Começo a publicar o texto "Os temas da identidade e da cultura no debate sobre a divisão do Pará" em formato de posts. O texto, na íntegra, pode ser acessado aqui.
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Os temas da identidade e da cultura
no debate sobre a divisão do Pará
Fábio Fonseca de Castro
I. A proposta do texto
O campo discursivo aberto com o debate sobre a divisão do Pará leva a refletir sobre dois conceitos, ou noções, que, ainda que possam ser abordadas cientificamente, quando recorremos às ciências sociais, também são coerentes no senso comum e nas representações que a população, em geral, elabora a respeito de sua realidade e de sua vida cotidiana. Essas duas noções são enunciadas por meio das palavras cultura e identidade.
Elas estão presentes de maneira ostensiva nos discursos pró e contra a divisão do Pará. É curioso perceber como elas servem para explanar e para justificar os argumentos de todos os lados do debate e, ainda, para contra-argumentar em relação aos discursos oponentes. As mesmas palavras! O que demonstra, na verdade, que são conceitos polissêmicos, cheios e ricos de significação e, mais que isso, noções verdadeiramente centrais para a vida das sociedades atuais. Não que não tivessem importância em outras épocas, não que tenham mais importância em nossa época e não que sua riqueza polissêmica seja característica dos tempos atuais, mas, simplesmente porque, na contemporaneidade, possuem formas características. Formas peculiares e, objetivamente falando, hodiernas, próprias de um impulso de autorepresentação, de autosignificação discursiva que é central para nosso tempo, paradoxalmente globalizado, no qual parece sobreexistir em nossa mente um conflito fundamental entre duas forças antagônicas: a pulsão em direção à uma sociedade globalizada e o reavivamento das identidades regionais e locais.
Caminharemos, neste artigo, em direção a esse problema, observando como essas duas palavras substancializam os discursos pró e contra a divisão do Pará, conformando-se como representações sociais em curso, plenas de significação na conjuntura do debate sobre a divisão do estado. Identificaremos, em seguida, o que seria o “núcleo central” dessas representações sociais, ou seja, o nódulo tensional que, por meio delas, presentifica, temporaliza, a oposição superior do confronto global/local no contexto específico do debate observado.
Porfim, discutiremos o próprio debate público que vem acontecendo, procurando encontrar uma posição, para o Pará, na sociedade global, com suas tensões e contradições referentes à dimensão política dos temas da cultura e da identidade. Continua
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