Pular para o conteúdo principal

Eleições na França 36: Edgar Morin e François Hollande. Trechos de uma conversa 2



Devemos acreditar na globalização ou iniciar numa desmundialização?

Edgar Morin : A competição é uma coisa natural, mas a competitividade leva as empresas a substituirem trabalhadores por máquinas e a oprimi-los com novos constrangimentos. A exploração econômica contra a qual os sindicatos lutavam foi superada por uma nova alienação, ditada por padrões de produtividade e eficiência. É necessário uma política de humanização da economia desumanizada. Também é preciso retomar um controle humano, ético e político sobre a ciência. No que diz respeito à globalização pode-se, certamente, saudar seus efeitos sobre a integração econômica de países periféricos e sobre a melhorar da qualidade de vida de países subdesenvolvidos. Nesse sentido a deslocalização pode ter desempenhado um papel útil.

Porém, face aos excessos de deslocalização e à desertificação do nosso setor industrial, há medidas de proteção a serem tomadas. Portanto, devemos tanto globalizar como desglobalizar. Valorizar o que a globalização traz de bom, como a cooperação, os intercâmbios frutuosos de culturas e a construção de um projeto de destino comum, mas, também, proteger o planeta de seus efeitos nocivos, encorajando a agricultura de subsistência e protegendo as autonomias locais. 

François Hollande : Estes debates tem marcado a vida política e econômica. Eles surgem sob novas condições: evolução técnica, o próprio capitalismo está passando por uma transformação, mas as mesmas perguntas e os mesmos desafios sempre retornam. O papel da política é o de determinar os limites e desafios do progresso científico. A ética não se baseia apenas em convicções pessoais: é preciso definir exatamente o que é possível e o que não é. E essa decisão não deve ser confiada a uma elite, mas para todos os cidadãos.
A globalização não é uma lei da física! Ela é uma construção política. O que alguns homens decidiram construir, outros podem decidir mudar. A política deve intervir para lutar contra a economia de cassino e a especulação financeira, para preservar a dignidade dos trabalhadores e garantir a concorrência com base em normas ambientais e sociais.
O trabalho não é um valor da direita, mas valor cidadão: o direito ao trabalho, aliás, é reconhecido pela Constituição. Ele garante uma renda, um lugar na sociedade, uma relação com os outros.

O período atual é o de excesso: excesso de compensação, de lucro, de pobreza, de desigualdade. O papel da política é a luta contra os excessos, os riscos, as ameaças. A política serve para reduzir as incertezas. Precisamos humanizá-la ou vamos perder nosso sentido de produção, de troca, de negociação. Precisamos também de unidade, de nos unir em torno de grandes valores - mas essa unidade não deve esmagar a diversidade. É preciso sermos justos, e, ao mesmo tempo, darmos provas de justiça e equidade. Devemos tanto inspirar confiança como aumentar nossa confiança nas pessoas e nas suas habilidades.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de

Leilão de Belo Monte adiado

No Valor Econômico de hoje, Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, informa que o leilão das obras de Belo Monte, inicialmente previsto para 21 de dezembro, será adiado para o começo de 2010. A razão seria a demora na licença prévia, conferida pelo Ibama. Belo monte vai gerar 11,2 mil megawatts (MW) e começa a funcionar, parcialmente, em 2014.

Ariano Suassuna e os computadores

“ Dizem que eu não gosto de computadores. Eu digo que eles é que não gostam de mim. Querem ver? Fui escrever meu nome completo: Ariano Vilar Suassuna. O computador tem uma espécie de sistema que rejeita as palavras quando acha que elas estão erradas e sugere o que, no entender dele, computador, seria o certo   Pois bem, quando escrevi Ariano, ele aceitou normalmente. Quando eu escrevi Vilar, ele rejeitou e sugeriu que fosse substituída por Vilão. E quando eu escrevi Suassuna, não sei se pela quantidade de “s”, o computador rejeitou e substituiu por “Assassino”. Então, vejam, não sou eu que não gosto de computadores, eles é que não gostam de mim. ”