Pular para o conteúdo principal

Heranças à Esquerda 15

O marxismo soviético: A decadência do modelo
O período Brejnev, entre o golpe que retirou Kruchev do poder, em 1964 e as acensão dos modernos - Andropov, Tchernenko e Gorbatchev - em 1982, é um momento de silêncio e de aparência. Aos olhos do ocidente, a URSS era imbatível. Nos anos 1960 conquistara a liderança na corrida espacial. Nos anos 70, a paridade nuclear com os EUA. Em 1975 essa percepção foi ressaltada pela humilhante derrota americana no Vietnã. Em 1980 a produção soviética de aço era 80% maior que a americana. A de cimento era 78% maior. A de petróleo era 42% maior. A URSS produzia, anualmente, o quíntuplo do número de tratores feios pelos EUA e 55% a mais de fertilizantes.

Mas havia algo errado. As taxas de crescimento médio da produção industrial começavam a decair. Igualmente, todos os índices possíveis: produção agrícola, investi9mento de caital, produtividade do trabalho, renda per capta, etc. Isso ficou claro durante o XI Plano Qüiinqüenal (1981-1985), porque nenhuma das suas previsões, mês a mês, conseguiam ser cumpridas. Por que isso? Por três motivos:

1. O esgotamento do modelo: O modelo econômico da URSS tinha uma lógica extensiva, ou seja, esta baseado na ampliação incessante do uso da mão-de-obra e dos recursos naturais, Não havia, por assim dizer, uma preocupação com a sua sustentabilidade. Isso é uma grande lição a aprender. Ocorre que dá para crescer até certo ponto, depois não. O próprio Gorbachev esclareceu esse processo: "Gastamos muito mais em matéria prima, energia e outros recursos or unidade propdutiva do que outras nações desenvolvidas. A riqueza do nosso país em termos de recursos naturais e de mão-de-obra nos viciou e podemos até dizer que nos corrompeu". O país era riquíssimo em recursos naturais e tinha uma reserva de mão-de-obra que parecia inesgoável, mas não era possível fazer crescer linearmente a produção porque nem a população e nem os recursos naturais, escassos, durante muito tempo. Ninguém via isso. Os planos qüinqünais planejavam o crescimento, mas não levavam em conta essas variáveis. O modelo ocidental, ao contrário, estava baseado numa lógica de produtividade que levava em conta variáveis subjetivas que, na prática são essenciais, tais como a tecnologia, a satisfação do trabalhador e do consumidor e - mais recentemente - a reposição dos recursos naturais.

2. O paradoxo populacional: Os X e XI Planos Qüinqüenais coincidiram com a época de aposentadoria da geração que nascera durante a II guerra e nos difíceis anos imediatamente posteriores. Ora, com 23,4 milhões de mortos na guerra, o equivalente a 13,5% da população, era natural que a natalidade do período decaísse. O estado soviético não se preparou para essa passagem e o fato é que, entre 1975 e 1985 houve uma diminuição acelerada na força de trabalho do país.

3. A desmotivação: Degradação moral... é um índice a considerar. Índices como a falta ao trabalho, a delinqüência juvenil ou mesmo o volume de tráfico de fitas cassetes contrabandeadas do ocidente indicam essa situação, tantas vezes esquecida pela sociologia. Ocorre que, desde 1917 sempre se exigiu muito à população soviética. E pouco se deu em retribuição. Os investimentos, desde o primeiro plano, estavam voltados para o chamado setor I, ou seja, para a produção dos "bens de produção", para a indústria pesada, de base. O setor II, o dos bens de consumo, como vestuário, alimentação, automóveis de passeio e eletrodomésticos eram, sempre, considerados como secundários. Não dava para ser feliz assim... O resultado foi uma situação padrão de apatia, uma propensão para a pequena desonestidade, para a hurla do sistema.

A todo esse cenário superpunha-se a guerra fria. O fardo da produção de armamentos se tornava insustentável, porque exigia que, perpetuamente, os investimentos se concentrassem no setor I. Em 1985 a URSS gastava 13% do seu PIB no setor militar, enquanto os EUA investiam apenas 6%.

Em 1982, quando morreu Brejnev, era essa a situação do país, embora ninguém, nem na URSS, nem fora dela, tivesse plena consciência da coisa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de

Leilão de Belo Monte adiado

No Valor Econômico de hoje, Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, informa que o leilão das obras de Belo Monte, inicialmente previsto para 21 de dezembro, será adiado para o começo de 2010. A razão seria a demora na licença prévia, conferida pelo Ibama. Belo monte vai gerar 11,2 mil megawatts (MW) e começa a funcionar, parcialmente, em 2014.

Ariano Suassuna e os computadores

“ Dizem que eu não gosto de computadores. Eu digo que eles é que não gostam de mim. Querem ver? Fui escrever meu nome completo: Ariano Vilar Suassuna. O computador tem uma espécie de sistema que rejeita as palavras quando acha que elas estão erradas e sugere o que, no entender dele, computador, seria o certo   Pois bem, quando escrevi Ariano, ele aceitou normalmente. Quando eu escrevi Vilar, ele rejeitou e sugeriu que fosse substituída por Vilão. E quando eu escrevi Suassuna, não sei se pela quantidade de “s”, o computador rejeitou e substituiu por “Assassino”. Então, vejam, não sou eu que não gosto de computadores, eles é que não gostam de mim. ”