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Os temas da identidade e da cultura no debate sobre a divisão do Pará 9

Continuação do texto


Mas, por que conto essa história aqui? Por que as observações de Godelier nos levam a compreender que a cultura não é algo, digamos assim, transcendental, ou mais precisamente, que a cultura não se deve a uma experiência social estruturante.
Que quer isso dizer? Sejamos mais específicos: que a cultura não é o resultado, simplesmente, de uma acumulação simbólica – do tipo “a construção dos padrões do incesto e do parentesco” – ou, tampouco, de uma síntese econômica meramente conjuntural – do tipo “a necessidade de acesso aos recursos define a conquista do território”.
No caso dos baruya se observa que, apesar dos laços simbólicos do sangue, das trocas matrimoniais e da história comum, com todos os seus significantes, os iguais mataram os iguais, e sem nenhum indício de que o tenham feito no contexto de uma disputa por acesso aos meios de produção, nem no primeiro e nem no segundo massacre que estão na origem da sua história.
Godelier situa a noção de cultura nesse difícil nexo entre o simbólico e o político: no ponto preciso em que estabelece um vínculo de co-necessidade entre indivíduos que, por meio de vínculos, justamente, se sentem iguais (Godelier 2009: 29). Um vínculo útil? Não só. Ele também é simbólico e se produz como um doar-se solidário. Um vínculo simbólico e histórico, então? Não só, pois é também econômico.

Continua

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