O marxismo soviético: Perestroika e Glastnost
O programa de reformas de Gorbachev foi inspirado pela discussão Liberman. Sua equipe econômica veio quase integralmente da Faculdade de Economia da Universidade de Kharkov e o projeto da Perestroika – literalmente, reforma econômica – seguia o modelo estímulo/regulação não intervencionista como proposta.
Cabe lembrar que a Perestroika tinha um equivalente político no programa da Glastnost – literalmente publicidade, no sentido de tornar público, informar, dar direto à informação. Esta foi imediatamente aceita, produzindo uma corrente liberalizante sem equivalente na história soviética e russa. Já a reforma econômica, por sua vez, caminhou a passos lentos e, algumas vezes, críticos. O objetivo tático era reconverter o complexo industrial-militar em complexo de produção de bens de consumo e de tecnologia para, com isso, diminuir as carências da vida cotidiana. Era necessário tempo para isso, sem contar a oposição dos burocratas. A uma taxa de crescimento de 2% ao ano a população só perceberia as mudanças a médio prazo, enquanto as pressões, permitidas pela abertura política, tinham uma agilidade oposta. Para completar o cenário crítico, em 1986 ocorreu uma crise internacional do petróleo que implicou a redução das importações de alimentos e, em 1988 uma crise na colheita cerealista que reduziu a produção de alimentos em 20% em relação à de dez anos antes.
O que seguiu todos sabemos: um processo de redução da autoridade política de Gobachev, ofensivas restauracionistas, a fixação de uma hostilidade geral contra o Partido Comunista na figura de Boris Yeltsin, a onda de independências nacionais e, por fim, a independência russa, que tornou nulo o poder de Gobarchev.
Pensar na discussão Liberman, que é uma das raízes, senão a principal, da Perestróica e da Glasnost, permite construir uma herança de responsabilidade crítica quanto à experiência do totalitarismo soviético. Das melhores intenções de Outubro ao comunismo degenerado e paranóico de Stalin há uma escala de experiências políticas. A discussão Liberman não é o limite dessa escala e, provavelmente, ela criou mais problemas do que soluções, mas é um contrapeso útil. Por que o evoco? Porque acredito que a ucronia – a narrativa da história-que-poderia-ser – é uma reserva moral para corrigirmos o erros e para que possamos seguir em frente, abrindo novos caminhos, aprendendo com a experiência.
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