Era um escritor pouco lido no Brasil, mas sua obra é tributária de um mito também caro ao país: a mestiçagem. Glissant, porém, falava da mestiçagem sem truculência, ao contrário do pensamento brasileiro dominante. Enquanto aqui se auto-elogia a síntese de raças, obscurecendo todos os processos de violência próprios dessa síntese, Glissant fazia, justamente, o contrário: mostrava a complexidade e a falsidade de toda síntese. Mas isso não quer dizer que ele não fosse fascinado pela síntese: ao contrário, era um narrador eloquente da história mestiça do Caribe.
Edouard Glissant era natural Sainte-Marie, na Martinique, mas vivia em Paris há várias décadas. Morreu ontem, em Paris, aos 82 anos. Era poeta, romancista, ensaista e dramaturgo, mas, sobretudo, era um pensador da "créolisation".
Em 1958 recebeu o prestigioso prêmio Renaudot por seu romance La Lézarde. Sua criação literária sempre caminhou junto com uma reflexão militante. Sua obra é profundamente influenciada pela filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari, e suas características literárias mais marcantes eram o uso político da história e da geografia do Caribe associados a um profundo anti-naturalismo. Seus romances deixavam-se orientar por um universo mítico, crítico a todo pitoresco, tão presente em outros escritores do Caribe. Um dos temas recorrentes é a questão do racismo.
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