Via revista Isto é - 06/06/2011, por Fabiana Guedes:
A afirmação feita pelo governador do Pará mostra como o poder público lava as mãos e admite não ter competência para proteger brasileiros marcados de morte por pistoleiros
Na última semana o poder público se esmerou em buscar origens distantes, analisar complexos problemas estruturais e imaginar peculiaridades antropológicas e culturais para explicar uma questão objetiva: por que não consegue dar proteção a ativistas jurados de morte. Um País que, no passado, viu a morte de Chico Mendes e Dorothy Stang e, nos últimos dias, de cinco lideranças ligadas à defesa da Amazônia debruça-se, agora, sobre a discussão de um plano de ação que não merece grande crédito nem das autoridades envolvidas.
Em entrevista à ISTOÉ (leia abaixo), Simão Jatene (PSDB), governador do Pará, Estado recordista em assassinatos e conflitos no campo, se declarou pessimista sobre o futuro. "Tenho uma só certeza: da maneira como essas coisas têm historicamente ocorrido, o final não é feliz," declarou. "Novos assassinatos vão acontecer" disse ele. Na mesma linha de resignação, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, entende que já é um imenso avanço o Brasil ser "o único país do mundo com um programa de proteção aos defensores dos direitos humanos".
A resposta do Estado brasileiro ao faroeste amazônico é pouco mais que retórica. Um grupo interministerial foi criado na segunda-feira 30 para acompanhar a investigação das últimas mortes ocorridas nas regiões de conflito e acelerar ações de regularização de terras. Como o governo se declarou incompetente para dar proteção a uma lista de 165 ativistas jurados de morte por fazendeiros, foi adotada uma solução mambembe. A Polícia Federal foi convocada para proteger os 30 líderes mais vulneráveis. “Seria ilusório dizermos que vamos proteger todas essas pessoas. Não poderia prometer isso ao Brasil,” declarou Maria do Rosário. Ela chega a alegar que “viver permanentemente sobre escolta é uma violação aos direitos humanos”.
Quem vive sob o medo pensa o contrário. A sindicalista de Rondon do Pará, Maria Joel Dias da Costa, 48 anos, desabafa: “Estamos sozinhos nessa luta.” Desde o assassinato de seu marido, o ativista José Dutra da Costa, em 2000, e de outros três amigos nos anos seguintes, ela sabe que pode ser a próxima vítima. Seu nome consta na lista dos “marcados para morrer” elaborada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e entregue ao poder público. Mas Maria segue desamparada. A garantia de sua vida parece ser uma impossibilidade administrativa.Comentário do blog:
O recrudescimento da violência no Pará, tanto no campo como na região metropolitana de Belém (14 assassinatos em 24 horas) comprova o que os paraenses conhecem de melhor do pior do modus tucanus de governar: o descaso com a segurança pública. Aos que afirmam que o governo do PT fez pouco pela segurança pública é preciso lembrar que, na verdade, muito foi feito: muito para recuperar o estado de inanição da segurança depois de doze anos de tucanato. Coisas que a imprensa nunca divulgou, simplesmente porque não quis. Agora, novamente no poder, Jatene dá, mais uma vez, provas de sua precária visão de mundo. De seu precário senso de governante: Julga que nada pode, que nada deve fazer. Cede face às "fatalidades". Considera a violência uma batalha perdida. Nada mais deplorável do que um gestor público "lavar as mãos".
Comentários
O que é mais preocupante é que esse governo só completou 6 meses, quantos mais morrerão até o final deste quatro sombrios anos?
Comentários sucintos:
1. Eu sempre disse que o jatene é incompetente, além de outras "virtudes", até piores;
2. Ninguém quer ouvir ...
3. O secretariado, exceto pouquíssimos titulares, é um bando (em todos os sentidos) de apedeutas, tal qual o chefe;
3. Num país sério essa declaração infeliz e burra, provocaria a imediata queda do governador;
4. Um chefe da casa civil como o zenaldo, educação como o nilson, etc., ninguém merece. pior só o punguista flexa;
5. Outro exemplo de despreparo é a questão da lei kandir. o jatene já falou tanta besteira sobre a lei kandir, e se diz economista e professor. coitados dos economistas e professores com este exemplo. a maior perda de arrecadação do estado não é a lei kandir, mas sim os recursos mal aplicados e festejados com cerpa.
Há tanta coisa a falar, mas não tenho tempo.
Nem sei se tu vais publicar, não queres te comprometer, eu sei.
Mas tá dito.
Cê tem razão...
Vi, o deputado publicou a matéria da Istó É no seu blog e comentou o assunto. Ele pergunta: O que é isso, Jatene? Ecoemos Bordalo. Alguém tem que se indignar com isso.
É, e isso custa caro aos cofres públicos: mesada-jornal, mesada-jornalista, mesada-radialista, mesada-publicitário. Tudo isso custa muito caro, mas é isso que se entende por "fazer comunicação". Esse esquema permite que não se faça mais nada, transformando falsas notícias em verdade e omitindo os fatos duros de uma realidade sem governo. Tudo isso é muito decepcionante, muito frustrante para quem acredita numa comunicação equilibrada e para quem acredita que ocupar cargos públicos constitui um compromisso com a justiça social. Imagino o que não vai acontecer no restante do governo Jatene. Que tempos sombrios, como você diz, nos aguardam...
Bom, está publicado. Tenho compromissos com esse debate e não me afasto dele. Em razão de outros compromissos profissionais, não posso estar aqui no blog com maior frequência e discutir todas as muitas fraquezas de quie o governo Jatene está dando provas, mas faço o possível. Concordo com vc em todas as questões colocadas e o blog está sempre aberto. Todos queremos um Pará melhor e uma política mais competente, vamos tocando.
Sou o das 10:45.
Obrigado pelo retorno e a publicação.
Você é um jovam brilhante e pode dar uma contribuição enorme nesses assuntos, e outros, pois tem credibilidade.
Eu já cansei de falar e escrever.
Tenho nojo dos políticos. Com pouquíssimas exceções são todos gatunos, canalhas. Você sabe disso.
O meu anonimato, que eu não gosto, tem motivo sério para existir.
Um dia eu conto ...
Um abraço
Concordo com a sua observação sobre o Jatene, que vai na mesma linha do secretario de saúde de Belém - não me recordo o nome agora - o qual afirmou que muita gente ainda vai morrer nos PSM's... como se não tivesse nada a ver com isso. Mas justiça seja feita, a afirmação da Maria do Rosário também soa como uma lavagem de mãos.
Alan
Essa atitude de lavar as mãos é absurda. Tem gente morrendo e nós vamos perdendo nossa capacidade de indignação. Eles foram eleitos para que, afinal?
Grande abraço!