Pular para o conteúdo principal

Heranças à Esquerda 46

Esquerdas brasileiras 17: O PT 7: 
Os trotskysmos do PT: Cenário Geral.

A IV Internacional foi fundada por Trostsky, em Paris, no ano de 1938. Seu documento base, o “Programa de Transição”, compreendia a experiência do stalinismo soviético como uma contra-revolução e atribuía-se a missão de liderar a proposta da revolução proletária mundial. Não obstante, as fissuras e divisões internas foram inúmeras. Um dos fatores disso, aparentemente, decorre do brilhantismo de alguns de seus membros, como Ernest Mandel e Nahuel Moreno, ou do individualismo e oportunismo de outros, como Pierre Lambert.

Mandel, por exemplo, um dos mais vigorosos intelectuais marxistas do século XX e o intelectual de referência para a tendência petista Democracia Socialista (DS), chegou a ser dirigente do Secretariado Unificado (SU) da IV Internacional. Iniciou sua militância aos 16 anos apenas, na luta contra o nazismo. Após sobreviver a um campo de concentração, participou do Partido Socialista Belga, do qual foi expulso, em função de sua posição trotskysta. Desse evento, decorreu a fundação do Partido Socialista Operário da Bélgica, por ele liderada.

Moreno, por sua vez, percorreu um caminho de rompimento com Secretariado Unificado e trabalhou para implentar a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), a qual foi fundada em Bogotá. Argentino de nascimento, Moreno fez com que a LIT se tornasse uma força trotskysta de referência em vários países da América Latina, ao menos até que entrasse, por sua vez, num processo de recomposição, nos anos 90. É desse processo que surgiu o Movimento ao Socialismo (MAS), outra força de feição latino-americana que, no Brasil, constitui o centro político do PSTU.

Porém, também da LIT surgiu outra dissidência, a TBI, Tendência Bolchevique Internacionalista, cujo braço brasileiro foi a Liga Operária Internacionalista (LOI), saída da Convergência Socialista.

Também na América Latina, outras formações políticas surgiram, lideradas por J. Posadas, Jorge Altamira, Guillermo Lora e outros. Posadas fundou a IV Internacional Posadista. Altamira formou o Partido Obrero (PO) da Argentina, cuja célula brasileira foi o Partido da Causa Operária (PCO). Lora, por sua vez, liderou o Partido Operário Revolucionário (POR) na Bolívia, que teve como célula, no Brasil, a Tendência pelo Partido Operário Revolucionário (T-POR), todas elas entidades já dissolvidas.

Nesse cenário complexo ainda tem um papel central o intelectual francês Pierre Lambert, que rompeu igualmente, tal como Nahuel Moreno, com o Secretariado Unificado para fundar nova organização, o Centro Internacional de Reconstrução (CIR), o qual reivindicou, disputando com Ernest Mandel, a denominação de IV Internacional.



Na França, a seção do CIR foi a famosa Organização Comunista Internacionalista (OCI). No Brasil, a seção denominou-se O Trabalho. De início, a pretensão da seção era constituir-se como uma célula política independente. Porém, seguindo orientação de Lambert já aplicada na política francesa com resultados importantes (já ratei disso: veja aqui), O Trabalho acabou entrando no PT e tornando-se uma de suas tendências.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

Solicitei meu descredenciamento do Ppgcom

Tomei ontem, junto com a professora Alda Costa, uma decisão difícil, mas necessária: solicitar nosso descredenciamento do Programa de pós-graduação em comunicação da UFPA. Há coisas que não são negociáveis, em nome do bom senso, do respeito e da ética. Para usar a expressão de Kant, tenho meus "imperativos categóricos". Não negocio com o absurdo. Reproduzo abaixo, para quem quiser ler o documento em que exponho minhas razões: Utilizamo-nos deste para informar, ao colegiado do Ppgcom, que declinamos da nossa eleição para coordená-lo. Ato contínuo, solicitamos nosso imediato descredenciamento do programa.     Se aceitamos ocupar a coordenação do programa foi para criar uma alternativa ao autoritarismo do projeto que lá está. Oferecemos nosso nome para coordená-lo com o objetivo de reverter a situação de hostilidade em relação à Faculdade de Comunicação e para estabelecer patamares de cooperação, por meio de trabalhos integrados, em grupos e projetos de pesquisa, capazes de...

O enfeudamento da UFPA

O processo eleitoral da UFPA apenas começou mas já conseguimos perceber como alguns vícios da vida política brasileira adentraram na academia. Um deles é uma derivação curiosa do velho estamentismo que, em outros níveis da vida nacional, produziu também o coronelismo: uma espécie de territorialização da Academia. Dizendo de outra maneira, um enfeudamento dos espaços. Por exemplo: “A faculdade ‘tal’ fechou com A!” “O núcleo ‘tal’ fechou com B!” “Nós, aqui, devemos seguir o professor ‘tal’, que está à frente das negociações…” Negociações… Feitas em nome dos interesses locais e em contraprestação dos interesses totais de algum candidato à reitoria. Há muito se sabe que há feudos acadêmicos na universidade pública e que aqui e ali há figuras rebarbativas empoleiradas em tronos sem magestade, dando ordens e se prestando a rituais de beija-mão. De vez em quando uma dessas figuras é deposta e o escândalo se faz. Mas não é disso que estou falando: falo menos do feudo e mais do enf...