O antropólogo Antonio Risério costuma ser apontado como “o pensador” das campanhas políticas de que participa. Alguém que, segundo um publicitário veterano, “pode passar uma semana sem escrever um texto, mas na hora certa faz a diferença”. A campanha de Dilma Rousseff é a terceira presidencial seguida em que trabalha para o PT, como uma espécie de conceituador e redator diferenciado. Escreve discursos e diretrizes para municiar a candidata em debates e entrevistas.
Folha – Costumam lhe definir como “o intelectual”, “o pensador” ou “o conceituador” das campanhas de que você participa. Como você define o seu papel nas campanhas?
Antonio Risério – Não é assim que as coisas acontecem. Produzo um texto analisando o discurso tucano, sugiro programas, etc. Mas é evidente que não sou o único a pensar. Em primeiro lugar, porque João Santana é também um intelectual, com quem você pode conversar sobre coisas tão variadas quanto a “kali yuga” e a música de John Cage. Além disso, você tem, numa campanha, um pensador visual, um pensador sonoro, etc. A dimensão verbal é uma das dimensões. Esse raciocínio de que exista um ‘conceituador’ verbal é pré-semiótico, para dizer o mínimo. E o conceituador verbal, na verdade, é João.
Você diz que produz texto analisando discurso tucano. Poderia explicar melhor?
Sim. Eles distorcem o que está acontecendo. Distorcem a questão da presença estatal na economia, fazem jogos verbais, fraudam números etc. Leio tudo que eles escrevem. E apresento sínteses críticas.
Você compartilha da crítica de que cada vez mais o marketing despolitiza a política?
Não. Acho que o marketing contribuiu –e muito– para a atual politização da sociedade brasileira. Penso com Maiakóvski: publicidade é agitação de massas. Agora, a politização mais densa cabe aos partidos. E hoje, no Brasil, eles não parecem muito interessados no assunto.
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