A candidatura de Marina Silva tem o poder de confrontar o Lulismo com o Petismo. É um evento raro da política, que deve ser aproveitado para refletirmos sobre o futuro do partido – meu partido – com equilíbrio e tendo por referencial a “grande política” mais que a “pequena política”. O fato inconteste é que Marina Silva, por sua trajetória, tem todo o direito de reivindicar ser a candidata à presidência da República pelo PT. E essa possível candidatura não foi posta à mesa para ser debatida. Nem esta e nem a de outras pessoas que, também elas, poderiam ter sido debatidas. E digo isso com todo o respeito a Dilma Roussef, com todo o respeito ao Lula e sempre lembrando que o que será debatido, pelos brasileiros, em 2010, não será, ao contrário do que todos pensam, se o governo Lula foi bom ou não, mas sim qual é o projeto do PT para o próximo mandato. Ou seja, a eleição não vai estar julgando Lula e nem o PT. Parte da grande mídia sim, talvez faça isso, mas é uma bobagem faze-lo, mesmo porque há uma razão nacional que sabe, profundamente, que o governo Lula foi uma conquista da história e que, sim, foi um dos melhores governos da história brasileira. E a verdade é que o que estará em jogo é o pós-Lula, o PT depois de Lula, o Brasil depois de Lula. Nesse contexto, então, não seria Marina Silva a melhor sucessora possível para Lula? No jogo dos nomes da sucessão, só ela tem uma trajetória semelhante à dele. Só ela é capaz de recuperar, com absoluta dignidade, o movimento interno do PT profundo, que há muito tempo, ao menos depois do mensalão, deseja refazer o seu caminho. Não apenas ela, mas principalmente ela, por seu compromisso ambiental e por sua coerência, pode suceder a Lula, com a mesma presteza de chefe de Estado, na comunidade internacional. E só ela pode se tornar tão simbólica quanto ele. Ademais, Marina é amazônica.
Talvez o caminho não seja a saída de Marina do PT, mas sim, talvez, a saída do PT seja Marina.
Comentários
Danilo
Vc tem razão. Mas a política, talvez, não. Justamente por essa não-razão vemos uma candidatura improvável, dentro de parâmetros petistas, como a da Dilma, ser construída.
Abraço.
O problema é que esses parâmetros petistas a que vc se refere, talvez não sejam mais os do PT de hoje... É por isso que a candidatura Dilma parece às vezes estar no domínio da não-razão!? No entanto, como tento argumentar, acho que esse não é o caso... Sua candidatura faz completo sentido para mim!
Mas como vc também têm razão em salientar, "o futuro da política, a 'Deus' (ou não-razão) pertence"!...rs. No entanto, como também é racional supor que para toda razão existe um contraditório: gostaria de salientar que existem domínios da "razão" que a nossa própria forma tradicional de compreender a "razão" desconhece; mas que nem por isso, creio eu, deixam de ser "racionalmente" compreensíveis. Mesmo que a posteriori... Basta para isso que alarguemos os domínios do que compreendemos como razão e, ainda assim, tenhamos consciência de seus limites...
Com as devidas precauções filosóficas em mãos, posso me arriscar a dizer que por mais que as vezes a política possa parecer irracional, ela apresenta padrões e regularidades, e portanto limites, que são muitos concretos e que podem, por isso, ser apreendidos por nós...
Um grande abraço,
Danilo