Continuação do texto
A segunda forma discursiva tomada pelos defensores do Pará grande, pauta um Pará multicultural e diverso, o que resulta numa percepção mais aberta do que seja a cultura. A princípio, trata-se de uma percepção interessante, ao menos do meu ponto de vista, mas é preciso ter um projeto para isso. Um projeto de sociedade, um projeto de história. E, o que é bem difícil, mas fundamental, um projeto que, necessariamente, seja construído coletiva e democraticamente.
E aqui caímos num problema perigoso da retórica – ou seja, do discurso vazio de significado verdadeiro e pleno de estratégia de fala que são, evidentemente, estratégias de poder. Além disso, esse corpo discursivo, em geral, não possui um projeto de cultura, ou melhor, de política cultural, que lhe dê consistência.
Há uma outra dimensão, ainda, a observar: a presença do tema da identidade no debate sobre a divisão do Pará.
Quando se fala não em cultura, mas em identidade, tem-se a construção de um viés discursivo peculiar, que precisa ser observado separadamente.
Identidade não é a mesma coisa que cultura. O senso comum vê a identidade como o centro molecular da cultura. A cultura existe porque a identidade existe. Um argumento que funciona perfeitamente ao contrário: a identidade existe porque a cultura existe. Logo mais vamos enfrentar essa questão, que, na verdade, como veremos, carece de coerência; mas, por hora, vejamos como o tema da identidade se torna importante para o debate sobre a divisão.
Continua
Comentários