Devemos acreditar na globalização ou iniciar numa desmundialização?
Edgar Morin : A competição é uma coisa natural, mas a competitividade leva as empresas a substituirem trabalhadores por máquinas e a oprimi-los com novos constrangimentos. A exploração econômica contra a qual os sindicatos lutavam foi superada por uma nova alienação, ditada por padrões de produtividade e eficiência. É necessário uma política de humanização da economia desumanizada. Também é preciso retomar um controle humano, ético e político sobre a ciência. No que diz respeito à globalização pode-se, certamente, saudar seus efeitos sobre a integração econômica de países periféricos e sobre a melhorar da qualidade de vida de países subdesenvolvidos. Nesse sentido a deslocalização pode ter desempenhado um papel útil.
Porém, face aos excessos de deslocalização e à desertificação do nosso setor industrial, há medidas de proteção a serem tomadas. Portanto, devemos tanto globalizar como desglobalizar. Valorizar o que a globalização traz de bom, como a cooperação, os intercâmbios frutuosos de culturas e a construção de um projeto de destino comum, mas, também, proteger o planeta de seus efeitos nocivos, encorajando a agricultura de subsistência e protegendo as autonomias locais.
François Hollande : Estes debates tem marcado a vida política e econômica. Eles surgem sob novas condições: evolução técnica, o próprio capitalismo está passando por uma transformação, mas as mesmas perguntas e os mesmos desafios sempre retornam. O papel da política é o de determinar os limites e desafios do progresso científico. A ética não se baseia apenas em convicções pessoais: é preciso definir exatamente o que é possível e o que não é. E essa decisão não deve ser confiada a uma elite, mas para todos os cidadãos.
A globalização não é uma lei da física! Ela é uma construção política. O que alguns homens decidiram construir, outros podem decidir mudar. A política deve intervir para lutar contra a economia de cassino e a especulação financeira, para preservar a dignidade dos trabalhadores e garantir a concorrência com base em normas ambientais e sociais.
O trabalho não é um valor da direita, mas valor cidadão: o direito ao trabalho, aliás, é reconhecido pela Constituição. Ele garante uma renda, um lugar na sociedade, uma relação com os outros.
O período atual é o de excesso: excesso de compensação, de lucro, de pobreza, de desigualdade. O papel da política é a luta contra os excessos, os riscos, as ameaças. A política serve para reduzir as incertezas. Precisamos humanizá-la ou vamos perder nosso sentido de produção, de troca, de negociação. Precisamos também de unidade, de nos unir em torno de grandes valores - mas essa unidade não deve esmagar a diversidade. É preciso sermos justos, e, ao mesmo tempo, darmos provas de justiça e equidade. Devemos tanto inspirar confiança como aumentar nossa confiança nas pessoas e nas suas habilidades.
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