Dia difícil que chega ao fim.
Acordei cedo, mas mais tarde do que devia e, sem tomar café, apressei-me para a
reunião na ufpa. Reunião pesada, lenta, gordurosa. Interrompida para que me
chamassem ao telefone, para avisar que meu pai sentia-se mal: É sobre o estado
de saúde do seu pai, dizia o recado. Marina resolveu o problema, chamou os
médicos, arejou os ares, indagou da enfermeira o caso preciso. Meus irmãos
estão fora de Belém esta semana e, na minha casa, meu pai prossegue mal, muito mal.
Meus três gatos o observam, revesando-se na curiosidade que possuem. Terminada
a reunião, discutimos meu pedido de saída para o pós-doutorado. Me irrita,
profundamente, toda tentativa de manipulação de informações. Todo o ridículo
dos mal-ditos de corredores. Isso estraga meu dia, acumulando o ranço
angustiante da saúde do meu pai. Para completar, minha cunhada telefona e narra
a história de uma moça que acabou de morrer, de câncer, aos 21 anos, deixando
três filhos, de 4, 2 anos e um de 6 meses. Era empregada doméstica e as
crianças estão na casa de sua irmã, também ela empregada doméstica. Meu irmão
telefona. Madame Charland envia um email com um monte de tarefas a a dar conta,
visando o pos-doc. A tarde, preparo-me para viajar para Macapá. Passarei o dia
de amanhã em Macapá. Talvez não. Telefonam no começo da noite avisando que
estou na lista de espera. Terei de esperar o vôo das 21h. Ou então o das 03h, o
que der. Uma longa, longa noite, me espera. Pausa. Vou, volto e embarco para
Santarém. Estou penando em como serão cheios os próximos dias. Estou aqui no
areoporto, esperando eternamente. Todos em Macapá estão voltando de suas férias.
Não tem lugar para mim no avião. Vou esperar o próximo vôo. Quem sabe terei
sorte. Umas duas horas de espera. Começo a sentir uma obtusa vontade de tomar
uma fanta uva, mas isso seria comovente demais, se não fosse demais ridículo. Ligo
para casa. Meu pai está dormindo e os gatos o observam num revesamento ritual.
Tomei ontem, junto com a professora Alda Costa, uma decisão difícil, mas necessária: solicitar nosso descredenciamento do Programa de pós-graduação em comunicação da UFPA. Há coisas que não são negociáveis, em nome do bom senso, do respeito e da ética. Para usar a expressão de Kant, tenho meus "imperativos categóricos". Não negocio com o absurdo. Reproduzo abaixo, para quem quiser ler o documento em que exponho minhas razões: Utilizamo-nos deste para informar, ao colegiado do Ppgcom, que declinamos da nossa eleição para coordená-lo. Ato contínuo, solicitamos nosso imediato descredenciamento do programa. Se aceitamos ocupar a coordenação do programa foi para criar uma alternativa ao autoritarismo do projeto que lá está. Oferecemos nosso nome para coordená-lo com o objetivo de reverter a situação de hostilidade em relação à Faculdade de Comunicação e para estabelecer patamares de cooperação, por meio de trabalhos integrados, em grupos e projetos de pesquisa, capazes de...
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