre a política cultural dos 12 anos do governo tucano.

Mas agora com a informação de tuas novas funções e a possibilidade da criação do Núcleo de Comunicação Política, cabe a pergunta - mesmo não tendo a resposta sincera - se não seria sombrear a nova gestão da SECOM? Se não, porque não ter pensado nela antes? Há realmente necessidade de ter uma estrutura por fora da SECOM, como uma espécie de nave-mãe, cabeça estratégica ou coisa do gênero?

Quanto a tua passagem pela SECOM esta ao certo poderá ser avaliada com mais calor popular, já que no que concerne o investimento e operacionalização para uma política de comunicação popular e comunitária, definitivamente, não mostrou à que veio. Uma boa tese - talvez - mas sem participação dos atores sociais, como os militantes das rádios comunitárias, provoca agora um parco espaço de tempo para que o novo secretário e sua equipe - se é que vai poder mexer na montada por você.

Se seu blog for propício ao debate, gostaria de seu retorno.

JB.
hupomnemata disse…
JB,
Espero que veja sinceridade na minha resposta. Vamos lá: Em relação ao sombreamento Secom / Núcleo. Sim, é possível, mas não desejável, e tentaremos mudar o curso caso isso comece a ocorrer. Porém, o fato é que cada espaço do governo tem sua própria assessoria de comunicação, e instituimos uma assessoria para a própria Governadora, deixando claro que a comunicação política de estado pertence à Secom e que a mediação do contato político com a governadora demanda uma estrutura própria. As tarefas desse Núcleo estão no contexto da ação política que nosso governo empreende via Casa Civil / Gabinete. Há algumas ações que nunca demos conta, na Secom, com a estrutura que tínhamos, que é a análise situacional mídia/política, a análise de conjuntura, que é a principal função desse grupo. Não faremos o marketing e não contactaremos a imprensa, mas, para dentro do governo, vamos procurar realizar também essa missão. Por que ela está fora da Secom? Porque ele é essencialmente política, analítica. Logo mais respondo a sua segunda colocação, ok?
Anônimo disse…
Primeiro parabéns pela forma elegante que saiu da SECOM sem deixar o governo.Quanto a pessoa que hoje ocupa o cargo de adunta da SECULT ela é o braço direito ou os dois braços do Edilson Moura, além de que, ponto para o governo que prestigiou uma servidora de carreira do governo mostrando que valoriza os servidores públicos.
Anônimo disse…
A informação de que você será a rainha Elizabeth da Conferência de Comunicação é proveniente da falta de articulação da jovem que ocupou a Dir. de Comunicação Popular e Comunitária, como pelo fato de que a equipe ignorou a luta de quem acumula reconhecimento público e apoio dos atores em troca de uma acadêmica.

Seria por afinação, submissão ou simplesmente por puro deleite entre amigos e cooptações para a DS?

Sinceramente, gostei da franqueza em tua primeira resposta, mas infiro que seja extremamente útil à tua imagem e posterior presença nos fóruns "por aí", desprenderem-se da idéia de centralização, controle e demasiada desconfiança e arrogância para com todos que não sejam compactados na estratégia (?) do núcleo pensador (?) da DS.

Essa reflexão/ação ao meu ver deve vir à tona o quanto antes, pois urge dos quatro cantos do PT, dos aliados e principalmente dos movimentos sociais (os históricos e de vanguarda) que a DS desça e repactue, para que não aconteça o que logo alí atrás ocorreu com o Força Socialista: inflou, dominou, centralizou e ainda jovem, vê-se em estado deprimente.

Se realmente és o que tuas palavras aparentam, cuida de atentar teus próximos à frase de Marx, na qual afirma que tudo que é sólido, se desmancha no ar.

No mais, teu blog tá firme!

JB.
Anônimo disse…
Grande Fábio Castro!!

Só agora soube da sua volta aos blogs...É muito bom ver teu entusiasmo a serviço de uma nova função no governo (agora, creio eu, com um pouco mais de tranquilidade...rs). Tenho certeza que continuarás tocando tua nova missão com toda a dedicação e retidão de sempre!!?

Queria também te confessar algo que não tinha tido oportunidade antes: que vc foi um dos maiores exemplos de Homem Público (com letra maiúscula) que pude conhecer em minha breve experiência no governo do Estado... Me lembrou o velho Celso Furtado em sua experiência de vida, com retidão e convicção moral e de propósitos...

Ao longo do tempo em que trabalhamos juntos (e depois também, é claro, ainda próximos..), tive em vc um exemplo constante e uma fonte de inspiração que alimentava cada vez mais uma certeza de que vale a pena, e é possível, que lutemos por nossos ideais com dignidade e retidão sempre ... sem sucumbir às facilidades dos caminhos curtos e oportunistas que muitas vezes podem nos levar para longe dos nossos ideais...

Me identifico e respeito muito sua "utopia" por um socialismo democrático!! Só a nossa utopia por uma sociedade veraddeiramente democrática, creio eu, é capaz de nos fazer suportar tantas adversidades sem sucumbir ou abandonar nossos princípios mais fundamentais!!

Um grande abraço,
Danilo Fernandes
hupomnemata disse…
Caro Danilo,
Muito obrigado pelas palavras, que podem ser retribuídas da mesma forma e com convicção.
Abraço grande.
Anônimo disse…
Querido Fábio Castro,

Eu sou muito pouco frequentador daquilo a que costumam chamar de “blogsfera”, o que acaba me transformando in a kind of outsider desses tempos de comunicação de ponta. Entretanto, acredito noutro desses paradigmas dos tempos de hoje, aquele que aponta para a direção de não ficarmos tão distantes quando o coração está atento. E meu coração estava atento.

Acompanhei de longe, no silêncio que me cabe em dias dessas recentes arrumações, o desfecho dos episódios que envolveram a tua saída da SECOM.

E me quedei lá, quieto no meu canto, a imaginar as repaginações que nossa passagem pelo Governo já assistiu. Normal, governos são assim, desse jeitinho mesmo.

Mas, e isso é o fantástico nos governos, também são do jeitinho de conhecer novas realidades, rever velhas maneiras e, melhor de tudo, ter a chance de conhecer pessoas. De admirar, vezes de longe, o desenho do caráter que transparece nas dobras dos documentos, nos sorrisos rituais, no burburinho da entaurage. E, melhor de tudo, descobrir que, em alguns casos, a gente tem a oportunidade de conviver com competências singulares.

Muito bom isso, ter podido aproveitar da tua competência para acrescentar conteúdo à vivência desses dias, nesses dois anos e tanto. Vamos lá, e obrigado pela chance de, agora na tal da “blogsfera”, poder seguir usufruindo das palavras e ideias.

Abraços do Beto Matta.

PS - Olha, eu acho que o Danilo foi brilhante naquele trecho em que fala dos nossos ideais e de dignidade e retidão na busca por eles. No ponto!

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