Pular para o conteúdo principal

Notas sobre Vaclav Havel, eterno dissidente, que acabou de morrer

Morreu hoje de manhã, em Praga, o dramaturgo e antigo presidente da Tchecoslováquia, Vaclav Havel. Enfraquecido há cinco meses por uma infecção pulmonar galopante, o artesão da "Revolução de veludo", um dos mais interessantes processos de ruptura com o comunismo soviético, chefe de Estado de seu país entre 1989 à 2003, tinha 75 anos de idade.


A "Revolução de veludo" de Havel pôs fim, sem violência, ao antigo regime totalitário tcheco. Havel pilotou a democratização de seu país e tentou, sem êxito, evitar o processo da sua divisão de criação de dois estados distintos - a República Tcheca e a Eslováquia. Também pilotou a entrada dos dois países na Otan e na Comunidade Européia.

Havel tinha inegáveis raízes burguesas, e por isso, foi privado de estudos, numa espécie de condenação educacional, pelo estado totalitário onde nasceu, em 1936. Sua família era proprietária de estúdios de cinema e de dezenas de imóveis em Praga, tudo tomado e desapropriado pelo regime comunista.

Autodidata, Havel chegou ao teatro; primeiramente como contra-regras, depois como auxiliar técnico e, porfim, como autor. Foi um grande nome do teatro do absurdo. Em 1968 teve um papel ativo durante a "Primavera de Praga", e se recusou a partir para o exílio, quando a rebelião foi derrotada. Foi nesse momento que escreveu a Carta 77, evocando os direitos políticos do Homem.

Esse engajamento condenou-o a quatro anos de prisão, período no qual escreveu as célebres Carta a Olga - sua primeira esposa. Eleito magistrado, se lançou num luta pelos direitos humanos que o levou a várias partes do mundo, de Cuba à Birmânia. Em 2006, afastado da vida pública por sua frágil saúde, retornou ao mundo das letras, publicando suas memórias políticas e produzindo vários textos novos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

Solicitei meu descredenciamento do Ppgcom

Tomei ontem, junto com a professora Alda Costa, uma decisão difícil, mas necessária: solicitar nosso descredenciamento do Programa de pós-graduação em comunicação da UFPA. Há coisas que não são negociáveis, em nome do bom senso, do respeito e da ética. Para usar a expressão de Kant, tenho meus "imperativos categóricos". Não negocio com o absurdo. Reproduzo abaixo, para quem quiser ler o documento em que exponho minhas razões: Utilizamo-nos deste para informar, ao colegiado do Ppgcom, que declinamos da nossa eleição para coordená-lo. Ato contínuo, solicitamos nosso imediato descredenciamento do programa.     Se aceitamos ocupar a coordenação do programa foi para criar uma alternativa ao autoritarismo do projeto que lá está. Oferecemos nosso nome para coordená-lo com o objetivo de reverter a situação de hostilidade em relação à Faculdade de Comunicação e para estabelecer patamares de cooperação, por meio de trabalhos integrados, em grupos e projetos de pesquisa, capazes de...

Comentário sobre o Ministério das Relações Exteriores do governo Lula

Já se sabe que o retorno de Lula à chefia do Estado brasileiro constitui um evento maior do cenário global. E não apenas porque significa a implosão da política externa criminosa, perigosa e constrangedora de Bolsonaro. Também porque significa o retorno de um player maior no mundo multilateral. O papel de Lula e de sua diplomacia são reconhecidos globalmente e, como se sabe, eles projetam o Brasil como um país central na geopolítica mundial, notadamente em torno da construção de um Estado-agente de negociação, capaz de mediar conflitos potenciais e de construir cenas de pragmatismo que interrompem escaladas geopolíticas perigosas.  Esse papel é bem reconhecido internacionalmente e é por isso que foi muito significativa a presença, na posse de Lula, de um número de representantes oficiais estrangeiros quatro vezes superior àquele havido na posse de seu antecessor.  Lembremos, por exemplo, da capa e da reportagem de 14 páginas publicados pela revista britânica The Economist , em...