A eleição de Geraldo Julio (PSB) para a prefeitura do Recife
é um caso interessante não apenas para a ciência política mas, também, para a
comunicação política. É uma aula de como eleger sucessores políticos que não
afetam a marca do líder. Explico: como se sabe, são dois os tipos-ideais da
política: o político que cuida de pessoas e o político que é um bom gestor.
Eduardo Campos "cuida de pessoas", mas também é um bom gestor. Seu bom trabalho
político permite uma boa comunicação política. Para mim a boa comunicação política depende, radicalmente, da boa ação política. Se não, é um caso para o marketing político (e não para a comunicação política) resolver.
Nesta eleição, Campos conseguiu eleger
um desconhecido outorgando a ele a tarefa de ser um bom gestor e indiretamente,
sugerindo que, com isso, terá mais tempo ainda para cuidar de pessoas.
Os caminhos dessa construção política foram arriscados, mas
demonstraram maestria de Campos: afastou-se do grande aliado Lula para se
aproximar de um adversário histórico, Jarbas Vasconcelos (PMDB). Nesse
movimento, abriu espaço para o crescimento do azarão Daniel Coelho (PSDB), que
ficou na segunda colocação, com 27,65% dos votos.
Geraldo Julio era desconhecido. Nunca havia disputado uma
eleição e iniciou com 4% das intenções de voto. Conseguiu se eleger no primeiro
turno com 51,15% dos votos válidos, quebrando uma hegemonia de 12 anos de
governos petistas na cidade.
Seu perfil é o do técnico, ao mesmo tempo responsável e inovador. Aos 42
anos, sua carreira na política sempre se deu à sombra da gestão de Campos:
entre 2005 e 2006 atuou no Ministério da Ciência e Tecnologia, quando Eduardo
Campos foi ministro. Em 2007, assumiu a secretaria de Planejamento e Gestão do
governo de Pernambuco. No primeiro mandato de Eduardo, foi também gestor do
Pacto pela Vida, o programa estadual de enfrentamento à violência que conseguiu
reduzir o número de homicídios no Recife. No ano passado, assumiu a Secretaria
Estadual de Desenvolvimento Econômico e a presidência do Porto de Suape. Na
propaganda eleitoral, o candidato foi vendido como o grande nome da gestão,
responsável por atrair grandes investimentos para Pernambuco. Eduardo Campos
o classificava como o "principal artilheiro do seu time." Com fraca
desenvoltura nos primeiros debates eleitorais, Geraldo foi se soltando ao longo
da disputa e conseguiu conquistar grande parte do eleitorado petista.
É interessante como o escolhido de Campos reproduz o modelo vitorioso do PT em São Paulo, tanto com Haddad, na capital, como com Márcio Porchmann, em Campinas. Muito curioso. Sinal, talvez, de que o eleitor anda querendo mais projeto, mais competência técnica...
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