Ideias e argumentos adaptados da oficina “Como discursar sobre o software livre”, realizada no dia 7 de novembro, durante a Ubuntu Party em Paris, por Lionel Allorge (APRIL) e Frédéric Mandé (Ubuntu-fr)
Por que usar software livre?
«Liberdade, igualdade e fraternidade» (Richard Stallman)
Liberdade
Com o software livre você tem liberdade para utilizá-lo da maneira que desejar, sem imposições prévias por parte do fabricante/desenvolvedor. No caso do software privado, você não compra o software, mas o direito de utilizá-lo sobre certas condições Além disso, com acesso ao código fonte do software livre, o usuário tem a liberdade de estudá-lo a adaptá-lo à maneira que quiser, e de distribui-lo à maneira que quiser.
Ex: se você tem um carro, você pode usá-lo como quiser, enfeitá-lo (colocar adesivos, radio, caixa de som, etc), emprestá-lo ou mesmo não usá-lo quando não quiser (pegar um ônibus, carona, bicicleta ou ir a pé). Se ele apresenta algum problema, é direito do consumidor ter acesso ao manual de especificações do veiculo para tentar consertá-lo a sua maneira e, caso não tenha conhecimento técnico, recorrer à ajuda especializada.
Igualdade
Todos os usuários tem o mesmo software e o mesmo direito de adaptá-lo, em qualquer lugar do mundo. Um ou outro pode encontrar modificações, que podem ser alteradas por qualquer usuário, mas a raiz do software é a mesma disponível para todos. No caso do Windows, da Microsoft, para se ter acesso às atualizações é preciso pagar e muitas vezes comprar e/ou atualizar outros programas, para que sejam compatíveis entre si.
Ex: A utilização de o pacote Office do Windows, um software privado, é proibido em Cuba, por determinação da Microsoft. Os usuários cubanos que quiserem editar textos no Word devem usar uma versão pirata deste programa, ou então usar um software livre como o Open Office, por exemplo, cujo uso é permitido em qualquer pais.
Fraternidade
O software livre apoia e encoraja a colaboração e a participação entre seus usuários, seja compartilhando informações, fazendo atualizações e distribuindo novas versões Enquanto um software privado conta com uma restrita equipe de técnicos para desenvolver e aperfeiçoar o programa, os softwares livres encontram uma comunidade de colaboradores no mundo inteiro modificando, aperfeiçoando e trocando novas versões e ideias para os programas, através do dialogo multilateral entre desenvolvedores e usuários
Ex: Se você compra no supermercado um prato feito e quer repeti-lo com um pouco mais de sal, ou substituir a carne por um legume, você precisa da receita. Se o prato não for patenteado (o hambúrguer do McDonald’s, por exemplo) você pode encontrar a receita na internet, outras dicas de pessoas que fizeram receitas semelhantes ou mesmo fazer e receber sugestoes de modificaçoes para aquele prato.
Afinando as ideias:
1) Software gratuito NÃO é sinônimo de software livre
Um software distribuído gratuitamente não necessariamente é um software livre, pois pode estar sob licenças que restringem o uso, as modificações e sua distribuição. Por outro lado, um software pode ser distribuído comercialmente e ter código aberto e licença livre (e, portanto, ser um software livre). O software livre geralmente é distribuído gratuitamente para incentivar o seu uso, mas desenvolvê-lo envolve um custo, que geralmente é pago por doações e parcerias.
2) Porque pagar caro num software proprietário enquanto existem softwares semelhantes e na maioria das vezes, gratuitos?
Muitas vezes acreditamos que preço é sinônimo de qualidade. Esta cultura de ter sempre que pagar mais caro pra se ter melhor não se aplica ao software livre que, por ter outra logica de produção, difusão e manutenção, geralmente possuem um custo menos elevado e uma rede descentralizada de desenvolvimento de melhorias continuas do programa.
3) Trabalhar com software livre da dinheiro?
A estimativa do mercado (francês) de produtos e serviços livres em 2009 foi de1470 milhões de euros. No caso dos programadores profissionais que trabalham com software livre, a remuneração vem muito mais da prestação de serviço (instalação, suporte), do que da venda da licença ou da copia, por exemplo. Para saber mais sobre o assunto, a Associação APRIL, que atua na promoção e articulação em torno da cultura livre na França, disponibiliza em seu site o “Livrobranco dos modelos econômicos do software livre” (http://www.april.org/livre-blanc-des-modele-economiques-du-logiciel-libre)
4) Software Livre é coisa de comunista que não gosta de direito autoral
Embora boa parte da produção livre se dê no anonimato, o desenvolvimento deste tipo de software só é possível graças ao direito autoral, cujo ganho é mensurado dentro de outra logica econômica, como visto anteriormente. O nome da marca e a logo de um software (“Ubuntu”, por exemplo) pertence ao desenvolvedor, mas seu uso para o criação de novas versões semelhantes pode ser negociado (“Ubuntu-fr”, por exemplo). De toda forma, distribuição do software livre (modificado ou não) não é uma imposição, e o usuário pode realizá-la da maneira que julgar conveniente (inclusive de maneira privada e com fins lucrativos).
5) Formatos de documentos abertos e fechados
Um importante detalhe a se observar ao salvar documentos é o formato (extensãooo, por exemplo .doc para Word e .odt para Br Office). No caso de softwares livres de edição de documentos (imagens, vídeos, textos), a opção preferencial é geralmente um formato aberto, embora também seja oferecida a opção de outros formatos. Nos formatos abertos, os detalhes de fabricação são conhecidos e livremente utilizáveis, o que faz com que o arquivo seja compatível para leitura e modificação em diferentes programas (livres ou não). No caso de formatos fechados, o conteúdo é criptografado de forma que apenas certos programas possam decodificá-lo, causando incompatibilidade entre certos arquivos e programas. (E o que acontece quando você não consegue abrir um arquivo .docx numa versão do Word anterior ao XP ou quando um arquivo criado no OpenOffice é desconfigurado ao ser aberto no Word, ou vice versa). A importância de se prestar atenção neste fator é garantir que o conteúdo destes arquivos estejam acessíveis na posterioridade, caso os programas de formatos fechados não estejam mais acessíveis, seja qual for o motivo. Uma das articulações da APRIL é convencer empresas e administrações de não impor formatos de arquivos (por exemplo resenhas, currículos, portfólios).
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