Pular para o conteúdo principal

Política de Comunicação 11: O que poderia mudar depois do PL 29?

No Brasil, a TV paga falhou. Atualmente, ela alcança apenas 12% dos lares, contra 96% da TV aberta. Isso aconteceu por pura pressão de mercado: a Rede Globo, em nome de seus interesses e nos de seu sócio, a Murdoch Corp., proprietária da Sky TV, empresa de TV paga que domina o mercado brasileiro, impedindo o surgimento de concorrentes.
Mas isso vai mudar logo, independentemente, inclusive, da forma final do PL 29, por causa da convergência midiática. É um processo inevitável, e todos sabem disso. A internet impõe um cenário de interatividade que transforma radicalmente o modelo de negócios vigente.
Se colocarmos as transformações propostas pelo PL 29 à luz da convergência midiática, podemos imaginar várias mudanças na prática do consumo audiovisual no Brasil. Algumas deles seriam as seguintes:
As teles, empresas gigantescas, com capital mundial e receita muito superior à das grandes redes de televisão brasileiras, podem vir a entrar no mercado. Hoje estão impedidas disso, porque a legislação concebe de forma diferenciação o que é telecomunicação do que é radiodifusão, duas coisas que, na verdade, já são uma só.
O mercado de produção de conteúdos pode se abrir. No modelo de negócios vigente, a Rede Globo, por exemplo, detém o controle editorial de quase 100% do seu conteúdo. Com a mudança da legislação, ela pode vir a ser obrigada a comprar parte de seu conteúdo de outras empresas ou, até mesmo, definir sua função: se é uma empresa de produção de conteúdo ou se é uma empresa de veiculação de conteúdo.
Um dos aspectos centrais do PL 29 é a determinação de um percentual da programação de cada canal a ser preenchido, obrigatoriamente, com conteúdo nacional e, o que é ainda mais significativo, regional. Esse percentual não poderia ser preenchido com programação religiosa, política, com programas de sorteio ou com televendas. Ou seja, precisaria ter conteúdo real, produção real e criativa, com teor regional.
Um dos maiores problemas do PL 29, no entanto, é que a cada versão do Projeto esse percentual destinado à produção nacional e regional diminui mais. E corre o risco de ficar de fora.
No caso de ser (satisfatoriamente) preservado, essa quota para a produção nacional e regional o mercado de produção de conteúdos vai ser aberto. Isso poderá significar a fundação de um espaço gigantesco de trabalho, emprego e negócios: o mercado do audiovisual convergente. Seria um mercado com condições concretas de auto-sustentabilidade, que possibilitaria o surgimento de pólos de produção fora do circuito Rio-SP e faria da comunicação brasileira um campo produtivo proeminente, com força para entrar no mercado internacional.
Outro ponto que merece ser evidenciado é o do impacto dessas mudanças todas sobre o mercado publicitário. Hoje em dia, a publicidade está deixando de lado a concentração nos grandes grupos de mídia para buscar o interior, a Internet e marketing de eventos. Com a nova lei, haverá mais um concorrente a compartilhar do bolo publicitário. Isso é bom para as empresas criativas e também aumenta o número de vagas no mercado, embora exija adaptações para as quais a maioria das empresas não está preparada.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de

Leilão de Belo Monte adiado

No Valor Econômico de hoje, Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, informa que o leilão das obras de Belo Monte, inicialmente previsto para 21 de dezembro, será adiado para o começo de 2010. A razão seria a demora na licença prévia, conferida pelo Ibama. Belo monte vai gerar 11,2 mil megawatts (MW) e começa a funcionar, parcialmente, em 2014.

Ariano Suassuna e os computadores

“ Dizem que eu não gosto de computadores. Eu digo que eles é que não gostam de mim. Querem ver? Fui escrever meu nome completo: Ariano Vilar Suassuna. O computador tem uma espécie de sistema que rejeita as palavras quando acha que elas estão erradas e sugere o que, no entender dele, computador, seria o certo   Pois bem, quando escrevi Ariano, ele aceitou normalmente. Quando eu escrevi Vilar, ele rejeitou e sugeriu que fosse substituída por Vilão. E quando eu escrevi Suassuna, não sei se pela quantidade de “s”, o computador rejeitou e substituiu por “Assassino”. Então, vejam, não sou eu que não gosto de computadores, eles é que não gostam de mim. ”