Pular para o conteúdo principal

Diário de Bordo 33


Dia difícil que chega ao fim. Acordei cedo, mas mais tarde do que devia e, sem tomar café, apressei-me para a reunião na ufpa. Reunião pesada, lenta, gordurosa. Interrompida para que me chamassem ao telefone, para avisar que meu pai sentia-se mal: É sobre o estado de saúde do seu pai, dizia o recado. Marina resolveu o problema, chamou os médicos, arejou os ares, indagou da enfermeira o caso preciso. Meus irmãos estão fora de Belém esta semana e, na minha casa, meu pai prossegue mal, muito mal. Meus três gatos o observam, revesando-se na curiosidade que possuem. Terminada a reunião, discutimos meu pedido de saída para o pós-doutorado. Me irrita, profundamente, toda tentativa de manipulação de informações. Todo o ridículo dos mal-ditos de corredores. Isso estraga meu dia, acumulando o ranço angustiante da saúde do meu pai. Para completar, minha cunhada telefona e narra a história de uma moça que acabou de morrer, de câncer, aos 21 anos, deixando três filhos, de 4, 2 anos e um de 6 meses. Era empregada doméstica e as crianças estão na casa de sua irmã, também ela empregada doméstica. Meu irmão telefona. Madame Charland envia um email com um monte de tarefas a a dar conta, visando o pos-doc. A tarde, preparo-me para viajar para Macapá. Passarei o dia de amanhã em Macapá. Talvez não. Telefonam no começo da noite avisando que estou na lista de espera. Terei de esperar o vôo das 21h. Ou então o das 03h, o que der. Uma longa, longa noite, me espera. Pausa. Vou, volto e embarco para Santarém. Estou penando em como serão cheios os próximos dias. Estou aqui no areoporto, esperando eternamente. Todos em Macapá estão voltando de suas férias. Não tem lugar para mim no avião. Vou esperar o próximo vôo. Quem sabe terei sorte. Umas duas horas de espera. Começo a sentir uma obtusa vontade de tomar uma fanta uva, mas isso seria comovente demais, se não fosse demais ridículo. Ligo para casa. Meu pai está dormindo e os gatos o observam num revesamento ritual.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Eleições para a reitoria da UFPA continuam muito mal

O Conselho Universitário (Consun) da UFPA foi repentinamente convocado, ontem, para uma reunião extraordinária que tem por objetivo discutir o processo eleitoral da sucessão do Prof. Carlos Maneschy na Reitoria. Todos sabemos que a razão disso é a renúncia do Reitor para disputar um cargo público – motivo legítimo, sem dúvida alguma, mas que lança a UFPA num momento de turbulência em ano que já está exaustivo em função dos semestres acumulados pela greve. Acho muito interessante quando a universidade fornece quadros para a política. Há experiências boas e más nesse sentido, mas de qualquer forma isso é muito importante e saudável. Penso, igualmente, que o Prof. Maneschy tem condições muito boas para realizar uma disputa de alto nível e, sendo eleito, ser um excelente prefeito ou parlamentar – não estou ainda bem informado a respeito de qual cargo pretende disputar. Não obstante, em minha compreensão, não é correto submeter a agenda da UFPA à agenda de um projeto específico. A de...

Solicitei meu descredenciamento do Ppgcom

Tomei ontem, junto com a professora Alda Costa, uma decisão difícil, mas necessária: solicitar nosso descredenciamento do Programa de pós-graduação em comunicação da UFPA. Há coisas que não são negociáveis, em nome do bom senso, do respeito e da ética. Para usar a expressão de Kant, tenho meus "imperativos categóricos". Não negocio com o absurdo. Reproduzo abaixo, para quem quiser ler o documento em que exponho minhas razões: Utilizamo-nos deste para informar, ao colegiado do Ppgcom, que declinamos da nossa eleição para coordená-lo. Ato contínuo, solicitamos nosso imediato descredenciamento do programa.     Se aceitamos ocupar a coordenação do programa foi para criar uma alternativa ao autoritarismo do projeto que lá está. Oferecemos nosso nome para coordená-lo com o objetivo de reverter a situação de hostilidade em relação à Faculdade de Comunicação e para estabelecer patamares de cooperação, por meio de trabalhos integrados, em grupos e projetos de pesquisa, capazes de...

Comentário sobre o Ministério das Relações Exteriores do governo Lula

Já se sabe que o retorno de Lula à chefia do Estado brasileiro constitui um evento maior do cenário global. E não apenas porque significa a implosão da política externa criminosa, perigosa e constrangedora de Bolsonaro. Também porque significa o retorno de um player maior no mundo multilateral. O papel de Lula e de sua diplomacia são reconhecidos globalmente e, como se sabe, eles projetam o Brasil como um país central na geopolítica mundial, notadamente em torno da construção de um Estado-agente de negociação, capaz de mediar conflitos potenciais e de construir cenas de pragmatismo que interrompem escaladas geopolíticas perigosas.  Esse papel é bem reconhecido internacionalmente e é por isso que foi muito significativa a presença, na posse de Lula, de um número de representantes oficiais estrangeiros quatro vezes superior àquele havido na posse de seu antecessor.  Lembremos, por exemplo, da capa e da reportagem de 14 páginas publicados pela revista britânica The Economist , em...