Nos quatro últimos dias estava fechado no computador, formatando meu projeto para o Edital Universal do CNPq. Foi difícil concluí-lo. Precisei enfrentar decisões sobre metodologia e sobre a área de concentração que terão implicações não somente nele mas, também, no meu trabalho pelos próximos dois anos. O fato central foi a decisão de não enviar o projeto para o comitê de comunicação, mas para o de sociologia. Isso significa acentuar o deslocamento de concentração de pesquisa, que no meu caso sempre foi tangente, porque sempre trabalhei interdisciplinarmente, vários graus a mais na direção das ciências sociais. O caso é que as pesquisas caminham na direção de onde há cooperação científica consolidada. Na comunicação da UFPA não temos isso. Não tenho parceiros, minha faculdade não tem grupos de pesquisa e a percepção que predomina sobre um futuro curso de mestrado é que, para fazê-lo, basta um projeto.
Ora, para se ter um mestrado o que precisa é, em primeiro lugar, cooperação acadêmica, grupo de pesquisa, projetos individuais, troca, crítica e autocrítica. Para se ter um mestrado é preciso abandonar a percepção meio escolinha de comunicação. É preciso esquecer o modelo "aula de graduação". Mestrado não é aula, é pesquisa. Não é curso, é programa. Não tem "professor", tem "pesquisador". Não adiante ter um mestrado aprovado pela Capes e fazer tudo isso depois. Sempre sai ruim. O discurso de que "temos que melhorar a graduação primeiro", que é o que explica essa situação, é uma imensa bobagem. Ao contrário, a lição que a história dá é que todo curso que investe primeiro na pós-graduação tem a sua graduação automaticamente melhorada. É isso aí: o trabalho científico será coletivo, cooperativo e integrado ou, simplesmente, não será. Nem tem sentido.
Comentários
De fora, é possível perceber que a Facom precisa desta auto-crítica para atuar estrategicamente, a fim de alavancar a qualidade do ensino, pesquisa e extensão.
Outro ponto seria avançar para além das eternas discussões, a fim de que se elabora um plano de ações factível, bem discutido e pactuado, para que os esforços sejam concentrados para uma maior captação de recursos e mobilização de parceiros.
Bons profissionais e potenciais apoiadores não faltam para isso. É preciso apenas uma maior coesão entre os professores, que precisam se entender e estabelecer objetivos e metas conjuntas para o curso, e (boa) vontade para tocar o projeto, apesar das limitações.
Em tempos de desvalorização do diploma de jornalismo é um debate interessante.
Ainda lembra daquele TCC. Estava relendo dia desses. Que maluquice. rsrsrs
Abraços.
Vc e o Paulo sempre fizeram uma idéia modesta do seu TCC. Li o post dele, inclusive, no A Barata Voa. O fato é que o TCC não é um trabalho de pesquisa qualificada e profissional, mas um exercício de definição de problema e construção de dados que o demonstrem. E isso vcs fizeram muito bem. Basta ter sensibilidade e bom senso (um pouco, pelo menos) que se vai longe, e na minha opinião vcs foram.
Muitos de nós não têm a perspectiva de produzir para a nossa área, de experimentar, de ter curiosidade científica. Acabamos exclusivamente incorporando o pensamento das demais ciências.
Rayza Sarmento
graduanda em Jornalismo.
Abs.
Uma palestra/seminário ou qq outro tipo de deliberação midiada ou virtual sobre isso seria muito bem-vindo, professor.
Rayza Sarmento
É incrível a mentalidade que temos não somente na Facom, mas também em grande parte da cidade. Tudo parece muito fácil de resolver, mas ninguém resolve.
Ouço sobre a possibilidade de implantar o mestrado na UFPA desde que era caloura, em 2003. Mas o que vejo, agora com 2 anos e meio de formada, é que as coisas continuam as mesmas e a Facom mal dá conta da Especialização.
Una isso à falta de investimentos na nossa área (não porque não há recursos, mas porque sempre há outras "prioridades"). Lembro bem que nos 50 anos da UFPA, foi dito que a Comunicação seria uma das grandes prioridades, uma vez reconhecida a sua importância. O resultado disso, naquele ano, foram algumas contratações temporárias na Ascom e a inserção do Intercom Norte no calendário oficial de eventos da universidade.
Para criarem um mestrado na Facom realmente não precisa primeiro melhorar a graduação. Mas é necessário, antes de mais nada, pensar grande e acreditar que é possível!
Complicado...