Enquanto prossegue a greve nas universidades federais e o debate sobre a educação, em geral, tende a ser - mais uma vez - um dos temas importantes das campanhas municipais deste ano, a França começa a enfrentar um problema grave a falta de candidatos às vagas de professores, em seu sistema de ensino básico e médio.
É o que diz um editorial publicado ontem no Le Monde.
Uma França sem "profs"? - pergunta o jornal, lembranmdo que o país, desde a reforma do ensino, em 1872, "foi construído, principalmente, por seus professores".
Os números que motivam a indagação são os seguintes: dos 4.847 postos abertos em 2012 na educação nacional, cerca de 15% ficaram sem ser preenchidos. E foi ainda pior no ano passado, que teve uma taxa de 20% de não preenchimento.
Num país que pode ser considerado um dos que mais investe em educação no planeta, num país onde a sala de aula é, talvez, a principal mitologia da identidade nacional, sacralizada pela literatura, pelo cinema e por, enfim, toda a mitologia pátria existente, esses dados são espantosos.
Além disso, cabe lembrar, também, que a atual taxa de desemprego de jovens é de 22%, uma das mais elevadas dos últimos 100 anos.
As causas desses processo restam a serem investigadas. Certamente há razões econômicas. Talvez, também, razões político-sociais, decorrentes do grande "divórcio nacional" - a expressão é da campanha política socialista - causado pelos anos do governo Sarkozy.
As razões econômicas decorrem da não atualização da remuneração dos professores há cinco anos - a culpa a Sarkozy: um professor recém entrado na carreira que tenha formação de mestre (quase todos os candidatos a têm) ganha 1.580 euros por mês - ou 3.927,88 reais. Em dez anos, não possuindo um doutorado, ele estará ganhando 1.900 euros/mês - 4.723,40 reais.
Ainda que a vida na França tenha vantagens que inexistem no Brasil, como escola gratuita, saúde pública de qualidade mediante o pagamento de uma pequena taxa anual e as "alocações familiares", ou seja, dinheiro que o governo lhe dá para ajudar a pagar o aluguel, comprar material escolar para os livros e outras coisas assim, é possível dizer que essa salário é baixo, diante do custo de vida no país, principalmente aqueles referentes à habitação.
Para se ter uma comparação, o aluguel de um apartamento de 40 m2 em Paris está custando uns 2.000 euros, no barato.
Além disso, esse salário, em seu valor nominal, é inferior aos salários pagos a professores primários e secundários nos EUA, Japão e na maioria dos outros países da Comunidade Européia.
Mas então... não se dizia, acima, que a França é um dos países que, tradicionalmente, é "feito" por professores?, um dos países que mais investem em educação no planeta? Então, como é isso?
Bom, de fato, a França é o país europeu que possui maiores gastos com alunos "por cabeça" no ensino médio.e destina à compra de livros, alimentação, material didático e equipamento escolar. Não alcança, por determinação de Sarkozy, o salário dos docentes.
Um exemplo: há classes de 50 diferentes línguas oferecidas como 2a e 3a opção de estudos. Aqui temos inglês e espanhol, não é isso? Lá tem 50 línguas, inclusiva línguas como latim e grego antigo, sendo que o estudos de duas, dessas 50 línguas, são obrigatórias a todos os alunos. É claro que essas turmas de línguas não estão presentes em todas as escolas - elas distribuem-se entre as escolas - mas mesmo assim se pode imaginar o custo da manutenção desses sistema, com produção de conteúdos didáticos e livros. Isso é só um exemplo, mas ajuda a compreender a variedade dos custos na educação francesa.
François Hollande elegeu a educação e a juventude como seu principal compromisso. Vamos ver o que acontece a seguir.
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