Pular para o conteúdo principal

Outra Amazônia 19: O habitus do projeto espoliador 2

Os vários “planos de desenvolvimento regional” que se sucederam foram, na verdade, estratégias para o estabelecimento dessas condições infra-estruturais. Não tinham, portanto, nenhum compromisso com a internalização do desenvolvimento ou da renda e nem, tampouco, com a melhoria das condições de vida da população local. Os exemplos desses “planos de desenvolvimento” são vários. Já em 1945 o I Plano Qüinqüenal da Amazônia (I PQA), administrado pela recém criada Superintendência do plano de valorização econômica da Amazônia (SPVEA) – e que, na verdade, só seriam implementada em 1953 – diagnosticava que a integração da Amazônia ao Brasil não poderia se dar como um movimento “de fora para dentro” – ou seja, na direção região-centro – e que, assim, cabia-lhe a iniciativa de um projeto conseqüente, que envolvesse sistemas de transporte, fluxo migratório e, necessariamente, estabelecimento de zonas de produção agrícola – inicialmente voltadas para o abastecimento interno e, posteriormente, para a exportação e geração de divisas.
Esse projeto fracassou, esbarrado na falta de quadros técnicos especializados na região, mas seus princípios foram incorporados no “Plano de Metas” do governo Juscelino Kubitscheck, por meio do qual foram construídas as rodovias Belém-Brasília e Cuiabá-Porto Velho, marcos simbólicos dessa estratégia de integração e, também, dessa ideologia, que, gradualmente, se instituiu como um consenso nacional, alinhando todas as facções políticas e todos os espíritos em torno do mesmo projeto. O regime militar implementado em 1964 apenas reafirmou essa percepção, tornando a “integração” da Amazônia ao Brasil a prioridade nacional.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

O enfeudamento da UFPA

O processo eleitoral da UFPA apenas começou mas já conseguimos perceber como alguns vícios da vida política brasileira adentraram na academia. Um deles é uma derivação curiosa do velho estamentismo que, em outros níveis da vida nacional, produziu também o coronelismo: uma espécie de territorialização da Academia. Dizendo de outra maneira, um enfeudamento dos espaços. Por exemplo: “A faculdade ‘tal’ fechou com A!” “O núcleo ‘tal’ fechou com B!” “Nós, aqui, devemos seguir o professor ‘tal’, que está à frente das negociações…” Negociações… Feitas em nome dos interesses locais e em contraprestação dos interesses totais de algum candidato à reitoria. Há muito se sabe que há feudos acadêmicos na universidade pública e que aqui e ali há figuras rebarbativas empoleiradas em tronos sem magestade, dando ordens e se prestando a rituais de beija-mão. De vez em quando uma dessas figuras é deposta e o escândalo se faz. Mas não é disso que estou falando: falo menos do feudo e mais do enf...

UFPA: A estranha convocação do Conselho Universitário em dia de paralização

A Reitoria da UFPA marcou para hoje, dia de paralização nacional de servidores da educação superior, uma reunião do Consun – o Conselho Universitário, seu orgão decisório mais imporante – para discutir a questão fundamental do processo sucessório na Reitoria da instituição. Desde cedo os portões estavam fechados e só se podia entrar no campus a pé. Todas as aulas haviam sido suspensas. Além disso, passamos três dias sem água no campus do Guamá, com banheiros impestados e sem alimentação no restaurante universitário. Considerando a grave situação de violência experimentada (ainda maior, evidentemente, quando a universidade está vazia), expressão, dentre outros fatos, por três dias de arrastões consecutivos no terminal de ônibus do campus – ontem a noite com disparos de arma de fogo – e, ainda, numa situação caótica de higiene, desde que o contrato com a empresa privada que fazia a limpeza da instituição foi revisto, essa conjuntura portões fechados / falta de água / segurança , por s...